Entrevista/ “Queremos criar um novo fundo para investir nas melhores start-ups da Europa Central e do Leste”

“Nós investimos em talento. É por isso que investimos apenas em start-ups early-stage”, explicou Diogo Patão, diretor de programas da Demium Portugal. Em entrevista ao Link To Leaders, revelou também que este ano a empresa tem como objetivo atingir a meta das 14 investidas no mercado nacional.
Presente no mercado nacional há cerca de três anos, a espanhola Demium reconhece que Portugal é um país pequeno, mas com uma capacidade tremenda para atrair talento de fora. “As suas políticas fiscais para estrangeiros e as condições de vistos para nómadas digitais são muito favoráveis, das melhores da Europa”, frisa Diogo Patão, diretor de programas da Demium Portugal.
Lisboa é o segundo maior hub europeu da empresa e já mobilizou um investimento na ordem dis 1,35 milhões de euros. Em 2022 quer atingir a meta das 14 start-ups investidas num ano, em Portugal, quer continuar a aposta na qualidade e continuar a construir uma comunidade local de investidores.
Uma das mais recentes novidades do grupo foi o facto do fundo “Think Bigger Capital” ter passado a chamar-se Demium Capital, assumindo, assim, o nome da própria incubadora e aceleradora de start-ups.
Lisboa é o segundo maior hub europeu da Demium, já investiram 1,35 milhões de euros em start-ups portuguesas. O que tem o mercado nacional de tão atrativo?
Portugal é reconhecido internacionalmente pelo seu talento e há vários anos que se fala sobre a geração mais qualificada de sempre. A capacidade intelectual, técnica e de execução é o ponto de partida para o nascimento de start-ups, mas muitas vezes estas dependem da mentoria e investimento certos para que se tornem relevantes a nível global. Contudo, é nosso entendimento que as organizações públicas e privadas estão principalmente orientadas para apoiar start-ups já existentes, deixando um enorme vazio no apoio a empreendedores e projetos em fase de lançamento. É precisamente nesta fase em que a Demium é especialista e é a interseção destas duas realidades que torna Portugal tão atrativo.
“(…) é verdade que a área da saúde domina o leque de start-ups investidas em Portugal”.
Quais os setores de atividade em que os projetos portugueses estão a dar cartas?
Há uma grande diversidade de setores. Entre o grupo incubado pela Demium, há start-ups a atuar nas áreas da educação, saúde, música, mobilidade, viagens e gaming. O setor de atividade não é um fator de decisão no processo de incubação. A Demium investe em todos os setores, desde que o projeto tenha uma componente digital escalável, e isso deixa-nos francamente orgulhosos. O nosso objetivo é potenciar o crescimento e sucesso de start-ups de qualidade – seja qual for o seu setor -, e não incubar apenas para crescer em número.
No entanto, é verdade que a área da saúde domina o leque de start-ups investidas em Portugal. Acreditamos que o surgimento de mais projetos nesta área se deva muito ao contexto pandémico, que evidenciou a necessidade de digitalizar ainda mais o setor da saúde, não deixando os empreendedores ficarem indiferentes a esta oportunidade.
Investimentos pre-seed, seed… qual a estratégia para o mercado nacional?
Nós investimos em talento. É por isso que investimos apenas em start-ups early-stage (pre-seed e seed), sendo dos poucos a descobrir talento tão cedo. Percebemos que existe muito valor e potencial já nessa fase, e que havia uma clara lacuna no mercado no seu aproveitamento. E aí, entrámos nós para a preencher. Esta é a estratégia da Demium Capital em todos os países onde opera, incluindo Portugal.
“Queremos melhorar a qualidade das start-ups criadas, melhorar a sua presença no ecossistema português (…)”.
No ano passado foram 12 as start-ups portuguesas pre-seed que receberam investimentos do Think Bigger Capital, agora designado Demium Capital. Qual a meta para este ano?
A agora Demium Capital é uma empresa de gestão de ativos criada em 2020. A decisão de criá-la foi uma evolução natural da própria Demium. Não queríamos apenas prestar serviços às start-ups que incubamos, mas também investir nelas, para que pudessem ter suporte de crescimento numa fase tão embrionária.
No ano passado investimos em 12 start-ups, este ano o objetivo é que a Demium Capital possa investir em mais duas start-ups do que o ano passado, atingido a meta das 14 start-s investidas num ano, em Portugal. Mas o objetivo, não é crescer apenas em número de start-ups. O grande objetivo é a qualidade. Queremos melhorar a qualidade das start-ups criadas, melhorar a sua presença no ecossistema português, enquanto continuamos a construir uma comunidade local de investidores.
Atualmente, estão em cinco países europeus. Até que outras geografias querem chegar?
