Opinião
3 frases erradas sobre competitividade digital
Recentemente, ouvi duas frases ditas por líderes empresariais e uma terceira referida por um comentador económico, sobre a transformação e estratégia digital, que confirma algumas menos boas perspetivas quanto à capacidade do tecido empresarial português criar as condições adequadas para ser competitivo no futuro próximo.
A primeira frase foi “Isso do digital vale mesmo a pena?”. Quando a ouvi ainda pensei que estivesse a brincar, mas verifiquei que tinha sido uma questão genuína. Ora, esta frase denota duas coisas: uma clara falha de compreensão estratégica do atual mundo empresarial e uma provável falha na criação de mecanismos de sucessão de liderança da empresa.
A segunda frase foi “De transformação digital percebo eu!”. Este altruísmo demonstrado poderia ser de facto positivo, contudo e depois de alguma análise, entendi que a razão base dessa assertividade se prendia com o reforço do orçamento dado às equipas de Tecnologias de Informação, reconhecendo a utilidade da tecnologia na modernização e competitividade da empresa. Contudo, quando questionado sobre qual seria a estratégia digital que tinha para a empresa, clarificou-se a visão. O que estava em causa era garantir a renovação do parque informático da empresa e a atualização das máquinas de produção na fábrica, isto é, uma ínfima parte do que é uma estratégia digital. Na realidade é uma estratégia típica de muitas organizações quando não se sabe ultrapassar o problema: despejar dinheiro para cima do problema e esperar que “a coisa” passe.
A terceira frase que ouvi, desta vez dita por um comentador económico de renome da praça, foi “É crítico digitalizarmos as empresas”. Acrescentando logo a seguir que “as empresas necessitam de ter novas aplicações para serem mais competitivas”. Neste caso, a base das frases não está totalmente errada, mas de facto tornou evidente ao longo da conversa que se continua a falar muito de Digitalização e não de Transformação Digital. Que se continua a falar de aplicações e não de processos. O que está embrenhado nas massas cinzentas de muitas lideranças e consultorias estratégicas é a necessidade de instalar tecnologia para dentro da organização, para gáudio de fornecedores tecnológicos, sem se olhar de facto aos processos de negócio e à requalificação dos colaboradores das empresas.
Estas três frases são três pequenos exemplos da necessidade de requalificar não só os operacionais das empresas, mas também os líderes e decisores empresariais. De nada valerá a um país ou a uma empresa investimentos, quando não há uma sensibilidade e entendimento da importância de criação de estratégias de negócio e transformação digital de quem lidera. Não havendo esta sensibilidade, não haverá certamente visão digital para reconhecer um caminho realista e competitivo necessário ao mundo empresarial que está já presente hoje e que será ainda mais disruptivo no mercado no médio prazo.
Por isso, lanço o desafio a todos os gestores e decisores empresariais: criem dinâmicas de atualização digital pessoal e das equipas de topo das suas organizações. Através de formações, sejam elas mais executivas ou mais académicas! Assumam que formar digitalmente não é um ato único de aprender Word e Excel, nem garantir que os seus colaboradores sabem interagir com plataformas informáticas.
Entendam que liderar hoje é liderar com Estratégias de Transformação Digital, as quais assentam em quatro pilares fundamentais: gestão de clientes e efeito de rede criado, criação de novos modelos de negócio digital, compreender o ciclo de vida da gestão de dados e compreensão do novo valor dado e percecionado.
Liderar no mercado neste século é ter competitividade digital, compreendo que esta liderança é um alvo em movimento contínuo e rápido, o qual carece de afinação contínua e focada!