Mais de metade dos unicórnios da área da saúde não tem provas daquilo que vende

A próxima Theranos pode estar perto de ser desvendada. Um novo estudo indica que mais de metade das start-ups unicórnio na área de healthtech não tem provas concretas para apoiar aquilo que vende.

Mesmo depois do escândalo da Theranos, uma start-up de Silicon Valley que prometia mudar para sempre as análises de sangue e que chegou a ser avaliada em perto de oito mil milhões de euros, parece que os fundadores de projetos de saúde com base tecnológica não mudaram a sua forma de atuar no setor e que os investidores de capital de risco continuam a injetar milhões de dólares neste tipo de projetos sem fazerem as análises devidas à tecnologia em que estão a apostar.

Um estudo recente publicado no European Journal of Clinical Investigation mostra que mesmo com apenas algumas, ou nenhumas, investigações cientificas levadas a cabo por entidades independentes, houve dezenas de start-ups a levantar quantidades astronómicas de capital.

A investigação olhou para as start-ups de healthtech de Silicon Valley que atingiram uma avaliação igual ou superior a mil milhões de dólares, ou seja, os chamados unicórnio – atualmente, existem 30 start-ups com este estatuto a operar nesta área.

Surpreendentemente (ou não), segundo a investigação, mais de metade dos projetos averiguados falharam na apresentação de provas científicas rigorosas daquilo que vendem – sejam produtos ou serviços. Em vez de se apoiarem neste tipo de argumentos, os mais de 50% dos fundadores inseridos neste estudo preferem suportar as suas ideias com base em estudos internos que estão livres do escrutínio de especialistas, algo a que John Ioannidis, um dos investigadores deste estudo, intitula de “investigação furtiva”.

De acordo com o novo estudo, existe também a possibilidade de vermos os próximos grandes escândalos emergirem brevemente – à medida que os investidores começarem a perceber que o dinheiro que injetaram nas start-ups pode nunca ser devolvido. Os investigadores não fizeram uma listagem precisa de quais são as empresas que não têm argumentos científicos para apoiar a sua tecnologia.

No entanto, este estudo voltou a apontar o foco para a facilidade com que este tipo de start-ups consegue recolher capital sem apresentar grandes estudos que sustentem a tecnologia vendida. No caso da Theranos, Elizabeth Holmes, fundadora do projeto, conseguiu manter a mentira até a empresa atingir uma avaliação de oito mil milhões de euros.

Parte do problema que se vive na área das start-ups de saúde prende-se com a visão dos empreendedores. Especialistas adiantam que os criadores de start-ups olham para a saúde da mesma forma que o fazem para outras áreas. E que este é o principal problema. A ideia “Move Fast and Break Things” (mover-se rapidamente e partir coisas) evangelizada pelas start-ups de Silicon Valley não se adequa ao universo da saúde, onde têm de ser feitas pesquisas e testes rigorosos antes de ser lançado qualquer tipo de produto.

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