Opinião

Todos somos influencers!

Susana Duro, Senior Marketing Manager na Coca-Cola Europacific Partners

Temos assistido nos últimos tempos a uma grande mudança na forma como as marcas comunicam com o seu público-alvo. As redes sociais e as plataformas de streaming foram dois dos grandes responsáveis por esta mudança.

Quantos de nós ainda vêm anúncios na televisão? Quantos de nós ainda compram revistas ou jornais impressos? Mas por outro lado, quantos de nós fazem scroling no Instagram, Facebook, tik tok, etc?

As redes sociais tornaram-se um meio privilegiado para as marcas comunicarem com a sua audiência com inúmeras vantagens face aos meios tradicionais. Neste contexto nasce o Influencer Marketing ou Marketing de Influência que rapidamente se tornou uma forma muito popular e eficaz para promover bens e serviços. Em parceria com influencers, que tenham um número significativo de seguidores leais, as empresas podem chegar a uma vasta audiência, targetizada, e construir notoriedade e credibilidade para as suas marcas.

A parceria com influencers ajuda as marcas a construir relações de confiança com o seu público-alvo. Esta estratégia permite às marcas promover os seus produtos e serviços de uma forma mais autêntica enquanto cria um sentido de comunidade e partilha de experiências.

Cada vez mais os consumidores, principalmente as gerações mais jovens, procuram recomendações nas redes sociais para as suas compras. A maior parte dos consumidores confia nas recomendações dos amigos, família e nos seus ídolos, poucos confiam nas marcas. Os consumidores identificam-se com determinadas personalidades (mais ou menos famosas) que seguem online e criam fortes ligações mesmo sem as conhecer pessoalmente.

Milhões de pessoas gostam de ver os influencers que seguem a preparar o pequeno-almoço, a passear o cão, a praticar desporto, nas compras, etc. O ser humano gosta de ver as fotos perfeitas dos seus ídolos no Pinterest, mas adoram espreitar a sua vida real!

Temos assistido a um enorme crescimento do Marketing de Influência e a tendência é que continue a crescer a dois dígitos. Quando uma estrela do cinema faz um anúncio a um creme de rosto na TV ou numa revista, as vendas podem subir, mas os resultados serão difíceis de avaliar e não serão imediatos. Os influencers, por outro lado, conseguem gerar vendas imediatas através dos links diretos que têm nas suas páginas de social media.

O sucesso do Marketing de Influência é fruto do envolvimento, credibilidade, confiança que os influencers constroem com os seus seguidores. Se os influencers gostarem genuinamente do produto os seus seguidores irão certamente sentir e querer experimentar.

Com tantos benefícios, o Marketing de Influência está para durar!

No entanto há alguns pontos a ter em consideração ao definir uma estratégia de Marketing de Influência:

  • Devem ser definidos objetivos claros e concretos,
  • Procurar influencers que estejam alinhados com os valores das marcas e que criem conteúdos de qualidade,
  • Verificar a reputação do influencer, não deverão estar envolvidos em qualquer género de controvérsia política ou religiosa…pois poderá danificar a imagem da marca,
  • Os conteúdos publicados pelo influencer deverão ser relevantes para a marca, e os seus seguidores deverão ser o público-alvo da marca,
  • Criar uma ligação pessoal: personalizar o contacto com o influencer para ele próprio personalize os seus posts,
  • Verificar os seguidores, é absolutamente crucial que os seguidores sejam reais e estejam motivados,
  • Estar atento aos micro influencers que tendem a ser vistos como mais autênticos e consequentemente conseguem ser mais eficazes a promover produtos ou serviços, além disto têm custos menores o que gera maior retorno do investimento.

Mas será o Marketing de Influência uma grande novidade dos tempos modernos?  Não é!

Na verdade, nada do que escrevi atrás é novidade ou surpreendente, se pensarmos um pouco mais profundamente neste tema, chegamos à conclusão que sempre lidámos com Marketing de Influência em maior ou menor escala. Desde sempre o ser humano procurou recomendações junto de outros, desde sempre procurou imitar os seus ídolos ou referências.

Basta olhar para o nosso dia a dia:

– Hoje apetecia-me ir almoçar a um bom restaurante de comida tradicional portuguesa! Vou perguntar ao João que conhece, sempre, bons restaurantes.

– Preciso de me inscrever no ginásio, mas qual terá as melhores aulas? Vou falar com a Sónia que está sempre a par das tendências do fitness.

– Preciso mesmo de usar um aparelho dentário, mas nem sei bem a que clinica devo ir. Uma colega do trabalho usa um daqueles invisíveis, vou perguntar onde colocou.

– Ontem experimentei um chocolate espetacular, vou já partilhar com a  Maria que é fã deste tipo de chocolates.

E quantos de nós não fizeram publicações em redes sociais a pedir recomendações, opiniões de produtos ou serviços? Ou a partilhar boas e más experiências que tivemos?

Poderia descrever muitos mais exemplos, mas a realidade é esta: nós procuramos recomendações junto das pessoas que julgamos serem experts naquela área, família, amigos, colegas…valorizamos as suas opiniões porque lhe reconhecemos credibilidade, porque confiamos, porque percebemos que têm experiência e sabem do que estão a falar.

Todos nós somos influencers…em muitos momentos também somos nós a recomendar algo, um livro, um filme, uma viagem, um chocolate, um ginásio, uma escola… e este é o ponto onde quero chegar.

Já vimos que a maior parte das empresas está a fazer um bom trabalho a desenvolver a sua estratégia de Marketing de Influência externo, quer seja a trabalhar com agências quer seja com o contacto direto com os influencers, mas quantas empresas se preocupam com os seus influencers internos?

