Entrevista/ “2023 ficará marcado por mais um importante passo na globalização da marca Aralab”

“Depois de uma forte presença em quatro continentes – Europa, Ásia, Africa e Oceânia -, este ano a Aralab iniciará o processo de abordagem ao mercado norte-americano”, revelou Luís Branco, administrador da empresa portuguesa de produção e distribuição de câmaras climáticas.
Registou, em 2022, o melhor ano de atividade de sempre, após aumentar as vendas em 15%, para cerca de 16 milhões de euros. Em 2023, a Aralab, fabricante portuguesa de câmaras climáticas, vai investir 15 milhões de euros numa nova unidade industrial, em Sintra, e iniciar uma nova fase de expansão internacional, com novos mercados na mira, como o norte-americano.
Fruto da sua estratégia comercial, a Aralab reforçou, no ano passado, a sua presença em países como Espanha, Suécia ou Reino Unido e instalou câmaras, pela primeira vez, em países como Quénia, Vietname ou Burquina-Faso, alargando a sua influência no mundo. Em termos de setores, a Aralab continua a servir áreas essenciais para a sociedade, como energia, veículos elétricos ou farmacêutica e saúde.
Criada por dois irmãos, ambos engenheiros, João e Eduardo Araújo, a empresa 100% portuguesa e especializada no fabrico e distribuição de câmaras climáticas capazes de simular qualquer clima, começou a sua atividade em 1985.
Quais têm sido os grandes desafios para a Aralab?
Desde o início da atividade da Aralab, há 38 anos, que os desafios são constantes. A conquista de novos clientes e novos mercados, o lançamento de novos produtos, cada vez mais competitivos e inovadores, a consolidação dos processos e a seleção e retenção de colaboradores qualificados, empenhados e motivados para atingir os objetivos da empresa encontram-se entre os principais desafios que a Aralab tem enfrentado ao longo da sua existência.
Ainda assim, nos últimos meses e anos, o que mais condicionou a atividade da empresa e desafiou a Administração, foi, sem dúvida, a pandemia da Covid-19, o cenário de incerteza na economia mundial, com um grave problema inflacionista e o conflito armado no leste europeu que ainda hoje nos coloca perante um cenário imprevisível que não sabemos como e quando irá terminar. A pandemia da Covid-19 trouxe-nos as dificuldades de acessos a matérias-primas e materiais que necessitamos de incorporar nos nossos equipamentos, como por exemplo ventiladores, placas eletrónicas, touch screen, entre outros. Trouxe-nos, também, dificuldades logísticas ao nível do aprovisionamento de materiais e escoamento do produto final, a impossibilidade de viajar, de contactar clientes e de instalar equipamentos. Foram tempos que nunca tínhamos vivido e que foram um grande desafio para toda a empresa.
Atualmente, a espiral inflacionista que conhecemos, que levou a um aumento de taxas de juro e abrandamento nos consumos de bens de investimento, tem sido também um problema que temos procurado solucionar com procura de novos mercados, novos clientes e novas aplicações, em que as câmaras climáticas que fabricamos têm um papel crucial.
“(…) a venda de câmaras climáticas para a indústria farmacêutica, com um crescimento superior a 50%, acabou por ser um dos segmentos de mercado que contribuiu de forma muito positiva para o aumento das vendas globais da Aralab”.
A que se devem os resultados de crescimento do último ano?
Em 2022, tivemos um crescimento de vendas de 15%, tendo superado, pela primeira vez, a fasquia dos 16 milhões de euros. Estes excelentes resultados fizeram com que 2022 fosse o melhor ano de atividade da Aralab. Para este resultado muito contribuiu o ganho de quota em mercados clientes como o espanhol, o alemão, o inglês e os mercados nórdicos, mas também o desempenho alcançado em alguns países asiáticos, como, por exemplo, Singapura.
Ao nível dos produtos, a crescente utilização de sistemas de bombas de calor em uso doméstico fez aumentar significativamente o volume de ensaios deste equipamento o que se veio a revelar muito interessante para a Aralab, pois este nicho de mercado aumentou o seu peso nas vendas da empresa, tendo multiplicado por cinco o número de câmaras climáticas vendidas para este tipo de aplicação. Também a venda de câmaras climáticas para a indústria farmacêutica, com um crescimento superior a 50%, acabou por ser um dos segmentos de mercado que contribuiu de forma muito positiva para o aumento das vendas globais da Aralab. Verificámos, também, um aumento muito acentuado nas vendas de câmaras climáticas para o estudo de plantas.
Qual o país que mais pesa na faturação da empresa?
