Entrevista/ “Só conseguimos construir algo de relevante se estivermos rodeados de pessoas com os mesmos valores”

“Acredito que o futuro do setor de recursos humanos passará cada vez mais por uma combinação equilibrada entre tecnologia e um modelo de gestão humanizado”, afirmou César Santos, CEO da Wellow Network.
Em 2024, a Wellow Network, grupo português de gestão de recursos humanos, atingiu um volume de negócios superior a 130 milhões de euros, traduzindo-se num crescimento de 27% face ao ano anterior.
Com mais de 25 anos de experiência no mercado português, a Wellow Network possui sete marcas no seu portefólio, mais de 20 serviços especializados e opera em setores como construção civil, hotelaria, telecomunicações, saúde, logística e indústria.
Cabo Verde foi a sua primeira aposta de internacionalização, mas o grupo está a avaliar novas oportunidades em regiões que apresentem uma forte necessidade de soluções de recrutamento e desenvolvimento de talento, como referiu César Santos, CEO da Wellow Network, que está a integrar ferramentas de inteligência artificial nos seus processos e que quer reforçar a sua oferta de programas de capacitação, para “preparar os profissionais para os desafios do futuro”.
A que se deve o crescimento da Wellow Network?
O crescimento da Wellow deveu-se em grande medida à necessidade de diversificação e redução da dependência do trabalho temporário no universo de negócios do grupo. Por outro lado, ficou a dever-se também, à ambição de construir um projeto empresarial de capitais portugueses relevante para a economia portuguesa. Esta estratégia procurou assentar em quatro fatores diferenciadores: orientação para o cliente; foco nas pessoas; flexibilidade e capacidade de inovação.
São um grupo com mais 25 anos de atividade, quais as vossas grandes apostas para continuarem no mercado e a crescer?
Em 2021, após o período de pandemia, decidimos verticalizar as diversas áreas de negócio em sete marcas comerciais, cada uma com o seu CEO, com o suporte de um conjunto de serviços partilhados prestados pela Wellow (holding). Acreditamos que este modelo de organização assente em sete marcas comerciais e mais de 20 serviços permite o foco e a capacidade de tração para duplicar o volume de negócios até 2030.
“(…) demos o primeiro passo para fora de Portugal, com a abertura da sucursal em Cabo Verde”.
Como se consegue manter um sistema vivo com 7 marcas e uma atividade que se estende também a investimentos financeiros e projetos internacionais? Qual o segredo?
Ao longo dos 25 anos de atividade fomos fazemos alguns investimentos imobiliários, nomeadamente em instalações. Atualmente, sentimos que, para conseguimos suportar a estratégia de crescimento que temos para os próximos anos, temos que fazer uma alocação extremamente eficiente dos recursos financeiros. Desta forma, decidimos separar as áreas de negócios (marcas), que designámos por Wellow Business das áreas de gestão de ativos (Rent a Car, Properties e Investments), que passámos a agregar na Wellow Capital. Esta separação permite fazer uma análise mais eficiente de um conjunto de indicadores de rentabilidade e liquidez.
Paralelamente, demos o primeiro passo para fora de Portugal, com a abertura da sucursal em Cabo Verde. Hoje podemos dizer que a Wellow está organizada em três grandes áreas: Business; Capital e World. Em suma, estamos convictos que o segredo tem sido a nossa capacidade de reinventar o modelo organizacional, a qualidade e engagement das pessoas com o projeto e o foco nos clientes e na qualidade de serviço.
Quais as áreas de aposta da Wellow Netwotk para este ano?
As diversas marcas têm objetivos ambiciosos de crescimento, mas podemos destacar a consultoria na Header, a logística e indústria na Talenter e na Knower, a energia na Futurcabo e o crescimento orgânico nas restantes três marcas.
A expansão internacional também está no topo da nossa agenda. Depois de Cabo Verde, estamos a analisar oportunidades em novos mercados, onde a nossa expertise em recursos humanos possa fazer a diferença. Acreditamos que a internacionalização é um passo natural para um grupo com a nossa dimensão e experiência.
“A experiência de mais de 25 anos no mercado português dá-nos uma compreensão profunda das dinâmicas do setor e permite-nos oferecer soluções ajustadas à realidade local”.
Qual proposta de valor da Wellow Network para o mercado português?
