Ser mulher em 2025 pela voz de oito líderes

Hoje celebra-se o Dia Internacional da Mulher, um marco incontornável das conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres. Para assinalar a data, damos voz a oito mulheres de vários setores de atividade que falam da luta pela igualdade de género.

A desigualdade de género na liderança empresarial continua a ser um desafio não só em Portugal, mas também na Europa. Segundo um estudo da D&B Informa, apenas 27% dos cargos de gestão no país são ocupados por mulheres, um dado que reforça a urgência de promover uma maior paridade de género no mundo do trabalho e na sociedade.

Neste sentido, e para assinalar o Dia Internacional das Mulheres, falámos com oito líderes de vários setores, desde a saúde e tecnologia, passando pela advocacia e investimento e terminando na sustentabilidade, que partilham a sua visão sobre os desafios, oportunidades, bem como os passos necessários para promover uma maior igualdade de género em Portugal.

Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal 

Lurdes Gramaxo

Lurdes Gramaxo é presidente da Investors Portugal – Associação Portuguesa de Investidores Early Stage, desde 2022, e é partner e membro do conselho executivo da Bynd Venture Capital, desde 2015. Tem mais de 25 anos de experiência como CEO / CFO / CCDO em empresas multinacionais e está há mais de 15 anos ligada ao movimento associativo empresarial em Portugal e na Europa, tendo sido presidente da associação EUROCORD durante dois mandatos. Formada em Psicologia e Gestão, tem tido um papel ativo no ecossistema de investimento early stage em Portugal, sobretudo na região Norte.

Como é ser mulher em 2025?

É uma pergunta desconcertante, dado que não sei ser outra coisa e usufruo da vida com prazer, tentando olhar sempre pelo lado positivo e continuando a procurar e a aceitar novos desafios. Olhando à minha volta, constato que a vida das mulheres portuguesas continua desafiante, continuam a ser alvo de discriminação nos empregos e nos salários, e sub-representadas nos cargos de liderança. Embora sejam cada vez mais bem preparadas, continuam a enfrentar um desafio acrescido no life/work balance, com uma divisão desequilibrada nas responsabilidades domésticas, mas não desistem e continuam a crescer e a conquistar o seu legítimo lugar na sociedade.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

Não consigo responder diretamente a esta questão, não há “uma” decisão,  mas, provavelmente, distinguiria a série de decisões que fui tomando ao longo da minha vida profissional, muitas vezes sem ter consciência da sua importância, e que me fizeram chegar onde cheguei. Enfrentamos sempre opções na vida profissional e as pequenas decisões podem ser o trigger de grandes oportunidades.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia?

Na minha opinião, não lhes falta nada em termos pessoais: têm a preparação, a capacidade e a experiência. Só lhes falta que as organizações lhes permitam as mesmas oportunidades para provarem a sua eficiência e eficácia no exercício dos cargos de topo e que, com a presença de mulheres nas decisões, concluam o óbvio, que a  diversidade é fundamental para uma cultura empresarial de sucesso.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

Que nunca desistam e que acreditem nelas próprias.

Uma mulher que a inspire…

Sempre que me fazem esta pergunta tenho muita dificuldade em nomear alguém em específico. São tantas as mulheres inspiradoras, que resistem, tentam lutar por uma vida melhor todos os dias, de uma forma mais ou menos anónima, em condições por vezes muito difíceis e sempre de uma forma abnegada e sem perderem a esperança porque, na maioria dos casos, o fazem pelo bem-estar dos seus filhos e das suas famílias. As mulheres representam metade da humanidade e são ainda inferiorizadas, negligenciadas e oprimidas em muitas regiões do mundo, onde não podem aceder a direitos básicos como saúde, educação e liberdade de escolha pelo simples facto de terem nascido do sexo feminino.

