Opinião

R.I.P. Transformação Digital

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital

Talvez dramatizando um pouco, mas serve o título para enfatizar a ideia que se segue. E não tem a mesma nada que ver com a Inteligência Artificial diretamente. Ainda que ela também contribua. Mas atalhando, a reflexão centra-se sobretudo na ideia de que já passámos da transformação digital (e não para o digital!) para a fase da Atualização Tecnológica Permanente.

A década passada foi sem dúvida a da ênfase na transformação digital. Mudanças de processos (ou mais comummente a digitalização dos mesmos) trazem agilidade, conhecimento, poupanças de custos, eficiência por um lado nas operações, mas também eficácia, como por exemplo na personalização ao cliente certo com a mensagem certa.

Tal como a frase “a internet é o futuro” que permanece viva nas conversas, também aparenta acontecer o mesmo com a “transformação digital”. O futuro foi passando e tornou-se presente e já passado em 30 anos.

O momento já não é de fazer a transição. É de permanentemente viver a transição.

Debatemos há muito tempo que as mudanças constantes deveriam refletir-se na formação contínua dos profissionais e que o modelo de ensino está desatualizado. Pois bem, olhando para as formações disponíveis em várias instituições no nosso país, não é bem isso que vejo. Apenas a título de exemplo a formação de um dia de “ChatGPT e IA” aplicado ao dia a dia nas empresas vai já na sua 6.ª edição da Católica Lisbon School – só este ano! (estamos em junho de 2024). É a prova de que há empresas e profissionais que já abraçaram o conceito da permanente atualização tecnológica.

Naturalmente, as empresas devem continuar a sua transformação digital, mas parece-me de maior abrangência instituir uma atualização tecnológica permanente na cultura interna. Se ela é digital, mecânica, processual, ética ou de gestão da liderança ou de sustentabilidade, o importante é que esta mentalidade de renovação constante de ideias e ferramentas e processos traga a inovação e melhoria que ajudarão a empresa a prosperar.

O ciclo transformacional é uma espiral que nunca foi interrompido. A mudança é a da velocidade. Habituámo-nos a que cada ciclo fosse longo, como uma volta do nosso planeta ao astro solar como metáfora, em que o vapor ou a eletricidade (meros exemplos) traziam dentro de si ruturas que depois eram geridas durante décadas. Mas hoje os ciclos são mais rápidos, de “poucos meses” ou “semanas”, continuando a metáfora. Há de repente opções no marketing digital nas redes sociais, informação das vendas mais clara com soluções de business intelligence, ou a cloud a unir toda a Data, ou da IA na aceleração e simplificação da geração de automatismos e conteúdos personalizados, etc., etc.

Substitua-se por isso a transformação pela atualização permanente. Ela irá impregnar-se primeiro no léxico, depois no debate, a seguir na ideação e implementação posteriormente. Estimular este ciclo mais rápido de atualização é, sem dúvida, um dos principais desígnios de qualquer líder e gestor junto das suas equipas.

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Ricardo Tomé

Ricardo Tomé

Ricardo Tomé é Diretor-Coordenador da Media Capital Digital, empresa do grupo que gere a estratégia e operação interativa para as várias marcas – TVI, TVI24, IOL, MaisFutebol, AutoPortal, etc. – com foco especial na área mobile (Rising Star, MasterChef, SecretStory) e Over-The-Top (TVI Player), bem como ativação de conteúdos multiscreen em todas as plataformas e realizando igualmente a ponte com o grupo PRISA nas várias parcerias: Google & YouTube, Facebook, Twitter, Endemol, Shine, entre outras. Foi, até 2013, coordenador da... Ler Mais..

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