Opinião
Lidera como uma mãe
O André Fontes tem um artigo muito bom, que tem repostado, de título “Queres um bom líder? Contrata uma mãe que adore a sua profissão”.
No contexto do que o André escreveu vou tentar reforçar também com mais pontos de vista. Não apenas o ponto de vista da mãe mas, numa lógica mais lata, o ponto de vista da parentalidade.
Robin Landa, Professora da universidade de Kean, Irlanda, refere que a verdadeira liderança transcende muito as noções mais convencionais e os estereótipos e tipologias de liderança que se têm vindo a desenhar e escrever em publicações ao longo do tempo. Em vez disso, esta professora engloba na liderança características tipicamente associadas a um comportamento maternal (de forma mais lata, parental). Com o Dia da Mãe a ter ocorrido no primeiro domingo de Maio, em Portugal, e no segundo domingo de Maio no Brasil, bem como numa boa parte dos países do mundo, e porque hoje é 13 de Maio, altura em que escrevo, aqui ficam os seis princípios orientadores para a liderança como um boa mãe ou um bom pai (assentes sempre no conceito de boa parentalidade):
- Reconhece os outros
A paternidade frequentemente traz a revelação de que cada um de nós deixou de ser o ponto focal da nossa existência. Seja porque ponderamos sobre necessidades pessoais versus as de uma criança seja porque deliberamos mais sobre prioridades financeiras, a mudança para uma preocupação externa emerge como crucial. Da mesma forma, uma liderança eficaz exige uma mudança de foco para aqueles que estão sob tua responsabilidade. A transição exclusiva das aspirações pessoais para a defesa das necessidades da tua equipa fomenta um ambiente muitíssimo mais acolhedor.
- Sintoniza-te
Na linha do reconhecimento e abordagem ao estado emocional de uma criança, a liderança eficaz depende do entrosamento interpessoal—estar sincronizado com os sentimentos dos membros da tua equipa. Essa consciência promove uma comunicação fluida, mais colaboração e faz emergir a confiança. Negligenciar este aspeto destrói a tua liderança. Ao contrário, enfatizar a sintonização como necessidade, chama à colação as perspetivas e circunstâncias alheias.
- Escolhe a integridade
Um marco óbvio da paternidade tem de passar por incutir valores éticos, refletidos na conduta profissional. Manter a integridade, mesmo perante os desafios, não apenas cultiva uma cultura de confiança, mas aumenta, também, a satisfação no trabalho. Abraçar o caminho ético serve como uma base sólida para a liderança, garantindo apoio consistente e benefícios para todos.
- Evita a micro-gestão
Assim como a paternidade envolve estimular a independência, a liderança eficaz necessita capacitar as pessoas para trabalharem de forma autónoma, incentivando a emergência de forças diversas e ideias novas, intervindo apenas quando necessário e questionando-te sobre os modos preferidos de apoio. A micro-gestão sufoca a criatividade individual e mina as alianças colaborativas e, ao contrário, afastando-a, eleva a importância de promover autonomia dentro das equipas.
- Comunica claramente
Seja porque delineamos as expectativas para uma criança, para uma sala de aula (e de alunos, e aqui falo também com outra experiência comparável a uma segunda parentalidade) ou a uma equipa, a comunicação clara é crucial para o alcance de objetivos. Articular objetivos de forma sucinta e delinear resultados desejados antes dos compromissos facilita o alinhamento e o entendimento. A comunicação eficaz serve como um farol orientador, garantindo clareza e direção para empreendimentos complexos.
- Sê benevolente, pelo menos q.b.
Refletindo sobre a influência maternal, percebe-se o impacto profundo das ações altruístas no crescimento pessoal e profissional. Seja no papel de mãe, pai ou líder, garantir ou até priorizar o bem-estar dos outros estabelece as bases para relacionamentos duradouros e contribuições significativas. Defender princípios de compaixão e altruísmo promove uma cultura de respeito mútuo e avanço coletivo. E, ao contrário do que possas pensar, não é uma lógica piegas.
Robin Landa foi instada a partilhar uma lição aprendida com a sua mãe ao ser entrevistada recentemente por um jornalista. Não a reproduzo. Prefiro partilhar uma lição que a minha mãe me ensinou desde pequeno e que vem num texto publicado por mim no Observador, designado a minha mãe em 10 lições (e fui buscar à minha mãe a lição número nove porque a considero fundamental na criação de tudo, na gestão de tudo, na convergência de tudo e de toda a construção). E a lição era esta (deve ser lida em sentido lato):
Olha sempre para o mundo à procura, em tudo o que vês, de um sentido estético. Tudo tem um sentido estético. Os olhos veem o mundo. Os olhos apreciam o mundo. Os olhos são capazes de distinguir e avaliar o sentido estético de tudo o que te rodeia – mas é preciso treino, muito treino. Na pintura, nas cidades, no campo, nas praias, na decoração, na forma como te vestes ou apresentas. Na maneira como escreves. “E a forma, meu filho, é muito importante”. É tantas vezes isso, conjuntamente com a cor, que torna possível a beleza do mundo em que vives.
Se eu transpuser a forma, a lado positivo do que encontro noutros e a cor e o desenho dos seus mundos, encontrarei muito mais coisas boas que aspetos negativos. E esta é uma lição que me fica para a vida. E que aproveita muito para os seis tópicos de Robin Landa. Lidera, pois, como uma mãe.