Entrevista/ “Sem comandantes não se pode criar emprego, ter mais aviões e turistas”

José Lopes, diretor da easyJet para Portugal

A companhia aérea europeia de origem inglesa acaba de anunciar novas rotas de Portugal para o mundo. Falámos com José Lopes, diretor da easyJet para Portugal, que reforçou a aposta estratégica da empresa no território nacional e o seu contributo para fortalecer a atividade turística no país.

Que balanço faz destes cerca de seis anos que está na easyJet Portugal?
Foram muito positivos. Abrimos duas bases em Portugal (Lisboa e Porto), com nove aviões baseados, criámos mais de 350 postos de trabalho locais diretos, triplicando praticamente o número de passageiros transportados de/para Portugal, ultrapassando a fasquia dos seis milhões.

Crescemos, de forma constante, no total dos quatro aeroportos onde operamos (Lisboa, Porto, Faro e Funchal) ao longo desse período e operamos agora 63 rotas para oito países comunitários, além dos voos domésticos. Estamos muito contentes por sermos um dos principais responsáveis pelo êxito e pelo crescimento que o turismo em Portugal tem registado durante os últimos anos. Queremos continuar a ser relevantes para o país e estamos ansiosos pelo futuro.

Quais têm sido os grandes desafios da transportadora?
O atual congestionamento do aeroporto Humberto Delgado, devido à falta de slots, e a não aplicabilidade das regras que permitem captar profissionais de alto valor que queiram vir para Portugal à profissão de comandante, têm sido os principais desafios para a easyJet e para todas as companhias.

Sem mais comandantes não se pode criar mais emprego, basear mais aviões e trazer ainda mais turistas. A falta de tomada de ação neste tema prejudica sobremaneira a economia nacional.

A capacidade declarada do aeroporto Humberto Delgado é de 40 movimentos por hora. Atualmente, a ANA opera neste aeroporto, em média, 38 movimentos por hora, o que representa uma ocupação de 90% das slots. Existem algumas medidas que já deveriam ter sido implementadas para contrariar este cenário e que poderiam permitir o aumento do número real de movimentos por hora para 42, já em 2020.

O Humberto Delgado está extremamente congestionado e a solução “Portela +1” já está atrasada para resolver este problema. Apoiamos a execução “Portela+1” porque vai permitir não só o Montijo aparecer, mas também que a Portela cresça mais e substancialmente.

É nisto que temos estado a trabalhar, com a ANA, com o Governo e com a NAV. É urgente que se tomem decisões, como o encerramento da pista 17/35, e que a ANA avance com investimentos como a criação de mais saídas rápidas, a extensão do taxiway até à cabeceira da pista, a criação de mais stands e a ampliação do Terminal 1 com posições para embarque e desembarque a pé.

De que forma a easyJet tem fortalecido a atividade turística económica em Portugal?
O crescimento da easyJet foi o dobro do turismo no país nos últimos anos, pelo que significa que respondemos com eficiência às necessidades dos passageiros e do setor. Iremos continuar a dar resposta aos desejos dos nossos passageiros apoiando, simultaneamente, o desenvolvimento da economia portuguesa.

Nascemos com a liberalizacão do espaço aéreo europeu, proporcionando a cada passageiro a oportunidade de desfrutar de experiências diferentes, aos melhores preços. Democratizámos o ato de voar, que deixou de ser um luxo para ser algo normal, associado a uma nova forma de viver- surgiu a easyJet generation.

Ao entrarmos em destinos diferentes, contribuímos para aumentar a competitividade da rota, reduzindo de forma dramática a tarifa média praticada. Depois, o facto de sermos líderes em mercados como Suíça, Reino Unido e Itália, por exemplo, dá-nos ainda mais força para promover Portugal além-fronteiras.

O facto de termos um website e uma app, que são armas de vendas sem comparação, que utilizamos para dar a conhecer Portugal em todo o mundo, mas em especial nos principais mercados emissores da Europa, tem um impacto bastante positivo para a economia do país a curto e a longo prazo.

