Entrevista/ “Queremos trazer de volta portugueses com uma carreira internacional”

Rodrigo Maia, CTO da Altran Portugal e diretor executivo do Vortex

A Altran acaba de apresentar o Vortex, um centro de aceleração e transferência de tecnologia de sistemas ciber-físicos e cibersegurança em Portugal. Ao Link To Leaders, Rodrigo Maia, CTO da Altran Portugal e diretor executivo do Vortex, explicou como este projeto permitirá antecipar as tendências das tecnologias do futuro, trazendo para o mesmo centro as unidades de investigação e os fabricantes europeus.

O Vortex, um centro de aceleração e transferência de sistemas ciber-físicos e de cibersegurança em Portugal, é o mais recente projeto da Altran. A empresa especialista em engenharia e serviços de investigação e desenvolvimento pretende afirmar-se como uma referência europeia no mercado dos serviços e de novos dispositivos. O objetivo é criar um ecossistema colaborativo entre os centros de investigação, as start-ups do setor e os líderes industriais que explorem as tendências tecnológicas emergentes e as apliquem no desenvolvimento de novos produtos.

O centro colaborativo tem como associados a Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Politécnico do Porto, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Tecnologia e Ciência e a Beta-i. Ao Link To Leaders, Rodrigo Maia avançou que o projeto arranca agora, no pólo tecnológico de Gaia, com 10 colaboradores, distribuídos pelos diferentes parceiros, mas até 2022 serão contratados cerca de 50 elementos altamente qualificados.

O que representa para a Altran o Vortex?
O Vortex representa para a Altran Grupo e para a Altran Portugal, em particular, um investimento muito forte para diversificar a oferta que temos em Portugal, para conseguirmos trabalhar em áreas em que normalmente não estamos a trabalhar com os nossos clientes, usando para isso a capacidade das universidades portuguesas para poder ajudar a incorporar novas tecnologias mais rapidamente, para responder aos desafios do mercado com esta aceleração da transformação tecnológica que cada vez acontece de forma mais rápida. Portanto, os nossos clientes, por si só, já não conseguem endereçar e muitas vezes só fazendo uso de empresas como a nossa. A velocidade da mudança implica que é preciso aceder àquilo que que são as novas tecnologias que estão a emergir, àquilo que são os centros de investigação.

Por isso, ao aliarmo-nos às universidades e aos centros de investigação portugueses, que são os mais fortes a nível mundial, estamos a caminhar para aquilo que consideramos ser uma receita de sucesso para servir os clientes em áreas de mercado bastantes aliciantes e complexas, como aquilo a que chamamos stuff tech, tecnologia que não é simples, que apresenta desafios, que endereça problemas e riscos que estão inerentes aos sistemas do dia a dia. Desta forma, estamos a responder a estes desafios de mercado com novas competências e novas tecnologias, criando e provando que estas metodologias são aplicadas à indústria e aplicando-as com a indústria na criação de novos produtos.

“(..) o nosso business plan prevê a criação nos próximos três anos de, pelo menos, cerca de 50 postos de trabalho no Vortex e que é um investimento que se realizará no Porto (…)”

Qual foi o investimento da empresa nesta iniciativa?
Não vou falar de investimentos. As únicas pessoas que estão autorizadas a falar de investimentos é a CEO e o chairman da empresa. Posso dizer-lhe que o nosso business plan prevê a criação nos próximos três anos de, pelo menos, cerca de 50 postos de trabalho no Vortex e que é um investimento que se realizará no Porto, na zona de Vila Nova de Gaia, junto às instalações que a Altran tem hoje no Cais de Gaia.
Para além daquela que é a contribuição dos diferentes parceiros, pessoas que vão incorporar esta equipa base, temos depois um plano para contratar maioritariamente doutorados e mestres nas áreas de engenharia para formar a equipa. Por isso, a expetativa é chegar a cerca de 50 pessoas no final de 2022.

De que forma o Vortex pretende criar um ecossistema colaborativo entre start-ups e líderes industriais?
Vemos aqui um triângulo. Quer dizer, vemos triângulos virtuosos desde logo no nosso logo, mas em muitas outras áreas.  As indústrias, as grandes corporações, os grandes grupos europeus, como a Altran, mais os seus clientes… vemos também as start-ups e a capacidade de se adaptarem e reinventar rapidamente e, por outro lado, a fonte de saber, as universidades, os centros de investigação. Queremos trabalhar neste triângulo.

Juntámos um ecossistema que nos parece bastante bem conseguido. Com a Altran, por um lado, a representar o lado mais industrial, a Beta-i a trazer start-ups – porque trazer uma start-up era arriscado (as start-ups, por natureza, são entidades com elevado grau de mobilidade e mortalidade) – e, por outro lado, temos três grandes centros de investigação portugueses: a Universidade Nova de Lisboa (UNL), através do NOVALincs, um dos mais reputados centros em computer science; o Instituto Politécnico do Porto/Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP/IPP), através do CISTER; e o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores-Tecnologia e Ciência (INESC TEC), através do HASLab.

Com base nestes três parceiros, temos a capacidade de nos endereçarmos verdadeiramente nos problemas tecnológicos, ao mesmo tempo que temos capacidade de nos socorrermos de start-ups e de olhar para os seus novos modelos de negócio, e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de mostrar aos grandes clientes europeus a montra da capacidade do talento português para vender estes serviços.

