Opinião

Liderança? O verdadeiro sentido de liderar

Manuel Pelágio, professor, formador e coach na área da liderança

A liderança está definitivamente na moda. Nunca se falou tanto em liderança. Por isso precisa de ser melhor compreendida.

Liderança é para todos e não só para alguns. “Gasta-se” a palavra nas inúmeras promoções de eventos, cursos, formações e workshops, sendo que é utilizada inúmeras vezes, como um significado de poder, de uma emoção silenciosa, do ego, ou de um sonho e esperança do executivo se sentir reconhecido ou idolatrado por inúmeras pessoas da equipa, organização ou país.

Liderança não é um posto, não é um nome, não é uma posição. Liderar não é só para líderes, chefes e diretores. A liderança pertence a todos os seres humanos, pertence à vida, às equipa e às organizações.

Liderar é uma forma de estar e viver. Aprende-se em ambiente social e não de uma forma individual. Não no teatro da imaginação mas na vida real. Requer tempo, atitude e serviço. Consistência e resiliência no caminho de evolução, de executivo a líder.

Não é determinística, a liderança é complexa. É arte pessoal e social, construída no processo individual e profissional, no espaço da vida ou da organização.

Lidera melhor quem consegue viver melhor consigo e com os outros. Coopera mais quem mais facilmente se relaciona com os outros. O sentido da liderança é o sentido maior da humanidade, de todos poderem viver e trabalhar melhor, em conjunto.

Confunde-se liderança com posição e por isso muitos colaboradores que assumem uma posição de chefia, confundem liderança, influenciar, com função, operacionalizar. Confundem ranking com posicionamento pessoal. Responder hierarquicamente a quem manda é uma coisa, seguir é outra.

A ambição do executivo de ter pessoas a segui-lo, com o objetivo de controlar, tira magnetismo pessoal e carisma à sua “liderança”. Ser um mestre, guru, chefe, de pessoas e de uma equipa, organização ou país com milhares de pessoas, interfere no seu ego.

Nesta forma de estar, o executivo confunde a verdadeira essência da liderança e esbate a probabilidade de se apresentar na diferença da sua individualidade. A sua normalidade na unanimidade da sociedade, resulta na mediocridade do seu próprio estilo de liderança.

O processo de liderança é um caminho árduo. Entrelaça-se com o processo de identidade de cada profissional, com a sua própria vida e com o seu ciclo de interação consigo e com os outros.

Um executivo com um nível elevado de autoconsciência desenvolve a probabilidade de ter um estilo de liderança mais harmónico, mais humanista, mais real e menos tóxico para todos os colaboradores.

Alguém que se vê como líder, não o sendo, é altamente prejudicial para o bem-estar e performance da empresa. Um “pseudo líder“ é pior que um mau líder.

Infelizmente, a aprendizagem da liderança está mal enquadrada nos currículos da gestão. Confunde-se o ensino da liderança com o de gestão. Liderança e gestão requerem competências e capacidades muito diferentes.

Gerir pessoas não é a mesma coisa do que gerir uma organização. Um executivo licenciado em gestão não fica automaticamente capacitado para liderar pessoas.

Na liderança, quem quer ser “Primeiro”, tem primeiro de aprender a ser “Segundo”. Isso obriga a um conhecimento pessoal e social, que não se obtém através das cadeiras de finanças, marketing, contabilidade, ou de gestão de recursos humanos. O “certificado em liderança” recebe-se dos outros e não se conquista individualmente.

As matérias de estudo e de aprendizagem da liderança são diversificadas e multidisciplinares, não compartimentadas na estética da moralidade mas profundamente enraizadas na ética da essência humana.

Deixo este tema em aberto para uma próxima conversa convosco.

Food for thoughts
“Onde queres chegar como executivo? E como ser humano?

 

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