Entrevista/ “Start-ups finalistas já angariaram 120 milhões de dólares em financiamento”

Jochem Cuppen, director Global do Get in The Ring

A um mês das primeiras batalhas em Portugal, o Link To Leaders falou com o diretor Global da competição. Jochem Cuppen revelou que, juntamente com a Heineken, estão a desafiar as start-ups a reduzir a pegada ecológica e que, com a ABN AMRO, um dos maiores bancos da Holanda, procuram ser “disruptivos na banca empresarial”.

Tudo começa com uma introdução inicial e, depois, há cinco rondas de apresentações entre cada projeto, com temas como a equipa, resultados já conquistados, modelo de negócio e mercado, projeções financeiras e promoção livre das start-ups.É assim o formato da competição Get in The Ring que já chegou a Portugal e cujas primeiras batalhas decorrerão no próximo dia 27 de março no Centro de Congressos do Estoril, em Cascais. Esta é uma iniciativa promovida pela DNA Cascais e pela Global Entrepreneurship Network Portugal, entidades responsáveis por trazer esta competição internacional pela primeira vez para o nosso país.

Do duelo sairá vencedora uma start-up que ganha um prémio monetário e uma entrada direta para a grande final em Singapura, em maio. O Link To Leaders falou com Jochem Cuppen, diretor Global do Get in The Ring, sobre a competição internacional que conta no seu histórico com 52 empresas finalistas que empregam 1400 pessoas e que já angariaram 120 milhões dólares (mais de 113 milhões de euros) em financiamento.

Porquê lançar agora em Portugal o Get in The Ring?

Os principais motivos porque lançámos agora prendem-se com o facto de termos encontrado o parceiro certo. Na minha opinião, deveríamos ter vindo para Portugal há mais tempo, no entanto, para expandirmos as nossas atividades a nível global, é importante que tenhamos fortes parceiros locais. Nem sempre é fácil encontrar o parceiro certo, mas estou muito contente por estarmos agora também em Portugal.

Portugal está preparado para a batalha?

Portugal é um país com uma mentalidade vencedora, pelo que acho que está preparado para a batalha.

Como é que funciona?

Nesta competição global, as start-ups podem integrar eventos em cidades próximas de onde se encontram. Nestes eventos, podem participar em sessões de treino para se melhor prepararem, melhorarem os seus pitch e aprenderem com outras start-ups. Para além disso, poderão interagir em Matchups, que consistem basicamente em encontros no modelo de speed-dating com potenciais parceiros pré-definidos. Depois disso, as start-ups passarão por rondas de seleção, a partir das quais serão selecionadas as melhores empresas para fazerem um pitch no palco, a que chamamos batalhas em direto.

As batalhas em direto são a parte mais divertida do Get in the Ring.  Aqui, duas start-ups irão competir uma com a outra no ring. As start-ups começarão com 1 minuto de introdução sobre as suas empresas, depois do qual continuarão, durante 5 rondas distintas de 30 segundos cada, em que responderão a perguntas sobre a equipa, o que já alcançaram, sobre o seu modelo de negócio e mercado, situação financeira e o que propõem, e uma ronda final de tema livre. Depois disso, uma equipa de campeões que compõem o júri, terá algum tempo para pôr questões às empresas e votarão na sua vencedora. As start-ups vencedoras ganharão um ingresso para a Global Conference, que terá lugar em Singapura, entre 17 e 19 de maio.

Quais as maiores dificuldades na participação?

Garantir que chegam a horas. Acredito que participar não deverá ser difícil. Em competições e eventos como o Get in the Ring estará a falar sobre a sua empresa. Desde que esteja preparado e conheça os seus valores, deverá ser fácil e divertido. Talvez o mais difícil seja prepararem-se.

Muitas start-ups confundem o diferencial da sua proposta de valor com o seu mercado: pensam que, por mais ninguém fazer como eles, significa que não têm verdadeiros concorrentes. O que pensa disto?