Mariana Figueiredo Salvaterra, CEO da Zühlke em Portugal

Mariana Figueiredo Salvaterra

Com um Mestrado em Computer Software Engineering pela Universidade do Porto, Mariana Figueiredo Salvaterra conta com 16 anos de experiência profissional, tendo integrado funções enquanto Software Engineer e Manager. Em 2022, assumiu a função de General Manager na Zühlke em Portugal, tendo assumido a função de CEO dois anos depois. Recentemente, venceu o prémio Best Business Operations & Innovation Expert, do Portuguese Women in Tech Awards, iniciativa que destaca o impacto de profissionais mulheres no ramo tecnológico.

Como é ser mulher em 2025?

Ser mulher é continuar a ser muitas pessoas, tudo em um: mulher, dona de casa, mãe, motorista, assistente pessoal, gestora de agendas, profissional. E tudo isto com menos oportunidades de evolução de carreira, pouco à vontade para nos candidatarmos a posições em que não preenchemos todos os requisitos e restrições em pedir aumentos salariais merecidos. Ainda há muito a fazer para equilibrar as expectativas da sociedade sobre o que é da responsabilidade da mulher.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

Sou mais de refletir sobre aquelas com quem aprendi mais, mas no espírito do Dia da Mulher, destaco a decisão de me candidatar a um cargo que já sabia que estava apontado para outra pessoa. Permitiu-me treinar entrevistas para cargos de liderança como o de diretora geral e sentir que tinha feito de tudo para me manter na empresa em que estava há 10 anos – o que me deu coragem e paz para abraçar um novo desafio num cargo de alta liderança numa outra empresa.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia?

Oportunidades. A sociedade ainda põe muitas pressões em todos os outros papéis que a Mulher desempenha. Há muitas mulheres a ter que escolher ainda entre avançar na carreira ou ser mãe, quando o mesmo não acontece aos homens que querem ser pais. Mesmo quando não se põe a escolha, as mulheres ainda enfrentam outros preconceitos em ambiente profissional – são vistas como mandonas em vez de assertivas, como administradoras ou coordenadoras em vez de estrategas ou decisoras.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

Ninguém consegue agradar a toda a gente, embora sejamos condicionadas desde cedo para o fazer. Segue em frente com o que acreditas, ouve os outros para poderes melhorar a tua solução e abordagem, e foca a tua comunicação no outro/na pessoa que queres que te ouça. Os negócios fazem-se com pessoas, não com empresas. Mantém a tua abordagem de pessoa para pessoa e força!

Uma mulher que a inspire…

A nível internacional Michelle Obama – tem-me mostrado o equilíbrio e a coexistência das várias facetas da Mulher, e a importância da representatividade – e nível nacional Magda Gomes Dias – as suas ideias provocadoras fazem-me repensar as minhas abordagens e reações a quem tenho à minha frente. Centra-se nas relações de pais e filhos, mas é tão mais abrangente e, para mim, estende-se a todas as relações humanas.

Maria João Baptista, presidente da Unidade Local de Saúde de São João

Maria João Batista

Maria João Baptista é um exemplo de como a liderança e a inovação podem transformar a área da saúde. Doutorada em Ciências da Saúde pela Universidade do Minho, é médica cardiologista e presidente da Unidade Local de Saúde de São João, uma das maiores do norte do país. Foi pioneira na investigação sobre o desenvolvimento pulmonar e cardíaco e desempenhou um papel crucial na implementação do transporte inter-hospitalar pediátrico na região. Com base na sua trajetória de liderança feminina, subirá ao palco do TEDxPorto 2025 a 29 de março, onde levará o público a refletir sobre a importância de colocar o ser humano no centro das decisões e como a inovação aliada à empatia pode transformar a experiência dos pacientes e construir um futuro mais inclusivo.

Como é ser mulher em 2025?