Considera que este é um projeto que vai permitir à Altran aproximar-se mais do nosso ecossistema empreendedor, das start-ups, ou já tinham outros projetos que faziam esta ligação?
Já temos. Eu enquanto responsável técnico da Altran mantenho uma colaboração com o setor e a relação com a Beta-i vem daí, ou seja, com entidades que estão ligadas a start-ups. Temos algum corporate mentoring, de alguma maneira ainda pouco expressivo, mas já trabalhámos com algumas start-ups, a quem damos aconselhamentos, mas é um papel que agora no CoLAB [laboratório colaborativo] vamos reforçar. Vamos perceber como é que podemos fazer a simbiose entre aquilo que são as necessidades de uma start-up, mas não vale a pena tirá-las do momento de aceleração rápido que têm.

Há quanto tempo estavam a planear este projeto?
Este é um sonho que nasceu há quase dois anos. Nasceu no verão de 2017, em conjunto com a Célia Reis e com um desafio do senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, idealizámos este centro. Depois foi trabalhar com parceiros e ir construindo o nosso ecossistema. No ano passado, em março, submetemos a candidatura, fomos avaliados por um painel internacional que nos atribuiu o título em julho de 2018 e depois foi toda a burocracia de constituir a associação que ficou concluída em fevereiro deste ano. E estamos agora a arrancar.

O que mais destaca neste Centro de aceleração e transferência de tecnologia de sistemas ciber-físicos e cibersegurança em Portugal?
Destaco, por um lado, a colaboração, ou seja, o montar este centro representa pôr diferentes experiências e ambições em conjunto a trabalhar no mecanismo de aceleração, o que toca no segundo eixo que é a diversidade. O Vortex, na física, significa dois corpos com pressões diferentes que quando se combinam aceleram em torno de um centro. Portanto, nós vemos aqui a academia de um lado e a indústria do outro. E é isto que vemos, a capacidade de juntarmos sistemas que estão a funcionar em pressões diferentes, mas que nós fazemos acelerar em torno de um eixo comum. Depois a diversidade, ou seja, temos diferentes backgrounds e diferentes experiências, e depois a capacidade de fazer para além daquilo que é expetável.

“Os sistemas ciber-físicos são dentro da União Europeia uma das áreas core da política de investigação e desenvolvimento e nós quisemo-nos posicionar claramente aí.”

Porquê apostar nos sistemas ciber-físicos e cibersegurança?
Os sistemas ciber-físicos incorporam a inteligência artificial, transformação digital, a autonomia. Hoje em dia quando falamos em sistemas ciber-físicos estamos a falar de sistemas cuja inteligência ao residir no interior do próprio sistema torna o sistema conectável, inteligente, interdependente e, ao mesmo, tempo controla o sistema onde está. Os sistemas ciber-físicos são dentro da União Europeia uma das áreas core da política de investigação e desenvolvimento e nós quisemo-nos posicionar claramente aí. Abre uma porta muito grande a tudo o que é feito na indústria, desde carros a aviões, a telefones, a dispositivos de comunicação em casa, tudo isso são sistemas ciber-físicos.

A Altran anunciou no início do ano que estava a contratar doutorados que serão integrados nas equipas de R&D e equipas de projetos de elevada complexidade, para clientes internacionais, nas áreas de sistemas cyber-físicos, condução autónoma, infotainment, inteligência artificial, entre outras. Estas novas contratações estão também ligadas ao Vortex?
Não só, mas também. Dentro daquilo que é a nossa política de R&D, estamos a recrutar doutorados. Alguns deles poderão endereçar já neste projeto, mas alguns ficam também dentro da própria Altran.

Temos a consciência de que para a demanda que existe em Portugal, o talento português não chega.

Têm conseguido encontrar em Portugal os profissionais que procuram?
Estamos a procurar em Portugal e fora de Portugal. Algumas dessas pessoas são portugueses que têm uma carreira internacional, já com alguns anos, e que estamos a tentar trazer de volta. Há uma aposta no talento português. Temos a consciência de que para a demanda que existe em Portugal, o talento português não chega. Temos é um contexto que nos permite atrair pessoas para Portugal.

Como vê o Vortex dentro de três anos?
Vejo-o como um centro com capacidade para ser reconhecido internacionalmente como um centro de transferência e tecnologia, com capacidade de ter não só outras instituições europeias a identificarem-nos como um parceiro confiável com quem querem trabalhar, mas ter acima de tudo clientes a olharem para nós e a pedirem-nos ajuda.

Já têm clientes debaixo de olho?
Como é óbvio, a Altran trabalha com alguns dos principais grupos da indústria automóvel alemã e serão alguns destes os nossos primeiros pontos de ataque.

“Hoje somos cerca de 1100 pessoas a trabalhar para clientes internacionais a partir de Portugal. Temos uma taxa de crescimento muito grande.”

Para além do Vortex, qual é a outra aposta da Altran na área de tecnologia e inovação?
A Altran tem apostado na área. Começou com o seu centro de engenharia em Portugal, desde 2013, que se fixou primeiro no Fundão e depois em Vila Nova de Gaia. Hoje somos cerca de 1100 pessoas a trabalhar para clientes internacionais a partir de Portugal. Temos uma taxa de crescimento muito grande. Em cinco anos crescemos de 0 para mais de 1000 pessoas e com uma ambição de continuar a crescer e de ser um centro importante. Somos o único centro de engenharia da Altran na Europa. Todos os outros são fora da Europa.

E no início beneficiámos de um contexto na Europa que era favorável à nossa operação – havia uma disponibilidade de talento. Hoje em dia estamos a combater no modelo em que temos vantagens competitivas por estarmos na Europa, temos um grande nível de qualidade dos engenheiros e conseguimos responder já com uma escala determinante. Estamos a crescer, a apostar nos centros ciber-físicos, nas redes avançadas de comunicações, estamos a fazer muitos investimentos na área das sinergias das telecomunicações, temos apostado muito no trabalho com as universidades e na conversão de talento. Temos contratado cerca de 800 pessoas por ano.

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