Opinião

Revalorização do fator humano

Alexandre Meireles, presidente da ANJE*

Previsões algo distópicas apontavam para uma razia de empregos nas grandes economias mundiais, devido à digitalização das cadeias de valor e à emergência da chamada indústria 4.0. Mas o que vemos hoje, passada a fase crítica da crise sanitária, é uma preocupante falta de mão-de-obra e uma agressiva disputa por talento nas economias mais desenvolvidas, realidade a que Portugal não escapa.

Aliás, os confinamentos, o absentismo por doença e as dificuldades de contratação durante o período mais agudo da pandemia provocaram uma verdadeira crise de mão-de-obra em vários sectores da nossa economia, desde o turismo à construção civil, passando pelas indústrias manufatureiras. O mesmo se verificou nos restantes países europeus e nos Estados Unidos, apesar do peso da automação na atividade produtiva destas economias ser bastante maior do que no tecido empresarial português.

Serve isto para dizer que, por ora, as potencialidades da inteligência artificial, da robótica, do big data, da internet das coisas, da computação em nuvem, entre outras tecnologias digitais, não estão a substituir o capital humano nas cadeias de valor. Isto apesar da transição digital ser, de facto, responsável por mudanças profundas nos processos internos das empresas, na sua capacidade produtiva, nos seus modelos de negócio e na sua interação com o mercado.

Assistimos, paradoxalmente, a uma revalorização do talento e do capital humano, sem embargo de todas as reconhecidas vantagens da transição digital nas empresas. De resto, a massificação das tecnologias digitais está, também ela, a gerar novos empregos, sobretudo em áreas de ponta como a programação de software, o desenvolvimento de sistemas, a gestão de base de dados, a engenharia de redes, o webdesign e a cibersegurança, por exemplo. Trata-se, ademais, de empregos muito qualificados e, por isso, muito disputados pelo mercado de trabalho e remunerados acima da média.

Tudo isto para sublinhar que o sucesso de uma empresa depende em larga medida da qualidade da sua equipa, e não apenas do caráter disruptivo da ideia de negócio, do valor acrescentado do produto, da intensidade de inovação ou das oportunidades de mercado. Uma boa equipa pode, apesar de tudo, melhorar um produto menos conseguido e torná-lo atrativo para o mercado. Já um bom produto não consegue compensar uma má equipa, acabando por ser rejeitado pelo mercado.

O empreendedorismo é muitas vezes associado a individualismo. Nada de mais errado. Por muito visionário, determinado e dinâmico que um empreendedor seja, só terá êxito se no seu negócio souber rodear-se de colaboradores competentes e formar uma equipa coesa, empenhada e multidisciplinar.

Uma boa equipa tem necessariamente de ser composta por capital humano qualificado, com competências complementares e personalidades compatíveis. Uma empresa só com especialistas em tecnologias ou só com gestores e economistas ou só com criativos é um risco, pois falta interdisciplinaridade, diversidade de competências e consequentemente pluralidade de pontos de vista. Tem de haver um equilíbrio entre executivos, criativos, tecnológicos e operacionais. A ausência de diversidade humana tende a afunilar o modelo de negócio, limitando as perspetivas de crescimento das empresas.

Assim sendo, as empresas devem não só prosseguir com os seus esforços de transição digital, mas também investir em equipas mais qualificadas, com competências críticas e diversificadas do ponto de vista da especialização técnico-científica, do género, da idade e da experiência laboral. As dinâmicas de equipa, a maximização do talento e o desenvolvimento de skills são fundamentais para o sucesso e crescimento das empresas.

*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

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Alexandre Meireles

Alexandre Meireles

Alexandre Meireles, 38 anos, foi eleito (no final de fevereiro 2020) presidente da Direção Nacional da ANJE- Associação Nacional de Jovens Empresários, para o triénio 2020-22. Natural de Amarante, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica, no ISEP, e tem o Curso Geral de Gestão da Porto Business School. A sua carreira profissional esta ligada a diferentes setores de atividade, entre os quais restauração e saúde. No período de 2009 a 2011 foi energy division coordinator no grupo Mota-Engil, e depois dessa... Ler Mais..

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