A nossa proposta de valor assenta em três pilares fundamentais: especialização; experiência e proximidade. A especialização advém da diversidade da nossa oferta, que cobre todo o espectro das necessidades de recursos humanos, desde o trabalho temporário, outsourcing até ao executive search e consultoria estratégica. Essa amplitude permite-nos atuar como um parceiro único para as empresas, independentemente da sua dimensão ou setor de atividade.
A experiência de mais de 25 anos no mercado português dá-nos uma compreensão profunda das dinâmicas do setor e permite-nos oferecer soluções ajustadas à realidade local. O nosso conhecimento do mercado, aliado à capacidade de antecipação de tendências, é um dos nossos principais diferenciais.
Por fim, a proximidade com os nossos clientes e candidatos é um dos fatores que nos distingue. Trabalhamos com uma abordagem personalizada, adaptando os nossos serviços às necessidades específicas de cada empresa e garantindo que os profissionais que recrutamos se encaixam perfeitamente na cultura organizacional dos nossos clientes. Essa flexibilidade e capacidade de adaptação são essenciais num mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e exigente.
Em que setores mais têm trabalhado?
A Wellow Network tem uma atuação transversal em diversos setores da economia, o que nos permite uma visão alargada das dinâmicas do mercado de trabalho e das necessidades específicas de cada indústria. Atualmente, temos um nível de diversificação bastante acentuado com presenças relevantes nos setores da construção civil, hotelaria, telecomunicações, saúde, indústria, logística e serviços.
E com que tipo de empresas?
A nossa abordagem é flexível e adaptável, permitindo-nos trabalhar com empresas de diferentes dimensões e setores. Temos uma relação próxima com grandes grupos empresariais e multinacionais, que procuram um parceiro estratégico para a gestão dos seus recursos humanos a longo prazo. Nestes casos, a nossa capacidade de oferecer soluções personalizadas e a nível nacional tem sido um fator diferenciador.
Ao mesmo tempo, trabalhamos com pequenas e médias empresas (PME) que necessitam de um apoio especializado para recrutar talento qualificado e estruturar as suas equipas de forma eficiente. Acreditamos que as PME desempenham um papel essencial na economia portuguesa e, por isso, oferecemos soluções ajustadas à sua realidade e às suas necessidades específicas.
Além disso, temos uma forte presença no setor público e em organizações do terceiro setor, onde apoiamos projetos de recrutamento, formação e desenvolvimento de competências. O nosso compromisso passa por garantir que todas as organizações, independentemente do seu setor de atividade, tenham acesso às melhores práticas e ao talento certo para impulsionar o seu crescimento.
Quais os segredos para recrutar hoje em dia executivos?
O recrutamento de executivos exige uma abordagem altamente especializada e um profundo conhecimento do mercado. O segredo para atrair e contratar os melhores talentos passa, em primeiro lugar, por um mapeamento detalhado das expectativas e motivações dos candidatos. Não basta identificar profissionais qualificados – é essencial compreender os seus objetivos de carreira, as suas motivações e o tipo de cultura organizacional em que melhor se encaixam.
Outro fator crítico é a utilização de metodologias avançadas de avaliação, como People Analytics e Executive Assessments, que permitem analisar com maior precisão não apenas as competências técnicas dos candidatos, mas também o seu perfil comportamental e capacidade de liderança.
Além disso, o acompanhamento personalizado ao longo de todo o processo é essencial para garantir uma transição bem-sucedida. Na Wellow Network, temos uma equipa dedicada que assegura um contacto próximo com os candidatos e as empresas, ajudando a alinhar expectativas e a facilitar a integração dos novos executivos.
Num mercado altamente competitivo, onde os melhores profissionais têm múltiplas oportunidades, as empresas precisam de oferecer mais do que um salário atrativo. Os executivos procuram desafios estimulantes, oportunidades de crescimento e um ambiente de trabalho alinhado com os seus valores. O nosso papel é ajudar as empresas a construir propostas de valor diferenciadoras que atraiam e retenham o talento certo.
Como tem vindo a evoluir o conceito de outplacement, assim como a sua aplicação na prática junto das empresas e dos profissionais?
O outplacement tem evoluído de um serviço tradicional de apoio à transição de carreira para um processo estratégico que beneficia tanto os profissionais como as empresas. Hoje, o foco não está apenas em ajudar os colaboradores a encontrar um novo emprego, mas também em trabalhar a sua marca pessoal, desenvolver competências e criar uma estratégia de carreira sólida.
