Opinião

Start-ups, empresas e investidores

Eugénio Viassa Monteiro, Professor da AESE-Business School

start-ups lançadas por quem está em ‘necessidade de subsistência, por não encontrar outra ocupação; e há start-ups criadas por ‘oportunidade’ de realizar um negócio que aparenta ser proveitoso.

As primeiras dão-se mais em países pobres, quase todos espoliados e desorganizados pelo colonizador, onde, ainda hoje se procura sobreviver. Não é infrequente que algumas destas start-ups deem em negócios e, depois, em empresas com interesse, por o seu objeto ir ao encontro do que a sociedade procura.

Nos países ricos, com proteção social e rendimentos de inserção, quase não existem start-ups de necessidade, a não ser para emigrados e quantos não beneficiam dos apoios sociais.

Uma pessoa atenta às lacunas da sociedade, em especial no âmbito do seu saber, ou por tocarem as suas ocupações habituais, pode descobrir modo de lhes dar solução; muitas apps são exemplo disso. A capacidade de observação e indagação pode levar a imaginar produtos/serviços que faltavam e acabam por ter boa aceitação no mercado.

De uma ideia vem o protótipo; mais tarde, a start-up que cresce à medida que difunde a utilidade do que produz, atraindo mais utilizadores.

Entre as empresas mais chamativas, pelo grande crescimento e impacte na sociedade, estão a Uber e a Airbnb. Ambas têm uma boa plataforma informática, onde interagem fornecedores e utilizadores. E todos os recursos que utilizam, os táxis na Uber e as casas ou quartos na Airbnb, não são propriedade sua. Elas não possuem nada, para além da plataforma e da grande vivacidade que imprimem com a constante atualização da oferta, salpicada de novos serviços.

Em geral, todas as start-ups precisam de disponibilidade financeira, para se darem a conhecer e para prestarem com eficiência o serviço que se propõem.

Como financiar tais start-ups, para as fazer crescer, dando lugar a um negócio e depois a uma empresa? A forma habitual é que o próprio iniciador junte às suas economias o que conseguir de familiares e amigos, enquanto a ideia ainda não dá receitas suficientes. É o capital-semente; e os que nele intevêm, têm parte no capital da start-up. Quando a ideia se vai afirmando, é preciso servi-la num círculo maior e fazê-la afirmar em âmbitos que tragam mais vendas.

É crucial encontrar financiamento para crescer bem e depressa, uma vez testada a validade da ideia.

Se se tem contactos numa associação de Business Angels, pode-se ter algum capital adicional; mas sempre parece pouco. Pode-se também recorrer ao crowdfunding, chamando muitas pessoas via net ou carta; este meio parece mais teórico do que efetivo. Ainda há os capitais de risco (venture capital), de entidades privadas ou entidades financeiras, que podem dar um bom empurrão, para se atingir uma dimensão suficiente para convencer depois a banca comercial a emprestar mais dinheiro, para chegar à dimensão de ‘cruzeiro’. A banca é complicada, faz perder tempo e pouco entende da veleidade de criar empresas. Empresta a quem já é rico, não a quem precisa… Mas há que contar com ela.

Há o perigo da imitação, levando a criar start-ups parecidas e melhoradas. As start-ups informáticas e tecnológicas beneficiarem de efeitos de externalidade. Quanto mais são utilizadas, mais se afirmam, pelo efeito positivo de ter muitos utilizadores; assim, dos muitos que começam, por exemplo em e-commerce, sobressaem uns poucos, até ficar um ou dois, com dimensão que dá para prestar um bom serviço e ser rentável. Os outros são absorvidos ou desaparecem.

Daí que, nas iniciativas tecnológicas, haja certa relutância em investir, pelo risco de se apostar no ‘cavalo’ errado.

São os empreendedores que, através das empresas, criam riqueza e trabalho. Daí que todos os países tenham de criar ambiente que favoreça o aparecimento de pessoas com iniciativa, criativas, e também de financiadores (sejam business angels, venture capitalists, etc.) que entendam bem o seu papel na sociedade.

Nos países mais comprometidos com empreender, tenta-se institucionalizar o modo de criar encontro e interação entre potenciais empreendedores, criando muitas incubadoras/aceleradoras de start-ups e mesmo Escolas de empreendedores.

Um recente estudo falava que os países nos primeiros lugares do ranking das start-ups tecnológicas eram: 1º EUA, 2º UK e 3º Índia; UK tinha quase 1/10 das dos EUA e estava muito próximo da Índia; mas a verdade é que grande parte das start-ups dos dois primeiros é de emigrados da Índia.

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Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro, cofundador e professor da AESE, é Visiting Professor da IESE-Universidad de Navarra, Espanha, do Instituto Internacional San Telmo, Seville, Espanha, e do Instituto Internacional Bravo Murillo, Ilhas Canárias, Espanha. É autor do livro “O Despertar da India”, publicado em português, espanhol e inglês. Foi diretor-geral e vice-presidente da AESE (1980 – 1997), onde teve diversas responsabilidades. Foi presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India e faz parte da atual administração. É editor do ‘Newsletter’ sobre temas da Índia,... Ler Mais..

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