Em Portugal, ser mulher em 2025 é um privilégio e um desafio. Há um contexto nacional facilitador para que uma mulher possa desenvolver ao máximo o seu potencial. Vivemos num país com estabilidade, com estratégias políticas e legislações que protegem a mulher. Mas a verdade, é que a nossa sociedade, apesar de tendencialmente liberal e evoluída, ainda mantém demasiados resquícios de uma cultura que dificulta a vida das mulheres. A expressão é distinta consoante o contexto laboral e os setores da sociedade, mas transversalmente mantêm-se obstáculos que as mulheres precisam ultrapassar.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

Em 2010 fui desafiada para implementar um projeto novo no Serviço Nacional de Saúde (SNS), liderando uma equipa muito jovem. Até então trabalhava como Médica Cardiologista Pediátrica, atividade muito gratificante. Era também docente universitária e investigadora, o que contribuía para a minha realização profissional. Mas sentia que a minha experiência e conhecimento podiam ser ainda mais relevantes para o SNS. Tinha a convicção de que era possível fazer diferente, com ganhos para todos, tanto utentes como profissionais.

Aceitar foi um momento decisivo, levando-me a assumir cargos de coordenação e liderança cada vez mais relevantes na área da saúde. Como líder sou capaz de fazer mais por mais pessoas. Posso, em equipa e nos limites que a tutela na Saúde permite, definir estratégias dinâmicas, baseadas na realidade objetiva, demonstrada por dados e experiência, e desenhadas para dar resposta às reais necessidades atuais e futuras das pessoas e da sociedade.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia? 

Em Portugal, foi-se assistindo à normalização de ter homens como líderes. As mulheres são quadros extremamente diferenciados e bem preparados no mercado de trabalho, mas são sobretudo elementos eficazes e rigorosos das equipas. É menos provável que uma mulher pretenda ser líder ou que lhe seja proposto um cargo de liderança. Esta realidade chega a ser incongruente, mas é dependente de uma cultura enraizada e de uma mudança que não chegou a todos os patamares da sociedade, apesar dos imensos ganhos que temos como país.

Para a mulher é mais difícil a conciliação da vida profissional com a vida pessoal. Da mulher espera-se a capacidade de realizar múltiplas tarefas, de acumular responsabilidades familiares, o que representa uma carga efetiva emocional e física que leva profissionais de excelência a afastarem-se de potenciais cargos de liderança. Mas progressivamente a realidade muda. No setor público, a exigência de representatividade de mulheres em cargos de direção traduziu-se na existência de cada vez mais mulheres líderes com excelente desempenho. Esta visibilidade contagia outros setores da sociedade. Por outro lado, a discussão aberta desta temática, a consciencialização do papel do homem na família e sociedade está também a mudar. São fatores que levarão nos próximos anos a um equilíbrio entre homens e mulheres no universo laboral.

Que conselho daria para uma jovem empreendedora?

A liderança não pode ser uma meta só por si. Tem de ser uma consequência natural de características pessoais e de um trabalho desenvolvido. E tem de ser algo que assumimos como possível e positivo. Para o sucesso é necessário acreditar no projeto e em nós. É essencial a forma como nos preparamos e a qualidade do trabalho que desenvolvemos. Mas temos também se ser capazes de comunicar de forma muito clara. Temos de ter voz e de saber ouvir.

É crítico programar a conciliação da vida pessoal com a vida profissional. Garantir o suporte e a flexibilidade que nos permita que a vida seja uma panóplia de possibilidades e não um tormento de tarefas hercúleas que, como mulheres perfeitas, devemos cumprir. É imprescindível tempo de qualidade para nós, fazer desporto e ter tempo para pensar, imaginar e criar.

Uma mulher que a inspire…

Ao longo da vida tenho trabalhado com muitas pessoas, homens e mulheres, que respeito e admiro. Mas, as duas mulheres que mais me marcaram foram as minhas avós. Ambas mulheres muito fortes e inteligentes, que trabalharam e educaram os seus filhos numa perspetiva de respeito e igualdade entre homens e mulheres. Com uma bondade intrínseca e uma capacidade imensa de dar, são bem o exemplo de como podemos melhorar o mundo com pequenos gestos e grandes ações, no seio da sociedade.

