Entrevista/ “A minha missão é liderar a empresa em direção ao sucesso através da contínua inovação tecnológica”

Frederico Costa, CEO da Biometrid

“Se queremos crescer e acelerar o nosso negócio e tirar o maior partido das oportunidades que o mercado nos apresenta todos os dias. Temos que ser ambiciosos, temos que nos focar no crescimento 10x e não no crescimento orgânico e natural”, defende Frederico Costa, CEO da Biometrid.

A Biometrid é uma start-up do Porto, 100% portuguesa, especialista em inteligência artificial, biometria, entre outras tecnologias. Neste momento, é responsável pela emissão digital via biometria da Chave Móvel Digital, por exemplo, e soma no portefólio uma série de entidades privadas e públicas, tais como CGD, Citibank, NOS, Águas de Santarém, e Link Consulting. Frederico Costa é o seu CEO e em entrevista ao Link to Leaders revela que, em 2023, a receita da start-up foi de 2,7 milhões de euros em vendas e que alcançou, pela primeira, vez um EBITDA positivo de 750 mil euros.

A Chave Móvel Digital é o seu projeto bandeira “pela sua complexidade e pelo impacto direto na criação de valor para a economia nacional”, mas, explica Frederico Costa, os planos da Biometrid vão além disso e passam por expandir internacionalmente, nomeadamente a explorar várias oportunidades no continente africano, e continuar a forte aposta em inovação.

Qual a sua missão enquanto CEO da Biometrid?

A Biometrid opera no mercado da Identidade Digital, um mercado em crescimento e que se revela de grande importância para as organizações do setor público e privado. Enquanto CEO a minha missão é liderar a empresa em direção ao sucesso através da contínua inovação tecnológica da nossa plataforma, de uma visão estratégica equilibrada entre curto e médio e longo prazo e através de um modelo de gestão eficaz que dê agilidade à companhia. Mais, adaptar a empresa a uma visão global que nos permita expandir internacionalmente para mercados onde a Identidade Digital é uma necessidade de curto prazo.

O que distingue a Biometrid de outras empresas?

A Biometrid é uma tecnológica 100% portuguesa e a nossa visão é que a Identidade Digital é uma das últimas etapas do processo de transição digital que se iniciou há anos. A emergência da Inteligência Artificial Generativa, para além de tudo o que traz de positivo, vem também acompanhada de riscos como roubo de identidade, “Spoofing” (em que uma pessoa ou programa se identifica com sucesso como outro falsificando dados, para obter uma vantagem ilegítima), e vários outros desafios que exigem aos setores público e privado um significativo aumento de investimentos para garantir segurança aos clientes e cidadãos e protegerem com isso valor económico para as organizações.

“A nossa plataforma tecnológica (…) e ajuda as empresas a garantir rapidez, eficiência e segurança na jornada dos seus clientes”.

Quais os serviços que disponibilizam neste momento? E quais os mais requisitados?

A nossa plataforma tecnológica integra um conjunto de soluções de Verificação de Identidade como prova de vida, KYC (onboarding Digital), Prova de Vida (Liveness), Comparação Facial (Face Match),  Autenticação Biométrica Forte, Geração de Contratos, entre outros, e ajuda as empresas a garantir rapidez, eficiência e segurança na jornada dos seus clientes. Os requisitos mudam ligeiramente mediante a indústria como, por exemplo, o setor financeiro em que uma solução de AML (Anti Money Laundering) pode ser um requisito do operador que nos procura.

Quem são os clientes da Biometrid? Quem mais vos procura?

Temos um conjunto alargado de clientes que usam uma parte ou a totalidade da nossa solução tecnológica. Há no entanto três que me parece relevante mencionar: o Citibank Polónia com quem acabamos de estender o contrato para mais três anos, que utiliza a nossa plataforma de confirmação de identidade para aberturas de conta 100% digitais; a CGD Portugal, em que a Biometrid é a solução de verificação de identidade para a adesão ao Caixa Direta; e AMA – Agência para a Modernização Administrativa, em que certificamos e verificamos a identidade do cidadão para a atribuição da Chave Móvel Digital (CMD) em Portugal.

A empresa foi responsável pela emissão digital via biometria da Chave Móvel Digital. Quais os maiores desafios deste projeto?

Este é um projeto bandeira para nós pela sua complexidade e pelo impacto direto na criação de valor para a economia nacional. A CMD é um sistema voluntário de autenticação que permite a associação de um número de telemóvel e/ou e-mail ao número de identificação civil (NIC) para um cidadão português ou número de passaporte para um cidadão estrangeiro residente em Portugal. É por isso um sistema simples e seguro de autenticação em portais da Administração Pública e outros, que simplifica a vida do cidadão que passa a ter um login único sem ter que recorrer a emails e palavras-passe pouco seguras e muitas vezes confusas para o utilizador.

