Entrevista/ “Colaborar com start-ups é hoje mais importante do que nunca”

Maria Antónia Saldanha, diretora de comunicação e marca da SIBS*

A SIBS é uma das grandes empresas portuguesas a desenvolver projetos com start-ups. Nesta entrevista, Maria Antónia Saldanha faz-nos um balanço da segunda edição do SIBS PAYFORWARD, conta-nos a melhor maneira de trabalhar com start-ups e faz uma previsão do futuro do setor.

A Coinscrap, GoFact e a Sstrategy foram as start-ups escolhidas na segunda edição do SIBS PAYFORWARD e encontram-se a trabalhar com a SIBS em soluções que permitam dinamizar a plataforma de open banking API que a empresa está a desenvolver.

Este ano, o programa de Inovação da SIBS, composto pelo PayForward Accelator e pelo PayForward Opentrack, foi orientado para soluções para empresas e particulares em contexto open banking. Em entrevista ao Link To Leaders, Maria Antónia Saldanha, diretora de comunicação e marca da SIBS, fala do programa de aceleração para empresas de pagamentos e fintech em Portugal, que resulta da parceria entre a empresa e a Beta-i, e do futuro do setor de pagamentos.

Qual é o balanço que faz desta edição do SIBS PAYFORWARD?
Muito positivo. Esta segunda edição, tal como a anterior, tem superado as nossas expetativas; recebemos mais de 100 candidaturas de start-ups de 20 países, que comprova o caráter internacional do projeto e o interesse de start-ups das mais variadas áreas de atividade em fazerem parte do primeiro programa de aceleração na área dos pagamentos e fintech em Portugal. Esta 2.ª edição do PAYFORWARD Accelerator tinha um desafio adicional porque foi orientada a selecionar start-ups com soluções para empresas e particulares em contexto Open Banking, que possam incorporar o desenvolvimento da plataforma em implementação pela SIBS, um novo serviço para dar resposta aos desafios resultantes da regulação europeia que entrou em vigor este ano (PSD2).

Atualmente, o programa encontra-se na fase de aceleração, com as três start-ups selecionadas no bootcamp, que decorreu entre os dias 26 de fevereiro e 2 de março. Adicionalmente, estamos a analisar modelos de colaboração, quer a nível nacional quer a nível internacional, com outras start-ups cujos projetos estão alinhados com a estratégia da SIBS em vertentes paralelas às iniciativas no âmbito da PSD2. Uma destas start-ups, inclusive, já desenvolveu um piloto que estamos a monitorizar.Todas estas razões têm-nos dado a confiança para prosseguirmos com este Programa de Inovação estratégico para a SIBS.

Que soluções é que saíram do programa?
Atualmente, o programa encontra-se na etapa de aceleração, que teve início em meados de março, com a definição exata de cada projeto, respetivo processo com calendário de trabalho e resultados a atingir. Esta fase visa, naturalmente, que as start-ups escolhidas no bootcampCoinscrap, GoFact e Sstrategy – possam testar as suas soluções em alinhamento com a plataforma de Open Banking API, num momento pertinente de acordo com os desenhos dos respetivos projetos.

As start-ups selecionadas no bootcamp têm soluções que permitem dinamizar a plataforma de Open Banking API. A Coinscrap tem atualmente uma solução que visa o arredondamento das transações para a criação de poupanças, a SStrategy tem uma solução de criação de serviços de subscrição e de pagamentos recorrentes e a GoFact tem um portal que agrega os módulos de Faturação, Gestão de Despesas e Gestão das Contas Bancárias permitindo que as PME possam ter um sistema integrado de gestão financeira. Com as API da nova plataforma da SIBS, sejam de iniciação de pagamentos, sejam de acesso a informação de contas de pagamento, cada um destes serviços pode ser largamente exponenciado.

Estas três start-ups e respetivas soluções fazem match com a estratégia e objetivos da SIBS face à PSD2 e que, portanto, poderão tornar-se nas primeiras TPP (third party providers – fornecedores terceiros) a integrar a plataforma de Open Banking API da SIBS. Pretende-se, no final desta etapa, avaliar de que forma estes novos serviços podem vir a ser disponibilizados e lançados, num modelo de colaboração com a SIBS.