As empresas estão a investir milhares de euros na promoção dos seus bens ou serviços através de personalidades famosas e zero euros com os seus colaboradores.

Se olharmos novamente para os pontos que descrevi acima para uma estratégia de Marketing de Influência bem sucedida verificamos que os colaboradores das empresas têm os principais requisitos

  • São os que conhecem melhor os produtos e serviços,
  • Estão (ou deveriam estar) alinhados com os valores das marcas,
  • É-lhes reconhecida credibilidade porque têm experiência/conhecimento.

Então porque é que as empresas não potenciam este poderoso meio de promoção? Talvez porque o tenham como um dado adquirido ou talvez porque nunca tenham pensado nisso.

A experiência diz-me que muitos colaboradores não estão minimamente envolvidos com os produtos ou serviços em que trabalham e podem até fazer uma promoção negativa dos mesmos. Se no passado esta promoção negativa poderia ficar restrita ao círculo de familiares e amigos, atualmente já não é bem assim.

Eu trabalho na Coca Cola Europacific Partners e a minha função é (de uma forma resumida) promover as nossas marcas, definir estratégias para conquistar novos consumidores e clientes e consequentemente aumentar a quota de mercado. Agora imaginem o seguinte cenário: no fim de semana vou jantar fora com a minha família e na hora de escolher a bebida peço uma Pepsi (a minha maior concorrente no segmento de Colas) no meio do jantar resolvo tirar uma foto que coloco nas minhas redes sociais (Instagram, Facebook e ainda faço um vídeo com o meu filho para o tik tok) onde apareço toda feliz a jantar com uma Pepsi ao meu lado… todos os meus seguidores (que não são muitos, mas ainda são umas centenas) vão ver a Susana que trabalha na Coca-Cola a publicar uma foto com a bebida da concorrência. Que imagem é que isto passa? Que pensamentos lhes passarão pela mente?

Já estou a imaginar:

– Epá, trabalha na Coca-Cola, mas bebe Pepsi…isso deve querer dizer alguma coisa.

– Ela lá sabe o que é que aquilo tem, para escolher beber outra marca…

Ou imaginem o senhor João que é empregado de mesa num restaurante. Um amigo pergunta-lhe se é um bom restaurante para marcar o jantar de aniversário e ele diz-lhe logo.

– Nem penses nisso, é caro e come-se mal…

Ou o Dr. Miguel que é médico num hospital privado e um amigo pergunta-lhe se recomenda aquele hospital para uma intervenção cirúrgica que necessita de fazer.

– Oh António, eu sei que trabalho lá e nem deveria estar a dizer isto, mas se fosse a ti procurava outra alternativa. Vais pagar uma pequena fortuna e o atendimento não vale o preço. O grupo de enfermagem desse serviço não é nada simpático, fazem tudo a despachar, vais pagar por coisas que nem vais utilizar, enfim, já tivemos dias melhores.

Não devia dizer, mas disse, e o António vai passar palavra…

Os colaboradores das empresas deverão ser os principais embaixadores dos seus produtos ou serviços, é urgente que as empresas olhem para cada um de nós como um micro influencer que tem um papel muito ativo na promoção das marcas.

Isto também requer uma estratégia, também deverão ser definidos objetivos, também deverá ser desenvolvido um plano.

As empresas deverão colocar a seguinte questão: Que mensagem queremos que os nossos colaboradores passem para o seu círculo de influência? E tal como é desenvolvida uma estratégia de comunicação externa, também deverá ser desenvolvida uma estratégia de comunicação interna. Colaboradores envolvidos e leais aos produtos/serviços em que trabalham, que partilhem os valores da empresa, que acreditem na missão da mesma serão uma fonte de promoção muito poderosa, credível e sem investimento.

E aí teríamos o Sr João do restaurante a dizer:

– Claro amigo, terás um jantar de aniversário fantástico, fazemos um menu com entrada, prato, sobremesa e bebidas por um preço especial e ainda te oferecemos o bolo de aniversário. Vais ser muito bem atendido.

E o Dr. Miguel:

– António, não poderias estar em melhores mãos. Temos uma equipa médica e de enfermagem fantástica. Vais ser muito bem tratado, nem parece que vais estar num hospital, parece mais um hotel 5 estrelas.

A família e amigos do aniversariante iriam tirar fotos no jantar que publicariam em várias redes sociais onde não só iriam identificar o restaurante como colocariam comentários a elogiar. A família do António, feliz pelo atendimento que este teve durante o internamento, também iria publicar algo a agradecer ao hospital e à equipa que o atendeu. Sem qualquer investimento, tanto o restaurante como o hospital iriam beneficiar de visibilidade muito positiva que certamente iria gerar mais clientes.

O Marketing de Influência ou Influencer Marketing será exponenciado quando começar de dentro para fora!

 


Susana Duro tem mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento e implementação de estratégias de marketing para marcas líderes de mercado e um sólido percurso profissional construído em empresas nacionais e multinacionais de referência dentro do mercado de FMCG.

É licenciada em Marketing e Publicidade pelo IADE, pós-graduada em Retail Management e em Direção Comercial no Indeg/Iscte e mestre em Marketing pela mesma instituição. Iniciou a sua carreira de marketing na Henkel Ibérica como gestora de produto, passando depois para brand manager na Dan Cake. Em 2004 entrou para a Nestlé onde esteve durante 11 anos. Aqui desempenhou a função de brand manager da categoria de Culinários, de trade marketing manager na categoria de chocolates e de head of trade marketing na categoria de Cereais de pequeno-almoço. Em 2017 entrou para a Coca Cola Europacific Partners como responsável pela equipa de Customer Development do Canal Alimentar. Em 2022 foi convidada para assumir a função de National Account manager ficando com a responsabilidade de várias contas no canal Horeca Organizado.

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