Elizabeth Pugeat, General Manager na KLx      

Elizabeth Pugeat

Elizabeth Pugeat começou a sua carreira a trabalhar com a equipa de TI da LCL, onde assumiu posições de liderança em diferentes áreas, desde o desenvolvimento à arquitetura, passando pelas infraestruturas. Entrou para o grupo Crédit Agricole SA em 2008, mais concretamente para o departamento de TI do grupo, onde foi responsável pela governança e segurança, e, em 2015, tornou-se responsável pelas TI e organização no BPI – International Retail and Commercial Banking. Em 2018, assumiu a função de Head of Sourcing and Partnership no departamento de TI do grupo, incluindo o projeto KLx. Tornou-se diretora-geral do KLx quando a estrutura foi criada em 2020.

Como é ser mulher em 2025?

Muito foi feito pela igualdade de género em termos de educação e carreira profissional, mas ainda há um caminho a percorrer para equilibrar melhor a vida profissional e pessoal, uma vez que ainda se espera que as mulheres sejam responsáveis por muitas tarefas, além do seu trabalho. Adicionalmente, sinto que as mulheres são mais julgadas do que os homens pela aparência e pela idade. Também se espera que tenham competências interpessoais mais desenvolvidas, o que pode tornar-se cada vez mais valioso para construir equipas sólidas capazes de enfrentar mudanças ou incertezas. Ser mulher em 2025 abrange muitas realidades diferentes em todo o mundo, e neste dia especial devemos pensar em todas as mulheres privadas de direitos básicos, incluindo o acesso à educação, que é essencial.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

Candidatar-me ao cargo de diretora geral da KLx, a minha posição atual. O projeto ainda não estava decidido e estava claramente fora da minha zona de conforto. Foi um grande desafio começar do zero, depois de ter passado toda a minha carreira em grandes organizações de TI. No entanto, também sabia que, nos trabalhos técnicos em TI, o que realmente faz a diferença no final são as pessoas e a sua capacidade de criar conexões e de acrescentar valor.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

A minha experiência é relativamente limitada, já que a KLx é uma subsidiária do grupo Crédit Agricole dedicada às TI para as empresas do grupo, pelo que o desafio foi bastante diferente de lançar-se no mercado, financiar a empresa, etc. Certamente não sou uma empreendedora em série, mas deixo algumas orientações que considero essenciais: construir uma equipa com talentos adequados e complementares, desenvolvendo as pessoas ao mesmo tempo que a empresa cresce; ser capaz de identificar e estar preparada para aproveitar oportunidades; ser ambiciosa, mas também realista, tendo em conta o que se pode fazer com os recursos disponíveis (incluindo financeiros) e desenvolver uma rede de contatos, ter pares com quem trocar ideias e experiências.

Uma mulher que a inspire…

Simone Veil, uma antiga líder política francesa. Sobreviveu ao pior da Segunda Guerra Mundial, foi magistrada, ministra e a primeira presidente eleita do Parlamento Europeu. Lutou durante décadas contra a discriminação das mulheres e pela construção da Europa. Dizia que o nosso dever não é apenas recordar, mas ensinar e transmitir, o que continua a ser uma mensagem muito atual para mim.

Luísa Vasconcelos e Sousa, Country Manager da Swappie

Luísa Vasconcelos e Sousa

Luísa Vasconcelos e Sousa é a country manager da Swappie, empresa europeia especializada na compra e venda de iPhones recondicionados. Com uma sólida experiência em Marketing e Banca, incluindo três anos na sede europeia do Facebook, a luso-norueguesa, com apenas 28 anos, faz-se valer do seu conhecimento dos mercados nórdicos para expandir a presença da Swappie em território nacional, enquanto contribui para valorizar a economia circular e reduzir o impacto do lixo eletrónico no mundo

Como é ser mulher em 2025?