Os objetivos foram cumpridos?
Nesta edição do acelerador tivemos a oportunidade de conhecer start-ups com ideias muito interessantes, com soluções e projetos que podem realmente fazer a diferença no mercado das fintech.
Como referi, o programa encontra-se atualmente na sua fase de avaliação, pelo que neste momento ainda é prematuro adiantar quais os primeiros serviços que estarão disponíveis ou que entidades integrarão o ecossistema Open Banking API, dado existirem muitas opções em aberto.
Agora, a SIBS desafia ao desenvolvimento de pilotos e provas de conceito que comprovem as suas capacidades como entidades que podem contribuir para a dinamização da nova plataforma de Open Banking API, que irá impulsionar as iniciativas em torno da PSD2.

O objetivo final da 2.ª edição do PAYFORWARD Accelerator passa por uma integração com a SIBS, que se pode materializar no estabelecimento de acordos comerciais, parcerias para abordagem ao mercado ou mesmo investimento da parte da SIBS no capital da entidade selecionada. As oportunidades estão em aberto, quer para as três start-ups cujos serviços foram alvo da etapa de aceleração, quer para as outras start-ups, cujos projetos estão alinhados com a estratégia da SIBS em vertentes paralelas às iniciativas no âmbito da PSD2.

Os modelos a seguir com cada um serão totalmente adaptados e ajustados face o que fizer mais sentido, tendo em conta o serviço e que objetivos são atingidos com a sua implementação. Por outro lado, também pudemos aperceber que tipo de novidades são expectáveis face à PSD2, que abre o mercado a novos serviços e à utilização de Application Programming Interfaces (API) e que permite que os novos serviços tanto possam ser prestados pelos atuais Prestadores de Serviços de Pagamento – caso das Instituições Financeiras -, como pelos novos intervenientes (exemplos: PISP, AISP, ASPSP).
O SIBS PAYFORWARD possibilita-nos estar ainda mais perto desta evolução do ecossistema que está a ser constituído, em cada um dos mercados da União Europeia.

“A capacidade de colaborar com start-ups é hoje mais importante do que nunca, dada a constante mudança tecnológica e emergência de novos modelos de negócio, derivados da tecnologia digital.”

O que é que as start-ups acrescentam à organização que os developers in-house não seriam capazes de fazer?
Na ótica da open innovation, programas como o SIBS PAYFORWARD facilitam a criação de modelos colaborativos e de partilha entre vários tipos, segmentos e níveis de intervenientes, resultando numa oferta que será, seguramente muito mais benéfica para os utilizadores finais.

A capacidade de colaborar com start-ups é hoje mais importante do que nunca, dada a constante mudança tecnológica e emergência de novos modelos de negócio, derivados da tecnologia digital. Para responder rapidamente a estas externalidades, as grandes empresas necessitam de adotar formas ágeis de trabalhar. Acreditamos, portanto, que os modelos colaborativos e de partilha de know-how e de soluções com fintech devem fazer parte da inovação das empresas, pelo que o assumimos como uma aposta estratégica. Aliás, o PAYFORWARD foi desenhado para desenvolver e criar novos conceitos num mercado de sistemas de pagamento e fintech que, atualmente, é altamente dinâmico e competitivo. Como vários estudos têm espelhado, as entidades financeiras veem hoje as fintech como uma oportunidade de parceria e de elevar a inovação e os níveis de serviço. A SIBS considera que trabalhar com start-ups ou fintech melhora a inovação, o acesso a novas tecnologias, permite refrescar as metodologias e modelos de negócio, a entrada em novos mercados, a adaptação às mudanças de mercado e, inclusive, rejuvenescer a cultura corporativa da empresa. Todas as valências servem entidades de várias dimensões, segmentos e indústrias.

A aposta num programa de inovação revelou-se oportuna nesta fase, sendo que o SIBS PAYFORWARD desafia todos, individualmente e como organização, com novas ideias; transmitindo a consciência de que há muito mais inovação do que aquela que é possível imaginar e foca-nos na construção de algo em colaboração com outras entidades, para que o todo seja melhor que a soma das suas partes.
No seguimento da aposta e do contributo da empresa para a inovação mundial no setor das fintech, pretendemos formar os colaboradores com as mais recentes ferramentas e metodologias, tanto para o seu desenvolvimento pessoal, como para o desenvolvimento de projetos inovadores na área dos pagamentos. Todos temos a aprender com a evolução tecnológica e fazê-lo de forma cada vez mais ágil e flexível. O ritmo a que temos de criar e experimentar soluções é hoje em dia estonteante, sem precedentes.