Portugal é um mercado importante para a easyJet?
Claro que sim. É estratégico e a prova disso é o facto de estarmos a comemorar 20 anos de atividade no país. Por vezes, quando se pensa em Portugal, limitamo-nos a pensar apenas em Lisboa, mas é importante perceber que a easyJet nunca olhou para Portugal como sendo só Lisboa. Temos vindo a crescer de forma transversal nos quatro aeroporto, Lisboa Porto Faro e Funchal. Aliás, num momento em que Faro e o Funchal perdem tráfego devido à falência de alguns operadores, nós temos vindo a crescer, a abrir novas rotas e a alargar o número de países que servimos. Faro registou o maior crescimento percentual da easyJet este inverno, com um aumento de tráfego de quase 17%, o que demonstra que estamos empenhados e que contribuímos ativamente para esbater o efeito da sazonalidade na região.

Dos mais de 83 milhões de passageiros transportados por nós, seis milhões pertencem ao mercado português. Se olharmos para os mercados onde estamos – e são 33 países – Portugal tem um peso bastante relevante e continuará a ser, naturalmente, cada vez mais, umas das fortes apostas da easyJet.

Nos últimos anos, o crescimento no país tem sido o dobro do crescimento global da nossa rede. Apenas abrandou este ano devido à falta de capacidade disponível no aeroporto de Lisboa. Tudo isto demonstra que apostamos em Portugal de forma contínua e estruturada, num mercado com grande potencial de crescimento. Anunciámos recentemente a aposta no aeroporto do Porto, com a nova rota Porto-Nice, e no sul do país, com a rota Faro-Manchester.

Que outras rotas podemos esperar para este e o próximo ano?
A abertura de novas rotas é apenas uma das nossas estratégias para o país. Continuamos a trabalhar, em conjunto com o Governo português para criar as condições de competitividade necessárias, guiando-nos pelo objetivo comum de elevar a boa reputação de Portugal a toda a Europa.

Abrimos menos rotas do que as previstas, mas temos continuado a apostar em novas e na diversificação da nossa oferta aos portugueses. A nossa estratégia comercial também passa pelo aumento da frequência semanal de voos que são interessantes e importantes para os passageiros. Estas limitações de slots que temos em Lisboa e no Porto requerem uma análise mais detalhada das oportunidades que vão surgindo e continuaremos a aproveitar todas as faixas horárias possíveis para melhorar o portfólio.

Também abrimos novas rotas do Porto para Zurique e, mais recentemente, Ibiza, ligámos Faro a Bordéus e Milão e iremos abrir a operação para Nápoles – que terá três frequências semanais, e Berlim, a partir de dia 2 de agosto, com a mesma frequência. São, aliás, as primeiras rotas da easyJet a ligar Faro a Itália. Ainda mais Portugal como o destino Europeu de excelência que é.
Continuamos atentos às oportunidades que vão surgindo. Em setembro, quando colocarmos à venda a oferta para o verão de 2019, teremos mais novidades para apresentar.

Quantos passageiros transportaram em 2017?
No último ano fiscal (de 1 de outubro de 2016 a 30 de setembro 2017), a companhia atingiu um número recorde de passageiros, um total de 80,2 milhões, um crescimento homólogo de 9,7%, e uma taxa de ocupação recorde de 92,6% (em 2016 foi de 91,6%), o que reflete a forte posição na rede aérea e a robusta proposta comercial.

Em Portugal, no mesmo período a easyJet transportou 6,2 milhões de passageiros, um crescimento homólogo de 15.2%, o que também representou um máximo de sempre.

Qual é o volume de passageiros de negócios?
O número global de passageiros, no terceiro trimestre deste ano fiscal, registou um aumento de 9,3%, para 24,4 milhões, impulsionado pelo aumento na capacidade de 8,9%, para 26,2 milhões de lugares, que foi inferior ao originalmente planeado devido a algumas irregularidades.

Quando olhamos para o nosso segmento corporate, conseguimos perceber que o volume de passageiros de negócios a escolher os voos da easyJet tem vindo a sofrer um significativo aumento, representando um volume de 16%. O mais valorizado, para além dos serviços, é a alta performance de pontualidade, que é fruto do contínuo investimento no programa de resiliência para melhorar o seu On Time Performance (OTP).

