Opinião

#Bem-vindo ao lado negro da Força

Rita Viegas, millennial convicta e gestora de projetos na OZ Energia

A minha geração cresceu a pensar que podia ser, ter e chegar onde quisesse. Para sermos os líderes do futuro, tínhamos (apenas) de ser os melhores, de nos esforçar, estudar, aplicar. Com um bocadinho de talento à mistura, podíamos todos ser o Cristiano Ronaldo da nossa área. Até que, de repente, o mundo mudou: terrorismo à escala global; crise financeira e grandes empresas a falir; aquecimento global e o prenúncio do fim do mundo.

Ficámos mais pessimistas, mais desconfiados e muito desiludidos quando percebemos que afinal a vida não é justa. Porque nós fizemos tudo o que nos pediram e, mesmo assim, puxaram-nos o tapete. O cenário ideal para o lado negro da Força crescer estava montado e como “ele é mais poderoso do que imagina”, já alertava o Obi-Wan, foi proliferando pelas nossas empresas e vidas.

Acontece que ninguém opta por este caminho sem ser seduzido por alguém que já o fez. E foi esse o exemplo que encontrámos no mercado de trabalho – pessoas com menos formação que nós, menos competências, menos experiências (apesar de mais experiência) a chegar ou manter lugares de liderança. Pessoas a quem não reconhecemos competência porque os vimos lá chegar por vias ardilosas, rápidas e fáceis, enquanto os Jedi entre nós não saíram da sombra, não progrediram e acabaram, muitas vezes, a contribuir com o seu bom trabalho para manter os Sith no topo. Também vimos as dificuldades acrescidas que os que optaram pelo lado luminoso enfrentaram para conseguirem chegar ao topo e o esforço com que lutaram para não sucumbir.

“É preciso ter muita força para resistir ao lado negro. Só os fracos o seguem!”. Será que Obi-Wan não queria dizer os espertos? Porque, se o objetivo é atingir o poder – e o sucesso, o status, o dinheiro, a visibilidade que com ele vêm – parece-me mais eficaz tramar um Jedi aqui, bajular um Sith ali, conspirar de um lado, arranjar um esquema do outro. Porque é que alguém, no seu perfeito juízo, vai trabalhar arduamente, esforçar-se, seguir o caminho das pedras quando o caminho negro é tão mais fácil e rápido (e com resultados mais positivos)?

É Yoda quem nos dá a resposta: “o lado negro não é mais poderoso, apenas mais rápido, mais fácil e mais sedutor”. Não pensem que o digo com grandes ilusões: o mundo é injusto. O lado negro tem muita força e anda de mãos dadas com o poder. O mérito não é sempre reconhecido. A maior parte das vezes, o mal prevalece.

Mas os que seguem o lado luminoso não são parvos, ingénuos nem fracos. Pelo contrário, aqueles que lutam pela justiça, pela equidade, pelo bem comum são melhores pessoas. Porque podem até aceitar a realidade como ela é, mas não se rendem, não desistem, não deixam de lutar por aquilo em que acreditam. Por isso, da próxima vez que o Sith sentado na secretária ao seu lado tentar tramá-lo ou quando se voltar a sentir explorado pelo Darth Vader sentado no gabinete na ponta sul do open space, respire fundo e sorria.

Eles não sabem, mas acabaram de lhe dar mais uma oportunidade de lhes mostrar o poder que tem. Tem mais uma hipótese de defender aquilo em que acredita e deve fazê-lo de forma clara, concisa e assertiva. Acrescente um tom de voz (ou de escrita) amável e calmo, uma postura recetiva e termine com um sorriso. O lado negro sabe combater, mas não consegue lidar com sentimentos positivos e sinceridade.

E que a Força esteja sempre consigo!

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Rita Viegas

Rita Viegas

Rita Viegas é uma millennial convicta, apaixonada por pessoas e viciada em comunicação. Atualmente é responsável pelo marketing estratégico da OZ Energia, tendo sido anteriormente diretora de marketing da Eastbanc e desempenhado vários cargos em áreas de marketing e comunicação em empresas de grande consumo, como a Sumol+Compal. É licenciada em Psicologia e Mestre em Gestão de Empresas, pela Católica Lisbon School of Business & Economics, instituição na qual se especializou também em Gestão do Luxo e Marketing Digital.

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