“As empresas têm de conseguir acompanhar este mercado que está em permanente mudança, mantendo-se relevantes no contexto europeu.”

Quais foram as maiores dificuldades que encontraram durante esta edição?
As empresas hoje procuram processos desmaterializados, convenientes e simples. É essa progressividade que, não sendo imediata, vai sendo construída ao longo do tempo e consoante as necessidades que surjam, sendo a temática da mudança, ao nível de uma organização, um dos maiores desafios. Num programa de inovação como o SIBS PAYFORWARD, que impulsiona a inovação tecnológica, através da implementação de novos métodos e abordagens human-centered proporcionando um grande envolvimento entre os diversos players, existem desafios internos e externos no respetivo enquadramento da organização.

Ao nível interno, as empresas estão a aprender como conciliar a sua cultura de inovação, de desenvolvimento tecnológico e de produto, os seus próprios timings de processo, com os projetos que resultam da colaboração com as start-ups que integram os seus programas de aceleração.

Ao nível externo, os desafios são grandes, sobretudo num contexto dinâmico e competitivo, em que a concorrência é cada vez mais global e a evolução tecnológica e digital está a alterar os paradigmas e modelos de negócio de vários setores e mercados. As empresas têm de conseguir acompanhar este mercado que está em permanente mudança, mantendo-se relevantes no contexto europeu. A SIBS está convicta de que a capacidade de colaborar com start-ups é hoje mais importante do que nunca, dada a referida constante mudança tecnológica e emergência de novos modelos de negócio, derivados da tecnologia digital. Para responder rapidamente a estas externalidades, as grandes empresas necessitam de adotar formas ágeis de trabalhar.

Para além da experiência, que benefícios é que este programa trouxe às start-ups?
O acesso ao know-how das equipas SIBS tem sido um dos maiores fatores assinalados pelas start-ups com que temos colaborado. Por outro lado, a vasta abrangência do portefólio de serviços SIBS tem permitido que as start-ups agucem a sua criatividade e capacidade de criação para terem serviços ainda mais relevantes no atual contexto de globalização.

Adicionalmente, a aposta da SIBS em start-ups e fintech não se prende apenas pelo acelerador. O sucesso alcançado na 1.ª edição do acelerador incentivou a SIBS a reforçar a sua aposta no ecossistema das start-ups com o lançamento do PAYFORWARD OpenTrack, um programa de scouting [procura] e dinamização contínua de fintech.

Através desta nova vertente estratégia, a SIBS pretende continuar a dar um maior contributo e dinamismo às transformações no setor de pagamentos e fintech, investindo no acompanhamento de start-ups focadas no desenvolvimento de soluções tecnológicas que possam criar novas experiências e as bases para um futuro mais moderno e sustentável. Esta nova frente do programa decorrerá em contínuo e em paralelo com a frente de aceleração, podendo passar por diversos modelos de acompanhamento ou investimento.

“O futuro dos pagamentos será cada vez mais focado no cliente, potenciado pela tecnologia que permite que sejam integrados de forma cada vez mais transparente na vida das pessoas e empresas.”

Que inovações é que o setor de pagamentos poderá vir a sofrer nos próximos anos?
Acreditamos que o futuro dos pagamentos será cada vez mais focado no cliente, potenciado pela tecnologia que permite que sejam integrados de forma cada vez mais transparente na vida das pessoas e empresas. Os desafios, assim como as oportunidades, são muitos, sobretudo num contexto dinâmico e competitivo, em que a concorrência é cada vez mais global e a evolução tecnológica e digital está a alterar os paradigmas e modelos de negócio de vários setores e mercados.

Vemos o futuro, a médio e longo prazo, de uma forma positiva, tendo em conta também algumas tendências que identificamos, e que são já motores para a substituição de cash por meios de pagamento mais eficientes. Destacando apenas os mais relevantes e prementes, identificamos claramente três projetos infraestruturais em que a SIBS e o setor bancário estão hoje a investir e que acreditamos que serão os fundamentos do ecossistema de pagamentos do futuro.

O primeiro são os pagamentos imediatos. A SIBS está a desenvolver uma plataforma que permite o pagamento imediato entre qualquer conta em Portugal, ou seja a disponibilização imediata de fundos na conta do destinatário. Já hoje conseguimos fazer transferências imediatas para um número de telemóvel por MB WAY, o que será alargado através desta nova infraestrutura de pagamentos, em conformidade com os standards promovidos pelo Banco Central Europeu.

