Opinião
Saber gerir o dinheiro

Num ranking do Banco Central Europeu, relativo a 2020, os portugueses surgem em último lugar, entre os 19 países da zona euro, no que respeita a literacia financeira. Isto significa que uma parte significativa da nossa população não domina os conceitos financeiros, daqui resultando uma deficiente capacidade para tomar decisões informadas relativamente à gestão do dinheiro.
Ora, este défice de conhecimento tem efeitos negativos na economia doméstica e pessoal, nomeadamente ao nível do aforro, do controlo de gastos, do investimento de poupanças, do acesso ao crédito, do planeamento financeiro ou da gestão de riscos.
Neste cenário, importa atuar em dois patamares: na escola e na sociedade. Sendo um espaço privilegiado de aprendizagem, a escola afigura-se como o local ideal para adquirir competências básicas de literacia financeira e consciencializar as novas gerações para a importância de gerir racionalmente as finanças pessoais. Por outro lado, há também que educar a sociedade para um uso mais consciente e responsável do dinheiro, através de formação específica, campanhas de sensibilização ou ações nos media, por exemplo. Tudo isto para que cada vez mais pessoas apliquem conscienciosamente os seus rendimentos, evitem as situações de desperdício e sobre-endividamento, desenvolvam hábitos de poupança e tomem boas decisões de investimento.
Como estamos a verificar na atual crise inflacionista, que motivou uma vertiginosa subida dos preços e das taxas de juro, é fundamental que as pessoas garantam a sua segurança financeira, adotando comportamentos proporcionais aos rendimentos. Acresce que, a prazo, a literacia financeira ganha uma importância superlativa com a progressiva insustentabilidade do Estado Social, provocada pelo envelhecimento demográfico. Prevê-se que as futuras reformas sejam significativamente mais baixas, podendo representar apenas 50% dos salários hoje auferidos. Além disso, os sistemas públicos de saúde viram os custos disparar com o aumento da esperança de vida – e consequente agravamento de doenças crónicas –, circunstância que vai exigir aos contribuintes e utentes uma maior comparticipação dos seus cuidados médicos.
Tornou-se, por isso, premente a necessidade de gerir melhor as finanças pessoais. Necessidade, essa, que decorre também do aumento da instabilidade laboral e consequentemente de rendimentos. A dinâmica económica atual leva as pessoas a mudarem frequentemente de emprego, muitas vezes intercalando com períodos de estudo. Ora, para enfrentar esta inconstância profissional é indispensável uma almofada de poupança e/ou investimentos que garantam segurança financeira.
Também a emergência climática exige comportamentos financeiros mais sustentáveis, em particular no que se refere ao consumo. O chamado “consumo sustentável” implica que o processo de decisão de compra seja consciente, ponderado e racional, de forma a evitar a aquisição de bens e serviços supérfluos, potencialmente capazes de prejudicar quer o ambiente, quer as finanças pessoais.
Dito isto, parece claro que a iliteracia financeira deve ser combatida de forma prioritária em Portugal. As suas consequências para o desenvolvimento económico e social do país e para a qualidade de vida, a emancipação cívica e a dignidade humana dos portugueses não devem ser menorizadas. Há que lançar e apoiar projetos que visem, justamente, promover comportamentos financeiros responsáveis e sustentáveis, designadamente entre os mais jovens.
De resto, a ANJE assinou, em outubro, com o IPDJ, e sob os auspícios da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, um memorando para a criação de um programa nacional de ensino na área do empreendedorismo, que abarca, justamente, a literacia financeira.
*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários