Start-ups tecnológicas israelitas contratam no ensino secundário

A procura cada vez maior de talentos tecnológicos em Israel e o contínuo aumento dos salários provocado pela escassez desses profissionais está a levar as start-ups locais a procurarem soluções alternativas. Muitas estão a recrutar estudantes.

Com talentos tecnológicos demasiados caros, as start-ups israelitas estão a confrontar-se com a necessidade de procurar mão de obra mais barata e estão a recrutar jovens estudantes que progressivamente estão a ocupar as funções anteriormente ocupadas por jovens recém-formados das unidades de inteligência e cibernética do exército israelita.

Esta nova realidade foi abordada pela CTech, uma publicação online do setor tecnológico, que refere  ainda que na atual hierarquia tecnológica de Israel, apenas as start-ups estabelecidas que já obtiveram algumas dezenas de milhões de dólares de financiamento, podem pagar os salários na casa os 8 mil dólares (7 mil euros) que são pedidos por estes recém-formados. No topo da pirâmide estão os centros de pesquisa e desenvolvimento de multinacionais como a Google, a Amazon e o Facebook que, nos últimos anos, refere aquele site noticioso, acabaram por desequilibrar o mercado local com salários mensais que podem chegar aos 22 mil dólares (19 mil euros).

Desta forma, as expetativas salariais dos talentos de tecnologia afiguram-se incomportáveis para as start-ups que operam na área e que tiveram de começar a pensar em soluções fora dos parâmetros tradicionais. Foi o caso da  Wenspire que atua na área da cibersegurança e que começou a olhar para as escola do ensino secundário com cursos na área da tecnologia. Mirit Kagarlitsky, co-founder e CEO, explicou à CTech que os finalistas do secundário são bons funcionários, principalmente para projetos de curto prazo chegando a estar ao nível de alguns com formação superior.

A start-up Wenspire foi a pioneira nesta abordagem e como os resultados foram positivos, a ideia também está a ser utilizada por outros empreendedores que contactam os alunos e os pais para possíveis oportunidades de emprego. Até mesmo start-ups já com mais estrutura, mas cansadas das exigências dos profissionais mais experientes, começam a equacionar esta opção.

A XM Cyber, uma start-up de segurança cibernética cofundada pelo diretor reformado da Mossad, Tamir Pardo,  ou a start-up de segurança virtual de conteúdo, Aqua Security Software (que já arrecadou mais de 100 milhões de dólares – 87,9 mil euros – em ações), são dois exemplos de start-ups mais maduras que começaram a recrutar finalistas do ensino secundário.

Refira-se que a falta de recursos humanos é especialmente elevada na área da cibersegurança. Um relatório recente promovido pelo Israel National Cyber Directorate, revela que o país tem uma escassez de cerca de 800 funcionários apenas no setor cibernético. E para muitas start-ups, a escassez de profissionais pode ser a maior dificuldade e a maior barreira ao crescimento. O país tem quase 400 start-ups cibernéticas, fundadas nos últimos cinco anos. No entanto, estão a ser criadas novas start-ups neste setor a um ritmo elevado, o que leva os fundadores a contratarem funcionários com menos formação.

Ou seja, o número de graduados militares e universitários relevantes que entram no mercado de trabalho a cada ano permanece o mesmo, levando a uma crescente dificuldade em recrutar não apenas talentos de pesquisa e desenvolvimento, mas também pessoal de apoio ao cliente e marketing.

Isto não significa que no curto prazo as contratações dos jovens estudantes não represente um desafio para as empresas recrutadoras. Muitas  preferiam que os jovens funcionários adiassem a prestação do serviço militar (obrigatório em Israel para todos os jovens maiores de 18 anos) e continuassem a trabalhar nas empresas em paralelo com a continuação da formação académica.

Contudo, esta é uma situação encarada como  “win-win” para todos os envolvidos: os alunos têm a hipótese de ter uma experiência real de trabalho em projetos de desenvolvimento, enquanto as start-ups recebem programadores ávidos de conhecimento e incrivelmente motivados.

Embora até agora apenas algumas dezenas de start-ups tenham usado esta solução, os fundos locais de capital de risco já estão cientes desta tendência. Em muitas start-ups, os fundadores e cargos de chefia podem ter salários altos. No entanto, o problema está quando em trabalhos de base, como por exemplo programadores de nível básico, tem de pagar um salário igualmente elevado o que pode colocar em causa a viabilidade financeira da empresa.

Outro foco de recrutamento de talentos do ensino secundário, e já que existe há mais tempo, são as competições de codificação. Já é comum os vencedores destas competições receberem ofertas de emprego de empresas de tecnologia e com salários  que ultrapassam o salário mínimo

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