Para mim, ser mulher em 2025 significa continuar a desafiar barreiras e a redefinir o que significa liderança, resiliência e inovação. No mundo profissional, ser mulher exige, muitas vezes, uma dose extra de coragem para reclamar um lugar à mesa, para fazer ouvir a sua voz e para quebrar padrões. Felizmente, temos assistido a avanços significativos na igualdade de oportunidades, mas ainda há muito a fazer. Nas últimas décadas na UE, a violência e os estereótipos baseados no género continuam a existir: as mulheres continuam a ganhar cerca de 16% menos que os homens e representam uma baixa percentagem (8%) dos cargos de presidente executivo de grandes empresas.

No entanto, sinto que nunca houve um momento tão propício para as mulheres se afirmarem, para liderarem com autenticidade e para influenciarem a mudança, tanto no setor da tecnologia como noutros mercados. O mais importante é garantir que esta transformação não fica apenas no discurso, mas que se reflete em mais oportunidades e condições equitativas para todas.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

A decisão de aceitar o desafio de liderar a Swappie em Portugal foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes da minha carreira. Foi uma escolha que exigiu compromisso, dedicação e uma grande vontade de impactar positivamente o setor da tecnologia recondicionada. Saber que trabalho numa empresa que defende um modelo de consumo mais sustentável e acessível a todos e está a contribuir para a mudança dos hábitos de consumo dos portugueses dá-me uma enorme satisfação. Além disso, tenho um orgulho especial no facto de liderar uma equipa composta inteiramente por mulheres. Num setor ainda predominantemente masculino, acredito que estamos a quebrar barreiras e a mostrar que há espaço para mais mulheres na tecnologia e na liderança. Liderar uma equipa talentosa e motivada, que partilha a mesma visão, tem sido uma experiência enriquecedora e de grande aprendizagem ao longo dos últimos 4 anos.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia?

Muitas mulheres ainda enfrentam desafios como a falta de reconhecimento, a dificuldade em conciliar a vida profissional e pessoal, e até a síndrome do impostor, que tantas vezes nos impede de avançar. Também eu senti isso no início da minha carreira e, durante muito tempo, questionei as minhas próprias capacidades. No entanto, ter o apoio de uma mentora, fora do meu ambiente de trabalho, ajudou-me a reconhecer o meu valor, a superar essas inseguranças e a ganhar a confiança necessária para evoluir e abraçar novos desafios.

A meu ver, é fundamental que as empresas criem ambientes onde as mulheres possam crescer e ser valorizadas. Além disso, temos de continuar a encorajar o networking entre mulheres, pois o apoio mútuo e a partilha de experiências são ferramentas poderosas para fomentar mudanças.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

Confiar em ti e na tua visão. O caminho pode ser desafiante, mas a determinação e a autenticidade são os melhores aliados para superar obstáculos. Rodeia-te de pessoas que te inspiram e nunca pares de aprender. Nem sempre as respostas estarão à vista, mas a capacidade de adaptação e a resiliência são fundamentais para crescer e inovar. Não tenhas medo de falhar – os erros fazem parte do processo e são oportunidades valiosas para evoluir. Mantém sempre a humildade, pois há algo a aprender com cada experiência e com cada pessoa à tua volta. Tem paciência, porque o sucesso constrói-se com tempo e consistência. E age sempre com boas intenções, com integridade e com vontade genuína de criar impacto. Acima de tudo, lembra-te que o sucesso não se mede apenas pelo que conquistas, mas pelo impacto positivo que consegues gerar.

Uma mulher que a inspire…

A minha inspiração vem de muitas pessoas, desde colegas de trabalho a amigas, que todos os dias demonstram que o talento e a ambição não têm género. Inspiro-me em todas as mulheres que desafiam o status quo e que, com coragem e determinação, abrem o caminho para as gerações futuras. Todas, sem exceção, que inovam, que lideram com empatia e que acreditam que a mudança começa dentro de cada uma de nós. No entanto, se tivesse de destacar uma figura em particular, seria a Sheryl Sandberg. Enquanto estudava, o meu irmão ofereceu-me o livro Lean In, que me marcou profundamente. A forma como incentiva as mulheres a ocuparem o seu espaço e a confiarem em si mesmas fez-me refletir sobre a importância da ambição e da autoconfiança. Foi também aqui que ouvi falar, pela primeira vez, da síndrome do impostor, um conceito que desconhecia, mas do qual mais tarde me consciencializei e aprendi a ultrapassar.

Anos depois, acabei por trabalhar na Meta, onde a Sheryl, na altura, era COO. Tive a oportunidade de ver de perto a aplicação dos princípios que ela defendia, uma experiência verdadeiramente enriquecedora que recordo com grande carinho.

Kate Cornell, general partner de Acurio Ventures

Kate Cornell

Kate Cornell é um exemplo de liderança em start-ups, empresas de capital de risco e de gestão estratégica. Desde 2022, desempenha a função de General Partner da Acurio Ventures. Formada em Oxford, foi CEO da Jobandtalent, onde liderou uma equipa de 500 pessoas e impulsionou um crescimento de 80 vezes na receita, atingindo 40 milhões de euros em quatro anos. Antes disso, foi CEO da Glossybox, ajudando a lançar o serviço dentro do ecossistema Rocket Internet, cofundou a The Continental Pantry e liderou a estratégia da marca de moda Jaeger para o fundo Better Capital. Com experiência em private equity e gestão de fortunas, passou ainda pelo Credit Suisse, em Zurique, e pelo Goldman Sachs, em Londres.

Como é ser mulher em 2025?

Ser uma mulher em 2025 significa navegar num ambiente com avanços significativos em termos de equidade, mas ainda com desafios. Assistimos a um aumento do número de mulheres em cargos de liderança e a uma maior consciencialização da importância da diversidade. No entanto, ainda existe uma lacuna no acesso ao financiamento e na representação em setores-chave como a tecnologia e o capital de risco.

É essencial continuar a trabalhar para a igualdade, procurando sempre os melhores talentos. No final, o que nos permite continuar a aprender e a crescer é ter a melhor equipa possível, diversificada e empenhada. O talento, a diversidade de perspetivas e as competências complementares são essenciais para impulsionar a inovação e alcançar o sucesso.

O que é que as mulheres (mais concretamente, as portuguesas) precisam de fazer para conseguir uma maior representação em cargos de liderança?

Três coisas fundamentais: definir o seu objetivo e preparar-se para o alcançar, , rodear-se de pessoas que acrescentam valor e manter-se em constante evolução, aceitar desafios e estar sempre à procura de novas oportunidades de crescimento. A curiosidade e a adaptabilidade são fundamentais para o sucesso.

Se pudesse dar um conselho a uma jovem empresária, qual seria?

O meu conselho seria: não tenham medo de correr riscos e de reivindicar o vosso espaço. O caminho do empreendedorismo está cheio de desafios, mas também de oportunidades. Confie nas suas capacidades e no valor das suas ideias. Rodeie-se de aliados que a podem impulsionar, que lhe tragam novas perspetivas e que a ajudem a crescer. Não subestime o poder da perseverança: o sucesso raramente é imediato, mas com preparação, perseverança e determinação, tudo está ao seu alcance.

Uma mulher que a inspire…

Sara Blakely, a fundadora da Spanx. Não só criou uma marca global a partir do zero, como o fez sem qualquer experiência no sector e com uma visão clara. Utilizou o seu sucesso para capacitar outras mulheres empresárias através de investimento e orientação. Personifica na perfeição a combinação de ambição, resiliência e generosidade que, na minha opinião, define os grandes líderes.

