Opinião

Tech com Elas: O futuro da inovação também é feminino

Verónica Pestana, Country Manager da ryd para Portugal e Espanha

O setor tecnológico é um dos mais dinâmicos e promissores, responsável por inovações que estão a moldar a sociedade em diversas frentes, desde inteligência artificial até mobilidade conectada.

Em Portugal, assim como em muitos outros países, há uma crescente procura por profissionais qualificados na área, mas a presença feminina ainda é limitada. Dados mostram que, globalmente, menos de 30% dos trabalhadores em tecnologia são mulheres e em Portugal este número é semelhante. Embora o setor tecnológico ofereça grandes oportunidades para desenvolvimento e liderança, as mulheres ainda enfrentam barreiras para ingressar e prosperar neste campo. Considero que é essencial mostrar como eles podem ser superados através de um olhar para os modelos escandinavos, mercado onde tive a oportunidade de trabalhar, e onde a igualdade de género está profundamente enraizada na cultura corporativa e social.

A baixa representação feminina no setor tecnológico não é um desafio exclusivo de Portugal, muitas  questões como estereótipos de género, falta de representatividade e barreiras estruturais têm afastado as mulheres da tecnologia em muitos países.

Em Portugal, observa-se que as mulheres desde cedo são incentivadas a seguir carreiras mais tradicionais, enquanto os papéis mais tecnológicos e de engenharia são geralmente vistos como “masculinos”. Este cenário é, de resto, comprovado pela desigualdade de género nos cursos de engenharia tecnológica, povoados maioritariamente por alunos do sexo masculino.

Essa divisão de género nos interesses pré acadêmicos é ainda exacerbada pela falta da partilha de role models femininos na área de tecnologia, que poderiam inspirar outras mulheres a seguir este caminho.

No entanto, o avanço para uma sociedade igualitária começa a ganhar força com a introdução de medidas para combater estes estereótipos e encorajar mulheres de todas as idades a explorar o mundo da tecnologia. E essa é uma oportunidade única para mulheres – em particular para as portuguesas – que podem agora pensar em entrar num mercado que também busca a diversidade como forma de enriquecer soluções e promover a inovação.

Os países escandinavos desde sempre foram na Europa os pioneiros na implementação de políticas que promovem a igualdade de género em todos os setores, incluindo a tecnologia. Na Suécia, Noruega e Dinamarca, por exemplo, as empresas adotam licenças parentais partilhadas, permitindo que tanto homens quanto mulheres dividam igualmente a responsabilidade de cuidar dos filhos sem prejudicar suas carreiras. Além disso, ambientes de trabalho flexíveis, com horários adaptáveis, ajudam as mulheres a equilibrar a vida profissional e pessoal. Outro ponto relevante é a cultura corporativa inclusiva, que coloca a meritocracia e o respeito pela diversidade como valores centrais. Nessas sociedades, as mulheres são encorajadas a aspirar a papéis de liderança, e muitas delas ocupam posições-chave em tecnologia e inovação. Na primeira pessoa, tive o privilégio de começar o início da minha carreira  numa empresa escandinava líder do mercado mobile nos anos 2000, em que a CEO da divisão de networks era uma mulher inspiradora pela sua frontalidade, sua liderança e por toda a sua trajetória única e pelo impacto significativo que teve como líder feminina em um setor predominantemente masculino.

Sari Baldauf, líder de uma empresa escandinava, sempre apoiou a ascensão de outras mulheres, oferecendo orientação e apoio. Ela serviu de mentora para muitas mulheres na empresa e incentivou uma cultura onde elas podiam se desenvolver e atingir o máximo potencial. Esse compromisso de compartilhar o que aprendeu e apoiar outras mulheres ajudou a construir uma rede de profissionais talentosas dentro e fora da empresa. Mesmo sendo uma das executivas mais influentes da época, Baldauf manteve um perfil discreto e sempre focado no desempenho. Ela era conhecida pela humildade e pela ética de trabalho, demonstrando que é possível liderar sem precisar de uma postura agressiva ou excessivamente dominante. Essa combinação de força e sensibilidade foi inspiradora para muitas mulheres que viam nela um exemplo de liderança equilibrada e eficaz.

Também nós em Portugal, à semelhança da Escandinávia, estamos a assistir a empresas que criam um ambiente onde as mulheres tem as mesmas oportunidades e confiança para progredir nas suas carreiras.

Em Portugal, mulheres como Cristina Fonseca, cofundadora da Talkdesk, destacam-se pela sua visão inovadora e empreendedorismo, servindo como modelos de perseverança e liderança. Estou convicta que o setor tecnológico está aberto para quem tem ideias, perseverança e vontade de transformar. Estes exemplos de sucesso podem e devem  ser um incentivo para que outras mulheres acreditem que também podem alcançar as mesmas oportunidades.

O caminho começa na educação
Contudo, a promoção da inclusão de género no setor tecnológico em Portugal  ainda requer mudanças em vários níveis. Uma abordagem integrada começa na educação, com iniciativas que introduzam a tecnologia de forma inclusiva desde cedo, despertando o interesse das jovens universitárias.  Nas universidades, campanhas de sensibilização e programas de mentoria com mulheres em papéis técnicos podem ajudar a equilibrar o número de mulheres em cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). No ambiente corporativo, as empresas devem adotar políticas de trabalho flexíveis e sensibilização sobre igualdade de género para criar um ambiente de apoio.

Incentivos financeiros e formações de igualdade de género podem ajudar as empresas a evoluir para ambientes mais inclusivos. Estas medidas são essenciais para garantir que as mulheres tenham o apoio necessário para se manterem e prosperarem no setor.

É importante lembrar às mulheres portuguesas que a tecnologia não é apenas uma carreira promissora, mas também um espaço de inovação e impacto. Trabalhar no setor tecnológico permite não apenas crescimento profissional, mas também a oportunidade de fazer parte da criação de soluções que transformam o mundo. Ao olhar para as conquistas das mulheres na Escandinávia e globalmente, vemos que a tecnologia está pronta para receber a contribuição feminina, com uma cultura que valoriza a diversidade e reconhece o valor único que as mulheres trazem. Em Portugal, as empresas tecnológicas devem apoiar esta viagem das mulheres e dar o exemplo. Organizações como a ryd têm estas preocupações na linha da frente. A par de preocupações com a sustentabilidade e a responsabilidade social, a promoção da diversidade de género e das capacidades de liderança femininas são linhas orientadoras da empresa em todo o mundo e, naturalmente, em terras Lusas.

Persistir, acreditar no próprio potencial e encontrar uma rede de apoio são fatores essenciais para mulheres que desejam seguir esta carreira. Por experiência própria, assumo: o setor tecnológico tem espaço para mulheres talentosas que queiram fazer a diferença – agora é a hora de aproveitar as oportunidades e abrir caminho para muitas outras que virão.

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