Entrevista/ “Quero colocar a Beevo no quadrante mágico da Gartner ao lado dos leaders”

Rui Cruz, CEO da Beevo

Nasceu em Braga, em 2015, para responder à revolução industrial e tecnológica do setor, mas rapidamente começou a criar soluções de ecommerce para o mundo. Ao Link To Leaders Rui Cruz, CEO da Beevo, falou do que a distingue, do seu modelo de negócio e dos planos para o futuro.

Preparada para criar soluções de ecommerce B2C, B2B e B2E para qualquer realidade das médias e grandes empresas, e construída de raiz com um sistema de Business Intelligence e num conceito de web apps, a Beevo oferece aos seus parceiros um modelo de negócio diferenciador no mercado. É assim que Rui Cruz apresenta a Beevo.

Esta plataforma de ecommerce é responsável por desmaterializar os processos físicos do comerciante em processos digitais, disponibilizando ao cliente final uma experiência de utilização omnicanal e contribuindo para gerar valor na relação entre cliente e comerciante.

Com um investimento inicial superior a um milhão de euros e uma equipa de I&D altamente qualificada com mais de dez anos de experiência em projetos de elevada complexidade, a Beevo tem entre os seus clientes empresas como Unicer, Grupo Nabeiro (Delta), Bold International, Grupo Sotecnisol, Ornimundo e Stockholm Elbolag.

Depois de começar a sua estratégia de internacionalização na Suécia, a start-up quer rumar para todos os países Escandinavos, o Reino Unido, a Alemanha e a França. E numa fase mais avançada chegar ao mercado de mais expressão do ecommerce: os Estados Unidos; sempre com carimbo “Desenvolvido em Portugal”.

Como e quando surgiu a Beevo?
A Beevo surge dentro da Bsolus.pt que existe desde 2007 como resposta à questão que colocámos a nós próprios: onde queríamos estar daqui a 10 anos? A nossa resposta a essa questão é a Beevo – Business Ecommerce Evolution – como o próprio nome indica é a visão de uma equipa para evolução das plataformas de ecommerce. Uma plataforma e uma equipa com ambição mundial. Em 2012 juntamos uma equipa de investigação e de desenvolvimento constituída por 4 elementos, que passou um ano a planear o que é hoje a Beevo. Após um ano de planeamento, escolha de tecnologias e preparação para financiar o projeto, a Beevo começou a ser desenvolvida em finais de 2013. O desafio era responder à revolução industrial e tecnológica 4.0 em curso e podermos ter software de ecommerce para ser vendido por parceiros.

Quais as maiores dificuldades que encontraram quando criam a start-up?
Na Beevo achamos que deve haver sempre lugar a um bom planeamento, portanto a maior dificuldade é ter tempo para planear e fazer muito bem à primeira tentativa. Para ter esse tempo surgem as seguintes dificuldades que são comuns a todas as start-ups: garantir o financiamento/investimento e contratar as pessoas certas.

A Beevo foi um investimento pessoal ou conta com investidores?
Foi um investimento da empresa Bsolus, que é detida por mim a 100%. Os investidores surgirão naturalmente com o tempo.

Qual o objetivo da Beevo?
A Beevo nasceu desde o primeiro dia para ser distribuída a nível mundial. O objetivo é poder ter parceiros distribuidores da plataforma nos principais países e que esses parceiros consigam atingir algumas das marcas do top 10 de cada um desses países. A consequência, a médio prazo, que esperamos conseguir na busca do nosso objetivo é passarmos a figurar no quadrante mágico do ecommerce da Gartner junto dos “leaders”.

Quem procura a Beevo?
A Beevo é solicitada por empresas que desejam alcançar a liderança através dos canais digitais. Normalmente procuram uma solução Omnicanal, que lhes permita estar presente nos diferentes tipos de canais, B2C, B2B, B2E, B2Y e os diferentes tipos de Market Places, ao mesmo tempo que preservam a importância e ligação às lojas físicas e processos mais tradicionais. São empresas que estão a preparar grandes projetos de transformação digital e precisam de uma plataforma que acompanhe essa evolução.