Filipa Pinto de Carvalho, cofundadora da AGPC 

Filipa Pinto de Carvalho

Advogada há mais de 15 anos, Filipa Pinto de Carvalho decidiu aventurar-se no mundo do empreendedorismo com a criação da sociedade AGPC, através da qual ajuda os seus clientes estrangeiros a investir ou lançar os seus negócios em Portugal. Paralelamente, cofundou a Here Partners, uma empresa de consultoria que tem como objetivo aproximar o financiamento dos empreendedores, start-ups e PME. Além disso, trabalha com fundadores e empresas nacionais e internacionais para construir projetos de impacto em Portugal e na Europa. É também cofundadora da RedBridge Lisbon, um clube transfronteiriço que liga as comunidades empreendedoras e de investidores de Silicon Valley e Lisboa.

Como é ser mulher em 2025?

Ser mulher em 2025 é, efetivamente, uma realidade mais confortável do que em muitos períodos da história e quando comparamos com outras partes do mundo, onde os direitos e liberdades das mulheres estão a ser seriamente ameaçados. Em países como Portugal e na Europa, estamos a viver num contexto onde, embora ainda haja desafios, temos mais liberdade, oportunidades e direitos do que em muitas outras geografias. Contudo, o momento geopolítico atual exige uma reflexão profunda e a criação de mecanismos de diálogo, abertura e convergência, com o objetivo de apoiar financeiramente e publicamente projetos que promovem a democracia e, com ela, os direitos e liberdades das mulheres. Não podemos ter medo de agir ou de levantar a voz contra narrativas populistas que tentam retroceder no avanço que já conquistámos. Vemos, de facto, uma evolução a acontecer e muitas conquistas no que respeita aos direitos das mulheres, mas ainda existe espaço e muito caminho pela frente. O nosso papel é, cada vez mais, o de ser agentes de mudança e de afirmar, com coragem, que o caminho para a equidade é irrenunciável.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

A decisão de sair da minha zona de conforto e criar as minhas próprias empresas do zero. Foi um passo dado com base numa motivação profunda de fazer as coisas de acordo com os valores em que acredito, mesmo sem ter experiência em empreendedorismo ou até sobre vendas – uma área que, infelizmente,  não é suficientemente abordada em Direito Dispor-me a aprender sobre o que é necessário para começar uma empresa, acabando por explorar áreas que vão muito além do meu conhecimento técnico de base, e dar esses primeiros passos, ultrapassar o receio de falhar e trabalhar com foco e determinação para que os projetos sobrevivessem a essa fase inicial e fossem bem sucedidos.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia?

Penso que a grande transformação pode vir já nas próximas gerações se formos intencionais em relação à cultura a que estamos a expor as nossas filhas e os nossos filhos. Devemos criar um ambiente onde, desde a infância, há abertura para que as meninas possam crescer com liberdade e espaço para expressar o que sentem, pensam e desejam fazer. Uma cultura que não educa pelo medo, mas que alimenta um espírito de conquista e ambição saudável e um sentimento de que, com trabalho e intenção, podem ser quem quiserem ser, levaria certamente mais mulheres a chegarem onde desejam e, aquelas com vocação para liderar, a poder fazê-lo mais naturalmente e com mais confiança.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

Não ter medo ou vergonha de ter ambição e de o expressar. É importante procurar conhecer, trocar experiências e obter ajuda de pessoas longe da rede normal de contatos e que podem contribuir para a concretização dos objetivos. Hoje em dia, existem várias comunidades e fóruns que nos permitem entrar em contacto com pessoas com carreiras profissionais, experiências e de geografias completamente diferentes das nossas. Perceber qual é o público alvo ou onde no mundo se gostaria de chegar com o seu projeto e procurar aproximar-se de pessoas que podem ajudar porque já estão inseridas nesse grupo ou geografia é também uma boa estratégia. E não recear enviar uma primeira mensagem a frio, abraçar o atrevimento de procurar e pedir ajuda. Há mais pessoas disponíveis para tomar um café e ajudar do que podemos imaginar e essas perspetivas diferentes podem ser realmente transformadoras.