Para já estamos focados em apostar nos hubs existentes, onde já operamos, com intenção de abraçar mais projetos e de ainda melhor qualidade.
“(…) ainda em 2022, queremos criar um novo fundo para investir nas melhores start-ups da Europa Central e do Leste”.
Quais os fundos que têm atualmente no portefólio e que novidades se perspetivam a nível de novos fundos de investimento num futuro próximo
A Demium Capital tem três fundos registados: o Think Bigger Fund I (50 milhões euros) e dois fundos follow-on criados para oportunidades de investimento muito precisas que tenham origem na relação do Grupo Demium com o ecossistema.
Até agora, o Think Bigger Fund I investiu cerca de 10 milhões de euros em 98 transações, principalmente entre Espanha e Portugal, mas também na Ucrânia, na Polónia e na Grécia, sendo um dos seus objetivos investir num total de 225 projetos/start-ups até 2023. Mas ainda em 2022, queremos criar um novo fundo para investir nas melhores start-ups da Europa Central e do Leste.
Que mais-valias o vosso programa de incubação aporta aos projetos que os integram?
Trabalhamos com talentosos empreendedores, ajudando-os a começar os seus negócios de forma subtil e dota-os de competências na gestão para redução de risco, tendo em conta as suas fases embrionárias de empreendimento.
Como é que o fazemos? Providenciamos um ambiente estruturado, baseado num programa, traçando um caminho que predominantemente não tem forma. O programa define milestones claras e calendarizadas, permitindo aos empreendedores trabalhar todos os aspetos necessários para fazer crescer uma start-up de sucesso; encontrar o co-founder perfeito; validar uma ideia de negócio; preparando a start-up para a apresentação do projeto ao fundo Demium; facilitar o acesso à comunidade Demium: business angels, mentores, formação, etc.; garantir ajuda nas rondas de investimento pre-seed/seed, envolvendo a preparação da empresa para a ronda e apresentação do seu projeto a investidores; garantir acompanhamento constante do seu plano de negócio; e apoiar empreendedores a escalar continuamente os seus negócios.
“Portugal é um país pequeno, mas com uma capacidade tremenda para atrair talento de fora (…)”.
O que aproxima e distingue os mercados português e espanhol no cenário dos investimentos em start-ups?
Portugal é um país pequeno, mas com uma capacidade tremenda para atrair talento de fora – as suas políticas fiscais para estrangeiros e as condições de vistos para nómadas digitais são muito favoráveis, das melhores da Europa. Lisboa é uma das capitais europeias mais dinâmicas e com maior crescimento de start-ups e tem universidades muito boas, com grande atratividade.
O que acontece é que, pela pequena dimensão do mercado nacional, as start-ups portuguesas têm que se internacionalizar muito rapidamente. Crescer para Espanha é muito natural e simples para elas, assim como apontar para o Brasil.
Neste sentido Lisboa, Barcelona, Málaga, Valência e Madrid têm uma jornada muito parecida no que respeita a lançar start-ups e investimento. Lisboa compete com Barcelona e Madrid, já Málaga e Valência ambicionam parecer-se mais a Lisboa ou Barcelona.
São hubs com muito potencial, mas os empreendedores têm mesmo que sair e financiar-se com VCs internacionais (UK, Europa, USA) para séries B e seguintes. Espanha e Portugal têm uma capacidade parecida em pre-seed e seed, já em série A, Espanha está melhor capacitada do quando em comparação com Portugal.
Afirmou que Portugal é uma das grandes apostas para crescimento em 2022. Quais as expetativas que tem para o mercado nacional ao nível de projetos, de talentos, de inovação…
Através do nosso hub em Lisboa já tivemos oportunidade de fazer vários testes ao mercado ao longo destes últimos três anos. Durante esse período ficou evidente não só que temos impacto no ecossistema da cidade, como também temos start-ups de outras regiões do país que nos procuram e que conseguimos apoiar remotamente – já investimos, por exemplo, em start-ups do Porto, Coimbra e Portimão.
Lançámos também no início de 2022 o programa de aceleração Portugal & Espanha que obteve muitas candidaturas de start-ups portuguesas. Todos estes pequenos sucessos fazem com que sejamos muito otimistas relativamente ao mercado português, levando-nos a equacionar formas de expansão no apoio a mais e novos tipos de projetos, assim como a realizar ainda mais investimentos.
Então o que podemos esperar da Demium?
Podem esperar novas formas de cumprirmos o nosso propósito. Não vamos desistir de apostar no talento, em descobrir e investir em projetos ainda em fases muito iniciais. Acreditamos que temos muito valor a acrescentar ao ecossistema, e estamos preparados para fazer a diferença, evoluindo, melhorando com cada experiência.