Quantos clientes têm até ao momento?
O objetivo da Beevo não é ter muitos clientes, mas sim os melhores preparados para ter sucesso e para fazer o investimento necessário para ser líder na sua área de negócio. Ambicionamos o Top 10 em cada país que estivermos presentes. Desde junho de 2016 a Beevo tem 11 clientes em Portugal e 7 fora de Portugal. São clientes como: Unicer, Grupo Nabeiro (Delta), Bold International, Grupo Sotecnisol, Ornimundo, Stockholm Elbolag entre outros. São clientes que investiram em grandes projetos online e que estão a destacar da sua concorrência por isso.

Porquê o foco nas grandes e médias empresas?
A Beevo sempre foi pensada para ser reconhecida como uma software house de referência mundial na área de ecommerce. Esse reconhecimento está nos grandes projetos, nas grandes marcas, projetos que tem orçamento para grandes feitos. Além de que sendo realistas, num país com apenas 10 milhões de pessoas, para aumentar a nossa probabilidade de sucesso, teríamos que mostrar que somos capazes de produzir software de muita qualidade. Este tipo de software normalmente não encaixa nos orçamentos mais baixos. Sem nenhum tipo de prepotência, sabemos que temos a capacidade de produzir software para ecommerce com muita qualidade, numa visão diferenciada e que leve o carimbo “Desenvolvido em Portugal” que muito nos orgulha.

O que distingue a Beevo de outras plataformas de e-commerce?
A Beevo foi desenvolvida de raiz nos últimos dois anos e meio sem ter que obedecer ao compromisso com o passado. Foi pensada para ser o futuro, é muito difícil para um software com muitos anos de mercado fazer esta disrupção que estamos a fazer. Mais rápida, inteligente, fácil e eficiente (“upgradable”), são estas as caraterísticas que distinguem a Beevo. Desenvolvemos um modelo de arquitetura muito moderno, o que torna a plataforma mais rápida, além disso, dispõe de um sistema de business intelligence transversal a toda a plataforma, que faz com que seja orientada às preferências dos utilizadores e a modelos preditivos para o futuro.

Outras das vantagens para os clientes prende-se com o fato da Beevo ser construída sobre o modelo de web parts, o que faz com que a plataforma tenha atualizações permanentes tanto a nível de tecnologia como de processos de negócio. O ciclo de vida da plataforma é muito maior, maximizando o investimento do cliente e permitindo que se mantenha focado no seu negócio do dia a dia. Investimos muito na interface com utilizadores, tornando-a mais fácil de utilizar e mais rápida de implementar. Tudo isto culmina na existência de um rigoroso processo de certificação que faz toda a diferença na implementação. Os clientes que utilizam a Beevo vão para a corrida da informação com uma vantagem competitiva muito grande.

Apostaram recentemente na Suécia. Porquê este país?
A aposta na Suécia vem da estratégia de começar a expansão do norte da Europa para Sul. Queríamos começar por países que tivessem uma cultura de software elevada e exigente. Como a dimensão do país é similar a Portugal e o poder de compra real é cerca de 4 vezes superior ao nosso, achamos que seria a localização ideal para o próximo passo. Queremos subir um degrau de cada vez e neste momento já sabemos que subimos o degrau certo. Temos como objetivo todos os países Escandinavos, o Reino Unido, a Alemanha e a França. São estes o nosso foco principal. Não vamos desperdiçar uma boa oportunidade que surja num país noutra latitude, desde que seja muito bem estruturada. Temos a ambição chegar ao maior mercado mundial de ecommerce – os Estados Unidos – mas terá de ser numa fase em que já tenhamos “muito músculo”. Só vamos para lá quando nos sentirmos preparados.

Qual a maior aposta: mercado português ou internacional? Porquê?
Neste momento é 50% para cada um. Com o crescimento vai ser tendencialmente mais internacional e menos nacional. Apesar de termos claramente uma tendência de internacionalização, não deixamos de ser surpreendidos diariamente pelos muito bons projetos que têm aparecido em Portugal. As empresas portuguesas têm departamentos de TI e Marketing muito ambiciosos, não fosse alguma dificuldade no poder de compra e teríamos projetos fantásticos em Portugal.