As empresas começaram a perceber que investir em programas de outplacement não só melhora a reputação da organização, como também fortalece a cultura empresarial. Demonstrar um compromisso genuíno com o bem-estar dos colaboradores, mesmo em momentos de reestruturação, tem um impacto positivo na perceção da empresa no mercado e na sua capacidade de atrair e reter talento no futuro.
Por outro lado, os profissionais beneficiam de um acompanhamento estruturado que os ajuda a redefinir os seus objetivos de carreira e a identificar novas oportunidades. O outplacement deixou de ser apenas um serviço de recolocação para se tornar um processo de desenvolvimento pessoal e profissional, permitindo aos candidatos explorarem diferentes caminhos e adaptarem-se a um mercado em constante mudança.
“O maior desafio do setor de recursos humanos hoje é a aparente contradição entre a escassez de talento e a dificuldade de contratação”.
Que desafios se colocam nesta área, num tempo em que por outro lado se fala tanto em escassez de talento e dificuldade em contratar?
O maior desafio do setor de recursos humanos hoje é a aparente contradição entre a escassez de talento e a dificuldade de contratação. Se, por um lado, existe uma grande procura por profissionais qualificados, por outro, há também um elevado número de pessoas disponíveis no mercado que não possuem as competências certas para responder às necessidades das empresas.
Esta realidade coloca uma enorme pressão sobre os processos de recrutamento e seleção. Já não basta encontrar candidatos; é preciso garantir que estes têm o perfil adequado, tanto a nível técnico como comportamental. Neste contexto, a requalificação e a formação contínua assumem um papel fundamental. As empresas precisam de investir na capacitação dos seus colaboradores e na adaptação das suas equipas às novas exigências do mercado de trabalho.
Além disso, a fidelização do talento tornou-se um desafio tão grande quanto a sua atração. Hoje, os profissionais não escolhem um emprego apenas com base na remuneração, mas sim pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, pelas oportunidades de desenvolvimento e pelo alinhamento com a cultura organizacional. As empresas precisam de desenvolver estratégias eficazes para criar ambientes de trabalho motivadores, que promovam a retenção e reduzam a rotatividade.
Outro desafio crítico é a crescente necessidade de adaptação aos novos modelos de trabalho. O teletrabalho e o trabalho híbrido vieram para ficar, e muitas empresas ainda enfrentam dificuldades na gestão remota das suas equipas. Neste cenário, é essencial desenvolver novas metodologias de acompanhamento e avaliação de desempenho, garantindo que os colaboradores continuam produtivos e motivados, independentemente do seu local de trabalho.
De que forma a progressão de carreira tem vindo a mudar?
A progressão de carreira já não segue um modelo linear. Durante muitos anos, a ascensão profissional era vista como um percurso previsível dentro da mesma empresa, baseado em promoções sucessivas e num crescimento progressivo dentro da hierarquia organizacional. Hoje, essa realidade mudou drasticamente.
Atualmente, os profissionais valorizam um percurso mais diversificado e flexível, onde possam adquirir novas competências e explorar diferentes áreas dentro e fora da sua organização. A mobilidade lateral – ou seja, a possibilidade de mudar de função sem necessariamente subir na hierarquia – tem ganho relevância, pois permite aos colaboradores desenvolverem um conjunto mais amplo de competências e aumentarem a sua empregabilidade.
O conceito de “carreira em espiral” tem-se tornado cada vez mais popular, refletindo um modelo onde os profissionais alternam entre diferentes funções, setores ou até geografias, acumulando experiências variadas que enriquecem o seu perfil profissional.
Outro fator determinante na evolução da progressão de carreira é o impacto da digitalização e da inteligência artificial. Muitas funções tradicionais estão a desaparecer ou a transformar-se, o que obriga os profissionais a reinventarem-se constantemente. A aprendizagem contínua tornou-se essencial para garantir a relevância no mercado de trabalho, e a formação ao longo da vida passou a ser uma exigência para qualquer profissional que queira manter-se competitivo.
As empresas precisam de adaptar-se a esta nova realidade, oferecendo planos de carreira mais dinâmicos, oportunidades de reskilling e um ambiente que promova a inovação e a evolução contínua dos seus colaboradores.