É um projeto muito importante porque exige uma articulação com várias áreas da administração pública, tem exigências fortíssimas ao nível da segurança dos dados e também ao nível da usabilidade e facilidade de utilização para maior adesão dos cidadãos.

“A prova de vida (liveness) é hoje vista como um dos métodos mais seguros de autenticação de um cidadão ou cliente (…)”.

Que outros projetos têm neste momento em mãos?

A maior parte dos projetos em que estamos envolvidos estão naturalmente ao abrigo de confidencialidade. Mesmo assim, estamos a trabalhar em mostrar todas as vantagens que a utilização de biometria forte e segura tem como ferramenta de conhecimento do cliente para o setor público e para o setor privado. A prova de vida (liveness) é hoje vista como um dos métodos mais seguros de autenticação de um cidadão ou cliente no acesso a serviços públicos e estamos para isso a trabalhar com vários organismos do estado e com entidades privadas para os colocar em prática.

O Frederico conta no seu currículo com vários anos na Portugal Telecom, além de uma passagem pela gigante norte-americana Google. De que forma as suas experiências anteriores podem contribuir/influenciar a sua função como CEO da Biometrid?

Foram duas passagens marcantes para o meu desenvolvimento pessoal pela aprendizagem e pela dimensão do desafio. São duas empresas muito relevantes no seu setor de atividade e que têm por isso muito impacto no ecossistema – clientes, parceiros e colaboradores.

Se pudesse enumerar uma contribuição que retive dessas duas experiências, “Ambição” é a palavra-chave. Se queremos crescer e acelerar o nosso negócio e tirar o maior partido das oportunidades que o mercado nos apresenta todos os dias. Temos que ser ambiciosos, temos que nos focar no crescimento 10x e não no crescimento orgânico e natural. Essa é também a visão dos nossos investidores que para isso nos têm dado todas as condições para atingirmos os objetivos a que nos propomos.

“Portugal e Polónia são mercados onde temos negócios relevantes para a companhia. Temos também negócios mais pequenos em mercados naturais como Angola (…)”

Quais os mercados de aposta da Biometrid neste momento? E para o futuro?

Portugal e Polónia são mercados onde temos negócios relevantes para a companhia. Temos também negócios mais pequenos em mercados naturais como Angola cuja expetativa de crescimento é muito interessante. A nossa ambição de expandir internacionalmente leva-nos neste momento a explorar várias oportunidades no continente africano, com o Senegal à cabeça, mas também nos países de língua oficial portuguesa, aproveitando toda a influência que o projeto da Chave Móvel Digital tem nesses mercados.

O mercado de identidade digital está em franco crescimento. Quais as perspetivas da empresa para este ano?

É um mercado em franco crescimento globalmente, especialmente na Ásia e na América do Norte, mas continentes como África vão trazer a próxima grande oportunidade. As nossas expetativas são obviamente continuar a crescer o negócio e por inerência a nossa capacidade operacional.

Quanto preveem faturar este ano?

A empresa registou em 2023 um volume de negócios de 2,7 milhões de euros, o que representou um crescimento de 100% face a 2022. Além disso, a Biometrid alcançou, pela primeira, vez um EBITDA positivo de 750 mil euros o que nos faz acreditar que temos todas as condições para aumentar este crescimento de forma significativa no biénio 24/25.

Quais os planos para o futuro da Biometrid?

Os nossos planos assentam em três pilares estratégicos que passam pelo aumento do footprint em clientes locais tanto do setor público como do setor privado e também numa expansão internacional ambiciosa que aproveite todas as oportunidades existentes no mercado. Por fim, é critico que continuemos a investir fortemente em inovação e desenvolvimento na nossa plataforma tecnológica para estarmos sempre na frente da luta contra a fraude, o roubo de identidade, o “spoofing” e o branqueamento de capitais.

Como vê a Biometrid dentro de cinco anos?

O nosso objetivo é continuar a criar valor para os nossos investidores, para os nossos colaboradores, para os nossos clientes e para os nossos parceiros. Queremos ser uma empresa cada vez mais internacional, com presença em vários mercados e um caso de sucesso em Portugal.

Respostas rápidas:
Maior risco: as empresas continuarem a ser (muito) mais lentas do que os consumidores na adoção da transformação digital.
Maior erro: não pensar em expansão internacional como uma prioridade para as empresas portuguesas
Maior lição: “Our business is….Change”
Maior conquista: Ter conseguido correr 12 maratonas e duas ultra maratonas, impensável há 20 anos.

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