Todos temos concorrência. As pessoas tentam dar resposta a uma necessidade na sua vida, recorrendo a serviços e produtos. A questão não é quem está a fazer o mesmo ou algo semelhante, mas sim o que os seus futuros clientes estão hoje a comprar, para darem resposta a essa necessidade. Pense nisso. Talvez exista nos próximos anos uma empresa que consiga voos para a lua. Terão eles concorrência? Talvez não diretamente noutra empresa que consiga levar pessoas à lua, mas os seus clientes estão hoje a preencher a mesma necessidade ou desejo de viajar para locais únicos. Assim, os seus concorrentes não são agências espaciais, mas sim agências de viagens que estão a providenciar experiências de viagens realmente únicas.

Qual a principal prioridade do Get in The Ring?

A nossa principal prioridade é a start-up. Estas deverão ter acesso, através das nossas atividades, ao que precisam para dar o passo seguinte. Pode ser uma coisa tão simples como um mentor, mas também um investidor ou uma grande empresa como cliente. O nosso objetivo é possibilitar essas oportunidades às start-ups, permitir-lhes aceder-lhes mais rapidamente e de uma forma mais divertida.

Que histórias de sucesso partilha sobre o Get in The Ring?

Há muitas histórias de sucesso. Para mencionar algumas, tivemos desinvestimentos de 100 milhões de dólares para a Alibaba (a EyeVerify, vencedora mundial de 2012). Falando sobre verdadeiro impacto, a vencedora global de peso pesado, a Dot, desenvolveu o primeiro smartwatch para pessoas invisuais, que está agora em fase de produção e que irá mudar a vida de milhões de pessoas que ganharão independência com o uso do mesmo. Uma outra, uma das minhas preferidas, é que temos estado a trabalhar com a Philips no sentido desta trabalhar mais com start-ups. Neste momento, a Philips está  começar um projeto piloto com a CureMatch, que consegue diagnosticar o cancro de mama muito mais rápida e acertadamente. Com esta parceria, a CureMatch conseguirá escalar a sua inovação muito mais rapidamente.

Três lições da competição ‘Get In The Ring’ Startup

Prepare-se e pratique, faça um uso inteligente da nossa networking e das atividades disponibilizadas para conseguir crescer e seja persistente.

Qual o impacto no mundo do Get in the Ring? 

Estamos de forma ativa em mais de 100 países, de onde mais de 12.500 start-ups já participaram no Get in the Ring. E não apenas de países com comunidades bem desenvolvidas a nível empreendedor, como os Estados Unidos ou Israel, mas também em países onde as pessoas nunca pensaram de onde viria a inovação. O nosso objetivo é pôr em contacto todos os empreendedores com as oportunidades que existem no mundo. Estejam eles a precisar de investidores, de parceiros empresariais ou de clientes, ou de talento que trabalhe com eles, estão por todo o mundo e nós estamos lá para fazer com que essas oportunidades cheguem até eles.

Os antigos finalistas das competições conseguiram angariar um total de 120 milhões de dólares (mais de 113 milhões de euros) em financiamento, dois desinvestimentos. As 52 empresas finalistas dos últimos anos contam num total com 1400 empregados.

Estaremos nós a viver os dias de glória das start-ups?

Não estamos. Há mais recursos e oportunidades disponíveis. Também sabemos mais sobre start-ups e há mais interessados em start-ups. No entanto, há ainda muito trabalho árduo a fazer, pelo que não gostaria de dizer que vivemos dias de glória.

Quais os objetivos do Get in The Ring para os próximos 1, 3, 6 e 12 meses?

No próximo mês, temos muitas coisas fantásticas a acontecer. Estamos à procura, em conjunto com a Heineken, de start-ups que queiram trabalhar com eles no sentido de conseguir reduzir a sua pegada ecológica. Com a APM Terminals e a Maersk, estamos a desafiar as start-ups a fazerem o acompanhamento e gamificação dos seus contentores, e acabámos de lançar um desafio com a ABN AMRO, um dos maiores bancos da Holanda, com quem estamos a tentar ser disruptivos da banca empresarial. Estamos a pensar em soluções de blockchain, de realidade virtual e de ciber-segurança.

Ao nível da competição, estamos a promover muitos eventos em todos os continentes, como no Catar, Costa do Marfim, El Salvador, Madagáscar e Turquia. Daqui a três meses, estaremos a promover o nosso grande evento, a Global Conference em Singapura! Serão três dias de treino, workshops, jantares e diversão, onde estarão também os vencedores de Portugal – e não se esqueçam da nossa competição final, em que será coroado o vencedor mundial.

Temos grandes planos para os meses que se seguirão: estaremos a lançar uma nova época de competições, a fazer crescer os nossos desafios e todas as oportunidades que estão disponíveis para start-ups na nossa rede de contactos e, por fim, mas não menos importante, a abertura do primeiro escritório Get in the Ring em Roterdão!

O que pensa sobre o ecossistema empreendedor português?

Não sou especialista no ecossistema empreendedor português, pelo que o que dissesse soaria estranho aos especialistas. No entanto, enquanto espetador externo, parece-me que têm sido promovidas muitas atividades desde 2010 para apoiar o empreendedorismo e as start-ups em Portugal, o que penso ser uma coisa boa. Claro que o WebSummit foi um bom exemplo disso.

A Europa é um continente empreendedor? Quais os países mais ativos neste momento?

Há tantas diferenças entre os países, o que é bom. Há uma grande diversidade e riqueza de culturas e estilos de trabalhar. Se generalizarmos, acredito que a Europa é um continente empreendedor, no entanto o estilo de empreendedorismo é muito diferente de uns para outros países. Olhando para a maioria dos países europeus, acredito que os empreendedores são, no geral, muito criativos e inovadores, mas cujo nível de ambição e motivação para o sucesso pode ser maior.  Quanto aos países mais ativos, bem, há muito a acontecer neste momento em todo o lado, mas, olhando apenas para os números, arrisco a dizer que são a França e o Reino Unido. Claro que também acredito na Holanda (desculpem, sou tendencioso).

Qual foi o maior sucesso e o maior falhanço que teve enquanto empreendedor?  

Até ao momento… Fazer crescer o Growing Get in the Ring até se tornar na organização que é hoje e com a equipa que temos, é para mim um sucesso em si mesmo. O maior falhanço foi, e ainda é, às vezes esquecer-me de passar tempo com a minha namorada, amigos e família, devido ao trabalho e atividades relacionadas.

Que lições aprendidas partilha com base na sua experiência empreendedora?

Como falei na questão anterior, passar tempo com os amigos e família é muito importante. Quando começamos e queremos fazer crescer uma empresa, temos de fazer muitos sacrifícios para levá-la ao sucesso. Acredito que o empreendedor deverá desejar fazer esses sacrifícios, passar muitas horas a criar a sua empresa e a fazer tudo o que lhe é possível para torná-la num sucesso. No entanto, também cheguei à conclusão de que, no fim do dia, deveremos ser felizes com aquilo que fazemos. Deveremos ser capazes de olhar para o espelho e dizer honestamente que estamos a divertir-nos no trabalho que fazemos e de que trabalhamos com pessoas como nós. Quando conseguimos um equilíbrio disso com uma boa vida privada, então estaremos aptos para realmente sermos bem-sucedidos.

Respostas rápidas:

O maior risco: Ser demasiado sério sobre aquilo que se faz.
O maior erro: Esquecer-me de passar tempo com a minha namorada, família e amigos.
A melhor ideia: Levar o Get in the Ring para o espaço.
A maior lição: Garantir ser feliz com aquilo que se faz: trabalhar com pessoas de quem se gosta e equilibrá-lo com a nossa vida pessoal.
A maior conquista: Atingir o 100º país onde organizamos as nossas atividades.

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