“(…) a nossa missão é garantir que as empresas têm acesso ao melhor talento e que os profissionais encontram oportunidades alinhadas com o seu potencial”.
Como olha para o seu desafio na liderança da Wellow Network no nosso país?
Liderar a Wellow Network é um desafio exigente, mas altamente motivador. Num mercado em rápida transformação, a nossa missão é garantir que as empresas têm acesso ao melhor talento e que os profissionais encontram oportunidades alinhadas com o seu potencial. Isso exige uma visão estratégica clara, capacidade de adaptação e uma abordagem inovadora na gestão de recursos humanos.
Temos a responsabilidade de antecipar tendências e desenvolver soluções que ajudem as empresas a enfrentar os desafios do futuro. Isso significa apostar na digitalização, na formação e no desenvolvimento de competências, mas também reforçar a nossa presença internacional para garantir que continuamos a crescer de forma sustentável.
Outro grande desafio é garantir que a Wellow Network continua a trabalhar a sua identidade e os seus valores, mesmo num contexto de crescimento e diversificação da oferta. A proximidade com os clientes, a flexibilidade e a capacidade de adaptação sempre foram fatores-chave no nosso sucesso, e é fundamental que continuemos a reforçar essa abordagem.
Acredito que o futuro do setor de recursos humanos passará cada vez mais por uma combinação equilibrada entre tecnologia e um modelo de gestão humanizado. O meu objetivo enquanto líder da Wellow Network é garantir que estamos na vanguarda desta transformação, oferecendo soluções inovadoras e criando valor tanto para as empresas como para os profissionais.
Cabo Verde foi a vossa primeira aposta de internacionalização. Que outros países estão na mira do grupo?
A nossa experiência em Cabo Verde foi muito positiva e serviu como um primeiro passo estratégico na nossa expansão internacional. No entanto, a internacionalização da Wellow Network não se limita a um único mercado. Estamos a avaliar novas oportunidades em regiões que apresentam uma forte necessidade de soluções de recrutamento e desenvolvimento de talento.
A nossa abordagem à internacionalização será sempre estratégica e sustentada, garantindo que cada novo mercado onde entramos representa uma oportunidade real de crescimento e consolidação da nossa marca.
Qual a previsão de faturação para este ano?
A Wellow Network tem mantido um crescimento sólido e sustentável ao longo dos últimos anos, e a nossa previsão para este ano reflete essa trajetória positiva. Depois de um crescimento de 27% no último ano, o nosso objetivo para 2025 é ultrapassar os 150 milhões de euros de faturação, consolidando a nossa posição como um dos principais grupos de recursos humanos em Portugal.
Além disso, a aposta na formação e requalificação de talento será um fator determinante para o nosso crescimento. Acreditamos que o investimento no desenvolvimento de competências terá um impacto direto na nossa capacidade de gerar valor para os clientes e, consequentemente, nos nossos resultados financeiros.
Projetos para o futuro da Wellow Network?
Olhamos para o futuro com um plano estratégico bem definido, assente em três grandes prioridades. A inovação e a tecnologia continuarão a ser uma das nossas principais apostas. Estamos a investir na integração de ferramentas de inteligência artificial nos nossos processos, de forma a aumentar a eficiência e a precisão dos nossos serviços. O uso de People Analytics permitirá tomar decisões mais informadas e garantir um alinhamento ainda maior entre candidatos e empresas.
A formação e o desenvolvimento de competências continuarão a ser uma área prioritária. Queremos reforçar a nossa oferta de programas de capacitação, garantindo que conseguimos responder às exigências do mercado e preparar os profissionais para os desafios do futuro. Por fim, a expansão internacional é outro grande foco da Wellow Network. Depois de Cabo Verde, queremos consolidar a nossa presença em novos mercados estratégicos, aproveitando o nosso know-how para oferecer soluções de recrutamento e gestão de talento em regiões com necessidades específicas.
Respostas rápidas:
Maior risco: Decidir agarrar no negócio de família sem nunca ter pensado nisso, nem preparado para tal.
Maior erro: Não ter iniciado o processo de diversificação mais cedo.
Maior lição: Só conseguimos construir algo de relevante se estivermos rodeados de pessoas com os mesmos valores.
Maior conquista: Construir uma equipa de trabalho de pessoas apaixonadas pelo que fazem e comprometidas com o sucesso do projeto.