Uma mulher que a inspire…

Sinto que as pessoas tendem a responder a este tipo de perguntas dando exemplos de pessoas já mais velhas, com longas carreiras e em locais distantes, o que pode parecer um pouco longínquo ou intangível para uma jovem empreendedora em Portugal. Claro que essas referências são valiosas e também as tenho, mas optaria por mencionar mulheres da minha geração e do nosso ecossistema, que são role models e que estão disponíveis para ajudar as novas gerações. A Cristina Fonseca é um exemplo de uma mulher empreendedora extraordinariamente bem sucedida em áreas tradicionalmente, e erradamente, associadas a um domínio masculino, sendo cofundadora de duas empresas de sucesso e investidora, e também cofundadora da Indico Capital Partners. A Cristina tem sido uma voz ativa na construção do ecossistema empreendedor em Portugal, partilhando a sua experiência e visão sobre o que os fundadores portugueses precisam de considerar para crescer e competir globalmente. Incentiva-os a terem uma ambição internacional para os seus negócios desde cedo, procurando noutros mercados, como o dos EUA, aquilo que possam precisar para crescer. Acredita – e transmite – que essa exposição a ambientes desafiantes os torna mais preparados e competitivos.

Márcia Pereira, CEO da Bandora

Márcia Pereira

Márcia Pereira é engenheira mecânica, com especialização em Termodinâmica Aplicada pelo Instituto Superior Técnico (IST). Possui um doutoramento em Sustainable Energy Systems pelo programa MIT Portugal. Com quase 20 anos de experiência, passou pela ADENE – Agência Nacional de Energia e pela GLINTT, onde geriu projetos focados na eficiência energética. Ao trabalhar numa start-up de hardware para iluminação, percebeu que a chave para a eficiência energética estava no software e que os sistemas de climatização representavam até 60% do consumo total. Essa descoberta levou-a a fundar, em 2017, a Bandora, que desenvolve soluções para tornar edifícios mais sustentáveis, autónomos e confortáveis.

Como é ser mulher em 2025?

Ser mulher em 2025 continua a ser um misto de emoções. Por um lado, sinto-me privilegiada por ser europeia, por ter tido acesso ao ensino superior e, em teoria, às mesmas oportunidades que os homens. No entanto, estou preocupada com o futuro das minhas filhas e da sua geração. Com a queda das políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e o aumento de um discurso polarizado e sem filtros, receio que possamos assistir a um retrocesso nos direitos conquistados ao longo das últimas décadas.

Qual a decisão profissional de que mais se orgulha?

Ter fundado a Bandora quando estava grávida da minha segunda filha e, mesmo sem investimento, ter persistido no meu sonho.

O que falta às mulheres portuguesas para terem uma maior representatividade nos cargos de liderança/chefia?

Oportunidades iguais e que o nível de exigência seja o mesmo para todos. Atualmente, a percentagem de mulheres com estudos superiores em Portugal é significativamente superior à dos homens – 61% contra 39%. No entanto, essa proporção inverte-se quando analisamos os cargos de liderança. Compreendo que a maternidade possa ser um fator que penaliza as mulheres, mas isso não deveria justificar a desigualdade de acesso a cargos de topo.

Um conselho para uma jovem empreendedora?

As mulheres muitas vezes assumem-se como super-mulheres, acreditando que conseguem fazer tudo ao mesmo tempo. Mas a verdade é que ninguém consegue. Peçam ajuda, rodeiem-se de mentores e advisors. Não tenham receio de partilhar desafios e aprender com os outros.

Uma mulher que a inspire…

Yulia Stark, fundadora e presidente da EWA – European Women Association. Criou o primeiro programa de aceleração para start-ups lideradas e fundadas por mulheres nos Emirados Árabes Unidos, o EWA Accelerator. É para mim um exemplo de perseverança e determinação.

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