Quanto representam no volume de negócios da empresa?
A receita total no ano fiscal de 2017 (outubro de 2016 a setembro de 2017) foi de 5,047 milhões de libras, um aumento de 8.1% relativamente ao ano anterior.

Recentemente, apresentámos os resultados relativos ao terceiro trimestre do ano fiscal de 2018 (outubro de 2017 a de junho de 2018) e a receita total representa um aumento de 9.4% relativamente ao período homólogo, fixando-se nos 1,517 milhões de libras.

A empresa termina o ano fiscal em setembro. Quais são as expetativas?
Felizmente, são muito boas. Perspetivamos um aumento do lucro global, antes de impostos, no exercício fiscal de 2018 para um intervalo entre 550 e 590 milhões de libras.

A esyJet tem crescido em Portugal em linha com a restante rede?
Sim, apesar das limitações, no primeiro semestre do ano fiscal de 2018, que corresponde à temporada de inverno (setembro 2017 a março 2018), conseguimos crescer 8,4%. Mas podíamos ter crescido muito mais, caso Lisboa não estivesse congestionada e se o Porto não tivesse limitações temporárias de capacidade. Felizmente para o ano já será possível retomar o crescimento no aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Este crescimento está alinhado com o resultado global, cujo crescimento foi de 8,8% no primeiro semestre. Neste período foram transportados 2,070 milhões de passageiros pela easyJet – 1,17 milhões em Lisboa -, com uma taxa de ocupação de 95,7%, a mais elevada da rede. São mais 2,1 pontos percentuais que em 2017. É o resultado de 63 rotas para sete países, em 33 aeroportos.

Referiu este ano que o crescimento easyJet iria desacelerar em Portugal devido ao congestionamento em Lisboa e a alguma falta de capacidade temporária no Porto. O que é preciso fazer para contrariar este cenário?
A sobrelotação do aeroporto de Lisboa limitou o crescimento da easyJet durante o último inverno e, infelizmente, até ao final do nosso ano fiscal, o impacto ainda será maior. O crescimento da nossa capacidade em Lisboa este verão vai ser 0%. Continuamos a crescer globalmente cerca de 6% – 8% ao ano, o que quer dizer que essa capacidade está a ir para outros mercados.

Em Portugal, é urgente avançar com o encerramento definitivo da pista 17/35 por forma a avançarmos com a construção da nova torre de controle, para que seja possível dotar o aeroporto Humberto Delgado de mais stands para estacionamento de aeronaves e para que se avance com a expansão do terminal 1, com posições de embarque e desembarque a pé. Estas medidas permitirão o crescimento de tráfego e a operação da easyJet de novo no Terminal 1, com melhorias significativas na qualidade da experiência vivida pelos passageiros. Mas são medidas que demoram a implementar (quase 3 anos).

Queremos manter-nos otimistas e confiantes de que iremos conseguir continuar a ser relevantes para o desenvolvimento do país e para os portugueses, pelo que continuaremos a crescer em inovação e a melhorar, cada vez mais, a qualidade de serviços. Mas para isso, é fundamental que os governantes tomem medidas urgentes, pois estamos extremamente limitados na capacidade de continuar a crescer.

O que mais o preocupa nos próximos tempos?
Que nada seja feito e que fiquemos estagnados em Lisboa até 2022. Seria um desastre para a economia nacional. Perderíamos imensas oportunidades de crescimento que seriam aproveitadas por mercados concorrenciais ao nosso. Não podemos deixar que isso aconteça.

Quais os objetivos da empresa em Portugal para os próximos dois anos?
O compromisso é continuar a crescer em Portugal como um todo, otimizando e utilizando todo o espaço disponível nos quatro aeroportos onde estamos.

Somos uma companhia de aviação pan-europeia, com bases em oito países. E em Portugal queremos ser cada vez mais vistos como portugueses. A simpatia e o profissionalismo das nossas tripulações portuguesas vão continuar a ajudar-nos a fazer crescer esse sentimento em todos os que diariamente escolhem voar connosco em negócios ou lazer.

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