O mercado europeu por razões históricas, geográficas, de regulamentação e de capacidade de investimento é o mercado onde as câmaras climáticas da Aralab têm maior penetração. Deste modo, nos primeiros cinco mercados de destino dos equipamentos climáticos fabricados pela Aralab, encontramos países como a Espanha, Alemanha, Portugal, Reino Unido e Suécia. Este conjunto de países receberam mais de 70% dos equipamentos que vendemos.
Além desta região geográfica, salientam-se também alguns mercados asiáticos, como é o caso de Singapura e China, e alguns mercados do Médio Oriente.
Qual a área que mais solicita os vossos serviços?
As câmaras climáticas fabricadas pela Aralab reproduzem as condições do clima existente no meio ambiente, temperatura, humidade, luz, ventilação, entre outros, que impactam na durabilidade, resistência e mesmo produção de vários produtos, destinando-se deste modo a três grandes áreas de atividade. Desde logo a área da biotecnologia, principal segmento de atividade da empresa, para investigação em plantas, em algas marítimas ou insetos, possibilitando que os investigadores possam reproduzir numa câmara climática as variáveis ambientais necessárias para os trabalhos de investigação e desenvolvimento que realizam.
O segundo segmento de atividade com mais peso nas vendas da empresa é a área da indústria, de um modo transversal, passando pela indústria automóvel, eletrónica, energia, aeronáutica, até aos materiais de construção. Todos estes sectores de atividade tem uma necessidade transversal, que é ensaiar o que produzem e fabricam a diferentes condições de temperatura, humidade ou luz, que são exatamente as variáveis que as câmaras climáticas fabricadas pela Aralab reproduzem no seu interior.
Um terceiro segmento de mercado, em que as câmaras que fabricamos têm muita utilização é a área da farmacêutica, pois os estudos de estabilidade, processo que ajuda a determinar o prazo de validade dos medicamentos, são realizados a diferentes condições de temperatura e humidade, sendo estas duas das variáveis ambientais que a Aralab reproduz nas suas câmaras.
“O tipo de equipamentos que mais produzimos e vendemos são as câmaras climáticas para investigação na área das plantas”.
Qual o produto estrela da empresa?
O tipo de equipamentos que mais produzimos e vendemos são as câmaras climáticas para investigação na área das plantas. A crescente necessidade de estudar a produtividade e comportamento de várias espécies vegetais, quer as que entram no consumo humano, mas também as outras de fileiras muito importantes, como é o caso da área florestal, fazem deste produto o mais vendido um pouco por todo o mundo, desde a Austrália até ao Chile, passando pelo continente asiático, europeu e africano.
Vão iniciar uma nova fase de expansão internacional. Quais os mercados que estão na mira da empresa?
2023 ficará marcado por mais um importante passo na globalização da marca Aralab. Depois de uma forte presença em quatro continentes – Europa, Ásia, Africa e Oceânia – este ano a Aralab iniciará o processo de abordagem ao mercado norte americano. O facto de os Estados Unidos e o Canadá serem mercados com regulamentos e certificações especificas fez com que só agora, cerca de 12 anos depois de iniciar o seu processo de internacionalização, a Aralab esteja preparada para abordar aquele que é o mercado onde se utilizam mais câmaras climáticas, onde existe mais concorrência, mas onde estamos convictos de que iremos ser bem-sucedidos.
O processo de penetração nestes países já está em marcha, e no passado mês de março a Aralab esteve presente na primeira feira nos Estados Unidos, de onde regressamos com resultados muito animadores, pois os nossos equipamentos foram bem acolhidos. Neste momento, estamos a estudar quais os melhores canais comerciais para fazer chegar as câmaras climáticas produzidas na Aralab ao país. Já no segundo semestre do ano dar-se-á continuidade a este processo com mais presença no mercado, com uma comunicação mais abrangente que permita à Aralab ganhar notoriedade e começar a realizar vendas de câmaras climáticas.
Quais os planos da empresa para este ano?
Além do processo de abordagem ao mercado norte americano, 2023 será o ano em que a Aralab dará início ao processo de construção de uma nova unidade industrial no concelho de Sintra. Este investimento, muito significativo, aproximadamente 15 milhões de euros, permitirá à empresa assegurar a capacidade de produção para os próximos anos e, simultaneamente, introduzir novos processos de fabrico, mais atuais e ajustados a necessidades de clientes cada vez mais exigentes, não só em termos de produto, mas também em questões ambientais e de sustentabilidade empresarial. A nova unidade industrial reforçará as nossas competências, terá uma grande preocupação ambiental e criará as melhores condições possíveis para os nossos colaboradores poderem desenvolver a sua atividade.