Quais os maiores desafios que o ecommerce enfrenta nos dias de hoje no nosso país?
A nível do desenvolvimento de ecommerce B2C, sem nenhuma dúvida o número de habitantes e o poder de compra, uma vez que, a meu ver, o problema cultural foi ultrapassado há muito. Qualquer pequena loja de ecommerce no Reino Unido fatura facilmente 2 milhões de libras, na maioria das vezes com projetos de muito má qualidade. Mas quando a procura é muito grande a oferta beneficia. O mesmo acontece, por exemplo, na Suécia, um país com menos habitantes que Portugal, mas com um poder de compra incrível onde pequenas lojas rapidamente faturam 2 a 3 milhões de euros.

Agora imaginem as diferenças nas médias e grandes lojas. Estamos a falar muitas vezes 10 vezes mais resultados com menor taxa de esforço.  A nível de B2B é onde considero que é mais crítico. Estamos muito atrasados em relação aos países líderes. Enquanto por cá ainda estamos preocupados em digitalizar processos, há muito que estes países trabalham soluções de Businees Intelligence que lhes permitem eliminar trabalho e etapas. Por cá, estamos na Era da digitalização e uma boa parte do mundo já vai na Era da inteligência artificial. Enquanto português acredito que não vamos ficar para trás, temos recursos humanos fantásticos, que com mais capacidade de investimento e com bom planeamento, nos colocavam facilmente junto dos líderes.

Quais as tendências e o futuro do ecommerce em Portugal?
Neste momento estamos a digitalizar processos tradicionais, ainda temos muito trabalho pela frente nesse sentido. As tendências para o futuro são business inteligence, business inteligence, business inteligence.  Prever o que os clientes querem, quais os seus gostos, como satisfazer os seus gostos, eliminar tarefas através de sugestões, substituir o trabalho repetido por sistemas inteligentes capazes de eliminar falhas.

Quais as perspetivas de crescimento do ecommerce em Portugal e no mundo?
As perspetivas são as melhores. É sem dúvida a área de negócio que mais vai crescer nos próximos anos. O principal acionista da Amazon chegou recentemente a nº 2 da lista dos mais ricos da Forbes. É apenas um sinal, mas que facilmente identifica o que está a acontecer no mundo digital

Que testemunho dá sobre os desafios de ser um empreendedor em Portugal?
Nunca pensei muito se estava em Portugal, mas sim onde queria chegar. Tracei o meu caminho com os meios que o meu trabalho e trabalho da minha equipa geram. Tudo o resto que vier para ajudar é muito bem-vindo. Inevitavelmente a realidade portuguesa acabou por chegar, ou seja, quando chegou a hora de necessitar dos grandes investidores que podem acelerar os projetos, constatamos que eles não existem. Os capitais de risco ou fundos de investimento em Portugal têm valores muito baixos disponíveis. Qualquer projeto que fale em 3 ou 4 milhões de investimento leva a meses de negociação. Ao fim de uma negociação dessas o empreendedor está desgastado e completamente desfocado.

Como existe pouco dinheiro disponível, o risco que correm é muito baixo e com isso perdem-se muitas vezes bons projetos. Somos infelizmente um país financeiramente pobre, mas felizmente carregado de talento. Tenho plena convicção que o investimento na Beevo vai acabar por acontecer pelos resultados alcançados. Os números já acompanham a ambição do projeto, e aí vai ser mais fácil e bem mais rápido.

Um conselho para quem se quer lançar-se nos negócios…
Planear, planear, arriscar. Não sou fã do desenrasque, nem do depois resolvemos. Num país de parcos recursos é essencial não desperdiçar nada. O conselho que dou é antes de começarem a gastar 30% da vossa energia a planear. Desse planeamento vai surgir a convicção se devem ir em frente ou não. E depois sim, arriscar em força, porque sem risco também não chegamos lá.

Projetos para o futuro…
Apenas um: Beevo no quadrante mágico da Gartner ao lado dos Leaders.

Respostas rápidas:
O maior risco:  hipotecar tudo para financiar a Beevo ????.
O maior erro:   não o ter feito mais cedo.
A melhor ideia:  a Beevo, sem dúvida.
A maior lição:  antes de começar um caminho entender primeiro onde é que ele termina.
A maior conquista: a minha equipa. Sabem quanto difícil é criar e manter uma boa equipa?

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