Vamos certamente melhorar a nossa rede de investidores, apostar na qualidade dos projetos e garantir que a Demium não passará despercebida no ecossistema de empreendedores em Portugal.
“Vamos continuar a ajudar a criar empresas de sucesso, recrutando os melhores empreendedores do mundo (…)”.
O fundo “Think Bigger Capital” passou a designar-se Demium Capital. O que mudou na vossa estratégia para fazerem esta alteração?
A decisão foi tomada em resposta a uma estratégia de posicionamento do grupo Demium, de forma a manter a identificação da marca entre a incubadora de start-ups e o seu fundo de capital de risco, agora denominado Demium Capital. A missão não muda. Vamos continuar a ajudar a criar empresas de sucesso, recrutando os melhores empreendedores do mundo, esta é apenas (como já era quando lançada na nomenclatura anterior) uma forma de investir também financeiramente no crescimento de promissoras start-ups.
Como está a correr o programa de aceleração que lançaram em dezembro de 2021?
Estamos a acompanhar quatro start-ups no contexto do lançamento do Programa de Aceleração, sendo este remoto (ao contrário do que acontece no programa de incubação). Abrimos a chamada para Portugal e Espanha em simultâneo, mas a verdade é que todas as selecionadas são espanholas. Esperamos no próximo programa poder contar com mais start-ups portuguesas.
Realizaram recentemente o primeiro Roadshow Demium em Portugal. Qual o balanço da iniciativa?
O primeiro Roadshow Demium em Portugal foi um evento exclusivo, que permitiu a oito start-ups early-stage de sucesso em Portugal submeterem os seus projetos ao escrutínio de um grupo de três jurados, e apresentá-los aos mais de 30 investidores presentes na sala. Para a Intuitivo, a Clynx e a MyCareForce o balanço não poderia ter sido mais positivo, tendo conquistado os títulos da noite, vencendo o primeiro, segundo e terceiro prémios, respetivamente.
Para as restantes start-ups, a oportunidade de poderem testar os seus projetos e dá-los a conhecer a investidores e especialistas em empreendedorismo torna-se sempre uma experiência enriquecedora e uma potencial rampa de lançamento.
Para nós é uma honra poder testemunhar e ser um potenciador destas oito start-ups, que completaram o nosso programa de incubação, que já conquistaram uma ronda de investimento pre-seed, no seu “descolar” para outros voos.
“Como fazemos ver aos nossos empreendedores: só existem lições para aprender a cada desafio”.
Depois de quase 10 anos de atividade internacional, quais os maiores sucessos da Demium? E os erros/apostas que gostaria de não ter cometido?
Olhando para trás, parece que foi “ontem”, ao mesmo tempo que também já permite contar uns tantos projetos e oportunidades que nos foram dados a conhecer, que vimos e ajudámos crescer. Esse é o nosso maior sucesso. Todas as experiências que o propósito Demium proporciona a uma equipa que já vai com mais de 55 elementos espalhados por Portugal, Espanha, Polónia e Ucrânia, sem arrependimentos. Como fazemos ver aos nossos empreendedores: só existem lições para aprender a cada desafio. Só assim se chega a 10 anos – e muitos mais! – de existência.
O que podem os empreendedores portugueses esperar da Demium?
Um parceiro para a vida. Um empreendedor português que se junte à família Demium passa a fazer parte de todo o ecossistema, onde os primeiros empreendedores vão conduzir os novos empreendedores, e onde a equipa Demium se manterá por perto, acompanhando as suas jornadas, e não apenas durante o período do programa.
Os desafios vão muito além do ponto de validação dos modelos de negócio ou do ponto em que se encontra um nicho de mercado. Os empreendedores precisam de muito mais do que isso. É bastante comum para uma start-up sobreviver sem um ordenado, angariar várias rondas de investimento ou internacionalizar a empresa. E, em todos eles e nos demais, vamos ser sempre um parceiro de superação, ao longo de toda a sua vida empreendedora.
Respostas rápidas:
O maior risco: o momento em que se decide se determinada start-up deve “morrer” ou se devemos continuar a apoiar a ideia até que vingue.
O maior erro: apadrinhar demasiado um projeto. Temos de ser conscientes de que a longo prazo o sucesso da start-up é em grande parte reflexo da capacidade de execução da equipa fundadora. Cabe-nos ser cautelosos no nosso nível de envolvimento, permitindo que a start-up se prove por si.
A maior lição: naturalmente que não devemos guiar-nos apenas pela intuição, mas o nosso “6º sentido” é uma ferramenta poderosa e temos de o escutar.
A maior conquista: o lançamento do programa de aceleração, que poderá vir a ser um catalisador brutal, na qualidade e quantidade de start-ups que atravessam o “vale da morte” / que chegam a ronda seed.