“Nos últimos anos o esforço da empresa em I&D é de aproximadamente 3% das vendas, o que para uma média é algo que nos orgulha”.
E em que áreas da empresa tem havido mais investimento?
A Aralab como fabricante de equipamentos tem investido muito em inovação, processos de fabrico, comunicação e na procura de novos talentos. Um dos vetores que sempre esteve presente nos 38 anos de história da empresa foi a inovação. A empresa sempre quis ter das melhores câmaras climáticas e, por isso, a inovação é um dos valores que mais prezamos, procurando manter sempre equipamentos de uma qualidade elevada.
Nos últimos anos o esforço da empresa em I&D é de aproximadamente 3% das vendas, o que para uma média é algo que nos orgulha. Este trabalho de inovação tem sido feito pelas nossas equipas de engenharia, mas também com parcerias com universidades e centros de conhecimento que felizmente o nosso país possui e que estão disponíveis para trabalhar, lado a lado, com as empresas. A implementação de novos processos de fabrico, em conjunto com empresas locais, parceiras da Aralab, tem permitido à empresa focar-se no que a diferencia: o sistema de controlo e software das câmaras climáticas.
Simultaneamente, tem sido também realizado um investimento significativo em comunicação e marketing que nos tem permitido aumentar a notoriedade da nossa marca e conquistar novos mercados e novos clientes. Por último, mas o mais importante, temos feito um investimento contínuo na procura de novos talentos, selecionando e contratando recursos humanos qualificados, que queiram integrar um projeto internacional e aos quais tentamos dar as melhores condições possíveis, capacitando-os para podermos continuar a competir com empresas alemãs, espanholas, italianas ou de outras origens.
Como vê o Aralab daqui a cinco anos?
O crescimento que temos tido e o excelente trabalho que toda a equipa tem realizado permitem-nos olhar com otimismo para o futuro e acreditar que nos próximos cinco anos a Aralab reforçará a sua posição no mercado global das câmaras climáticas. A Aralab quer ser uma referência neste mercado e ser reconhecida pela qualidade das suas câmaras climáticas, mas mantendo sempre a filosofia e os valores que têm estado bem presentes desde que os irmãos João e o Eduardo Araújo a criaram. Uma empresa focada nos clientes, que procura ter a melhor solução para cada uma das suas necessidades, que acrescenta valor à sociedade em áreas tão importantes como a biotecnologia, a farmacêutica ou a energia, mas que, ao mesmo tempo, se mantém como uma empresa portuguesa, onde uma nova geração descendente dos fundadores dará continuidade ao negócio, e onde os colaboradores se sentem integrados e realizados.
Se conseguirmos atingir estes objetivos estamos certos de que a Aralab poderá atingir um crescimento muito interessante nos próximos anos e que continuará a produzir câmaras climáticas de elevada qualidade, em Portugal, e a vendê-las um pouco por todo o mundo.
“(…) os próximos desafios passam por reforçar a presença nos mercados, evoluindo no processo de internacionalização, passando de exportadores a investidores, com estruturas próprias em alguns mercados”.
Planos/projetos para o futuro da empresa?
Depois do trabalho realizado nos últimos anos, que permitiu dar a conhecer a Aralab ao mundo, os próximos desafios passam por reforçar a presença nos mercados, evoluindo no processo de internacionalização, passando de exportadores a investidores, com estruturas próprias em alguns mercados. Tencionamos continuar a ter equipamentos diferenciados, investir cada vez mais em inovação e procurar novas aplicações para a utilização das câmaras climáticas, como, por exemplo, a produção de vegetais em ambiente controlado, produzidos junto do local do consumo e com mais qualidade, de modo que a nossa sociedade possa dar resposta a um problema de disponibilidade de produtos vegetais para consumo na nossa alimentação.
Respostas rápidas (1 frase):
O maior risco: A incerteza da situação económica internacional, que dificulta a elaboração de planos de negócio e leva a um reajuste constante dos mesmos.
O maior erro: Não estar preparado para tudo. Devemos ter sempre um plano A, B, C que nos dê a segurança para que, se algo falhar, sabermos o que fazer e para onde redirecionar os nossos esforços.
A maior lição: Nunca darmos nada por adquirido. Um gestor tem de estar sempre a monitorizar as diferentes vertentes do seu negócio e a sua envolvente externa, pois a qualquer momento acontecem situações que não controlamos e impactam significativamente a nossa atividade.
A maior conquista: Ter o mercado alemão, o mais consumidor e concorrencial de câmaras climáticas na Europa, como um dos principais mercados de destino dos equipamentos fabricados pela Aralab.