O segundo é o Open Banking. Estamos a desenvolver uma plataforma de Open Banking para acesso às contas de bancos em Portugal, baseado num novo paradigma de utilização de API que permite o acesso a contas bancárias. Imagine-se a conveniência de uma subscrição completamente online num serviço de eletricidade, água, ou telecomunicações – simplesmente cedendo o acesso aos dados associados à conta bancária.

Por fim, numa época em que a cibersegurança está cada vez mais na ordem do dia, estamos também a reforçar as nossas capacidades de monitorização e deteção de fraude, PAYWATCH, baseadas em tecnologia analítica avançada e inteligência artificial, que serve de forma transversal tanto as plataformas de pagamentos atuais (por exemplo os cartões), como as novas plataformas de pagamentos imediatos e Open Banking.
Recentemente, anunciámos o reforço da nossa aposta nos seus serviços de deteção de fraude. Em parceria com a IBM, a SIBS vai desenvolver uma solução cognitiva de deteção de fraude em tempo-real, inovadora e única no mercado, agregando o know-how e procedimentos de segurança e antifraude da SIBS com a tecnologia cognitiva de última geração da IBM com base no Watson. Estamos comprometidos em assegurar o contributo da SIBS para a digitalização de vários setores e indústrias em Portugal, mantendo Portugal como uma referência na digitalização dos pagamentos.

Que conselhos pode dar às empresas que, tal como a SIBS, queiram trabalhar com start-ups?
Como já referi, acreditamos que a capacidade de colaborar com start-ups é hoje mais importante do que nunca, dada a constante mudança tecnológica e emergência de novos modelos de negócio, derivados da tecnologia digital. Para responder rapidamente a estas externalidades, as grandes empresas necessitam de adotar formas ágeis de trabalhar. Acreditamos, portanto, que os modelos colaborativos e de partilha de know-how e de soluções com fintech devem fazer parte da inovação das empresas, pelo que o assumimos como uma aposta estratégica.

Da nossa experiência, podemos partilhar algumas aprendizagens que entendemos serem fatores de sucesso do nosso acelerador:

  • Promoção de uma cultura de inovação, proporcionando a todos os envolvidos no programa um conjunto de oportunidades e benefícios;
  • Incentivo interno aos seus colaboradores ao manterem uma relação próxima com start-ups;
  • Tratar as start-ups como parceiros, não como clientes ou fornecedores, dado que nos devemos lembrar que as start-ups não têm estruturas com as quais habitualmente uma empresa lida e relaciona;
  • Realizar um scouting contínuo a nível internacional com o intuito de atrair as melhores start-ups. Estamos empenhados neste programa que também permitirá uma melhoria na forma como trabalhamos, que nos fará crescer ainda mais, interna e externamente. Estamos aqui para provar que a SIBS continua a inovar, mantendo-se como um player relevante, e que as empresas públicas e privadas, nacionais e internacionais, elegem para seu parceiro

Que soluções procuram para o futuro que ainda não conseguiram desenvolver?
A transformação digital tem trazido inúmeros desafios, e o setor da banca não é exceção. A banca portuguesa está a apostar fortemente na transformação digital e na disponibilização de soluções inovadoras que vão de encontro às necessidades dos seus clientes. E, neste contexto, os bancos têm confiado na SIBS para desenvolver serviços e soluções que facilitem os processos e lhes permitam garantir a confiança dos clientes finais.

Temos liderado a evolução tecnológica e a digitalização dos pagamentos, consolidando a nossa posição como motor de um dos sistemas de pagamentos mais avançados no mundo. Este ano é particularmente relevante a diretiva PSD2. Neste enquadramento, a SIBS está a desenvolver soluções e serviços que respondam às necessidades cada vez mais complexas dos seus clientes e parceiros, como a já referida Open Banking API. Paralelamente, estamos a contribuir para consolidar a migração para os pagamentos digitais com uma multiplicidade de meios de pagamento. A nova realidade digital do dinheiro e a necessidade de soluções de pagamento de base tecnológica deve ser vista como uma época entusiasmante para consumidores, comerciantes, banca e empresas como a SIBS que estão na vanguarda destas soluções.

*Para além de Diretora de Comunicação e Marca da SIBS, Maria Antónia Saldanha é também diretora do programa SIBS PAYFORWARD.

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