Entrevista/ 5 questões a Afonso Vieira, fundador da Ecoceno
Pôr fim ao desperdício através do seu serviço de embalagens reutilizáveis é a missão da Ecoceno. Afonso Vieira, o seu fundador, lembra que “o mundo em que vivemos evolui a uma velocidade tão rápida que quem não estiver constantemente a atualizar-se é ultrapassado num abrir e fechar de olhos”.
No início deste mês, a Ecoceno foi uma das start-ups vencedoras da edição de 2022 do From Start-to-Table, concretamente na categoria Tecnologia para Restauração. Apresenta uma alternativa “sustentável, conveniente e mais económica às embalagens de utilização única, permitindo evitar as taxas que lhes estão associadas”. Através das suas embalagens reutilizáveis, o utilizador pode desfrutar das suas refeições sem se preocupar nem com o desperdício, nem com a carteira.
A Ecoceno é desenvolvida e operada pela Embal, fabricante de embalagens alimentares em Vila Nova de Gaia, com os apoios da Sociedade Ponto Verde e do Ministério do Ambiente, através do Fundo Ambiental. Contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade do futuro, responsável e sustentável é o seu objetivo.
Afonso Vieira, o fundador do projeto, partilha a sua opinião sobre o que é para si a inovação, as competências fundamentais para exercer liderança ou ainda sobre quais os erros que as start-ups nunca devem cometer.
O que é para si inovação?
Gosto de pensar em inovação como a arte de se resolver problemas estruturais e/ou mudar comportamentos. Algo inovador responde àquela pergunta retórica que várias vezes nos fazemos: “Como é que eu (ou ninguém) nunca tinha pensado nisto (ou feito isto)?”.
Qual a competência fundamental para exercer a liderança nos dias de hoje?
Quando penso em liderança e em alguns exemplos de líderes, vejo dois grandes traços comuns: bom senso e vontade de fazer mais e melhor. Aqui estou a considerar liderança e líderes “naturais”, sem o serem devido a alguma imposição, hierarquia ou obrigação.
Para eu seguir alguém, deverá ser uma pessoa que tem um conhecimento mínimo do que fala ou faz, capaz de ter opiniões próprias, mas, ao mesmo tempo, ter a sabedoria para compreender que o conhecimento é infinito, a memória falível, e que estamos sempre a aprender, mesmo nos campos onde já nos consideramos especialistas. O que me leva à vontade de fazer mais e melhor.
Simplesmente não consigo “seguir” alguém que se acomode e coloque um travão na procura por aprender. O mundo em que vivemos evolui a uma velocidade tão rápida que quem não estiver constantemente a atualizar-se é ultrapassado num abrir e fechar de olhos.
Uma ideia que gostava de implementar?
Neste momento estou a trabalhar na Ecoceno, um serviço de embalagens reutilizáveis para o setor alimentar que venceu na categoria de Tecnologia para Restauração da 5.ª edição do programa de aceleração da Startup Lisboa para negócios do setor alimentar e da restauração, o From Start-to-Table.
Diria que é uma ideia que dará pano para mangas. Não só porque estamos a começar numa parte muito específica do setor alimentar (takeaway), mas também porque existe todo um mundo de possibilidades sobre que caminho a tomar depois de “resolver” este setor. A indústria do packaging é enorme, super impactante a nível ambiental, com imensas questões por resolver.
Fora deste espectro, gostava de trabalhar numa operação auto-sustentável relacionada com indoor farming. Quando digo auto-sustentável refiro-me a não precisar de nenhum input externo, ou seja, captar e tratar a água requerida, gerar e armazenar a energia necessária, produzir e reciclar o solo, etc..
Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Existem vários tipos ou fontes de investimento, seja através de apoios públicos, de clientes ou parceiros de negócio, de venture capital ou de muitas outras formas (crowdfunding, crowdequity, etc). Para se atrair algo, penso que é necessário perceber-se como funciona o poder de decisão do lado que queremos atrair, o que os move e o que procuram.
Para atrair um investimento “meramente” financeiro, penso que o fundamental estará relacionado com o racional (e a confiança que o investidor tem nesse racional) sobre como é que 1€ do investidor se tornarão em 2€ no futuro (e em que futuro, mais próximo ou mais longínquo). Para apoios públicos, não obstante a importância da sustentabilidade financeira da start-up, um impacto sócio-ambiental (muito) positivo pode ser um factor chave.
Erros que as start-ups nunca devem cometer?
Ter medo de errar. Poderia responder coisas como contratar a pessoa errada, demorar demasiado tempo a chegar ao mercado ou ficar sem recursos financeiros. Mas penso que, à partida, uma start-up deve estar confortável em errar. Não ao ponto de cometer erros a torto e a direito (aqui o bom senso ajuda). Mas confortável com o ambiente dinâmico que envolve a start-up.
É normal contratar-se pessoas erradas (não é propriamente uma pessoa errada, o fit entre a pessoa e a start-up é que não existe), aperfeiçoar um novo produto ou serviço ao ponto de se demorar mais uns meses a chegar ao mercado, ou mesmo ter de fazer um jogo de cintura financeiro que às vezes parece impossível. E por isso penso que é preciso estar-se confortável em aceitar que isso vai acontecer, para que quando realmente acontece, a resposta ser a melhor: aprender com os erros e garantir que não voltam a acontecer; ou, se acontecerem, os danos estão mais controlados e os prejuízos são menos relevantes.