Opinião
Winning the start-up game

O panorama europeu de capital de risco, investimentos e start-ups foi alvo, num passado muito recente, de um crescimento fantástico. Só em 2021, surgiram 98 novos unicórnios e foram investidos mais de $100B, o que equivale a um crescimento de 159% face a 2020[1]. Valores record!
No entanto, a realidade de muitas start-ups não condiz com este progresso. Cerca de nove em cada dez destas empresas “morrem” sem alcançar os objetivos a que se tinham proposto[2]. É crítico compreender os mecanismos por detrás deste insucesso, mas é também muitíssimo importante encontrar e promover estratégias para combater a insuficiência de conhecimento e recursos que se verifica e que muitas vezes está por detrás do fracasso. É assim que surgem as incubadoras, e, mais recentemente, as aceleradoras, que se têm vindo a revelar o veículo ideal para facilitar o desenvolvimento das start-ups nas suas fases mais primordiais[3].
Muito embora o ecossistema europeu esteja de facto a avançar, é também necessário pô-lo em perspetiva face a outros, mais maduros, como é o caso do americano. Sabemos que a população da primeira região excede a da segunda em mais de 100 milhões. Ainda assim, o número de start-ups que todos os anos surgem na Europa (52 mil[4]) é brutalmente inferior ao número que vemos nascer nos Estados Unidos (900 mil[5]). Esta diferença de output propaga-se por todo o ecossistema, para trás e para a frente do momento da criação – e eventual sucesso – da start-up: no ponto de partida, o número de incubadoras e aceleradoras por milhão de habitantes é mais do dobro nos EUA (dois na Europa para cinco na América[6]); na reta final, o número de unicórnios americanos (647 no total em 2021[7]) – e respetiva valuation agregada – é quase quatro vezes superior ao que se verifica na Europa (165 no total em 2021[8]).
Qual pode (e deve!), então, ser a nossa ação enquanto investigadores, empreendedores, gestores, VCs e decisores políticos no sentido de manter e garantir a sustentabilidade do crescimento do ecossistema europeu de start-ups?
Fomos investigar. Recolhemos dados sobre 4497 start-ups e 216 aceleradoras europeias a partir de um algoritmo e com acesso a dois dos agregadores de dados sobre start-ups e investimentos mais respeitados – Crunchbase e F6S. A esta informação juntámos centenas de horas de pesquisa online e entrevistas para completar a base de dados.
Com o dataset final, cuja dimensão rivaliza o do estudo americano que inspirou os modelos estatísticos que aplicámos ao mesmo[9], chegámos a duas conclusões principais: (1) as características do desenho das aceleradoras têm impacto sobre os indicadores de performance das start-ups aceleradas; e (2) as aceleradoras bem desenhadas – de acordo com um modelo que propomos – demonstram um desempenho melhor (valuations consistentemente mais altas e mais investimento levantado) do que aquelas que vão de encontro desse mesmo modelo.
Em suma, devemos promover a criação de iniciativas que estimulem os três verticais que o ecossistema europeu precisa de exercitar: a educação, através do ensino do empreendedorismo a começar pelos mais jovens, mas sem esquecer os founders; a comunidade, que é principalmente regional, dividida e sem diversidade; e o investimento, que é lento, pouco e muitas vezes não considera o futuro do projeto.
Este é o primeiro estudo europeu com uma amostra relevante e que é capaz de auxiliar os gestores a aumentar as suas hipóteses de sucesso e o alcance dos seus programas de aceleração. Pode ser lido na integra em masters.policarponogueira.com. O futuro é promissor e o crescimento já não é uma miragem. É, ainda assim, necessário considerar as metodologias analíticas e a estatística para ter uma hipótese de ganhar o jogo das start-ups.
*Vencedor do prémio da melhor tese de mestrado atribuído pelo Centro de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo da CATOLICA-LISBON
[1] State of European Tech 2021
[2] Nobel, Carmen. 2011. “Why Companies Fail—and How Their Founders Can Bounce Back.”
[3] Hackett, Sean M. and David M. Dilts. 2004. “A Systematic Review of Business Incubation Research.”
[4] Hoekman, Jan. 2020. “Estimating the number of startups in Europe”
[5] Peterson Institute for International Economics. 2021. “Startups boom in the United States during COVID-19”
[6] Fonte: Crunchbase
[7] Fonte: CB Insights
[8] Fonte: Crunchbase
[9] Cohen et al. 2019. “The Design of Startup Accelerators.”