Opinião

Avó Ró, chamam-me os meus netos. E ouvi-los enche-me a alma, só porque sim….  Dizem que nos apaixonamos no momento em que os vimos. Que ficamos tontos ao lado deles. Que os deseducamos. Que deixamos fazer aquilo que proibíamos aos pais deles. Que nos fazem rejuvenescer.

Não sei quais são ou não verdade em termos médios ou estatísticos. Sei que, para mim, estar com os netos é uma fonte inesgotável de alegria, e que me trazem uma forma de felicidade pura, simples e despreocupada que não encontro em muito mais coisas.

O tempo com eles é um tempo em que nada mais importante existe, em que o toque do telefone é uma verdadeira intromissão, em que obrigações que tenho de cumprir me pesam… só porque me roubam algum desse tempo precioso.

Mas… há sempre um mas. É preciso preparar o terreno para que esta relação com os netos possa ser assim, fluida e feliz. Na nossa cabeça, antes de mais.

Ter consciência que não são réplicas dos nossos filhos, que não é o tempo a voltar para trás e dar-nos de novo crianças para criar. Relembrar que educar (mesmo que pouco…) implica repetições infindáveis da mesma coisa e readquirir a paciência para o fazer sem stress.

Redescobrir que são todos diferentes e que não os devemos querer pôr todos dentro de uma mesma forma, mas antes procurar as brincadeiras que se adaptam a cada a um deles.

Largar ansiedades e medos, não envenenar o tempo com os netos com angústias e preocupações. A responsabilidade de ficar com os filhos dos nossos filhos pesa, e muito, mas não pode ser maior do que a leveza das brincadeiras ou das gargalhadas que soltam. Apesar de sabemos que há riscos (corremos todos permanentemente riscos só por estarmos vivos…) e que termos contas para prestar aos pais, temos de conseguir aproveitar todos os momentos com a tranquilidade que os netos nos merecem.

Procurar o tão difícil equilíbrio entre os valores que nos faziam sentido e passámos aos nossos filhos, e o que faz sentido à luz da realidade que vivemos quando os procuramos passar aos netos. Não ter medo de doenças. Sustos com crianças todos apanhamos, fazem parte. Mas não nos podem privar do gozo que os netos nos dão!

E sermos capaz de nos libertarmos de tantas e tantas regras que impúnhamos aos nossos filhos, tendo consciência que sim, não os podemos transformar em selvagenzinhos, mas que educar a sério é tarefa para os pais e não para nós.

Nas nossas vidas. Arranjar tempo na nossa vida para os acolher, tempo só para eles, tempo que não implique andarmos a fazer a nossa vida com eles atrás de nós, mas sim nós a fazer com eles o que faz sentido para as suas idades.

Criar espaço nas nossas casas onde eles possam estar à vontade, sem ficarmos apavorados com o que vão estragar ou partir em cada segundo. É lindo ver em tantas salas de avós o canto dos netos, de onde foi afastado o que se podia estragar e onde se acumulam brinquedos que eram dos pais e outros que eles trouxeram e deixaram, numa inesperada, mas deliciosa invasão de um espaço de adultos

Preparar programas com os netos. Tão bom! Com cuidado, para não serem demais e não os sufocarmos, mas por forma a que fiquem boas memórias, para eles e para nós!

Sonhar com o que os vai fazer felizes, e nos vai a nós encher de alegria – a construção do comboio, a arrumação da casa das bonecas, as bolas de sabão, o passeio na praia, a subida de umas rochas, a próxima experiência do livro mágico, a visita aos cavalos, o apanhar de amoras, o passeio de elétrico, a descida do parque Eduardo VII, os sonhos da ida à Disney, o safari em África ou a travessia dos USA em motorhome … E descobrir o quão pouco ajuizados podemos ser quando estamos a tentar fazê-los felizes!

E com os pais, para que sintam, mais do que percebam, que não os queremos substituir, antes queremos mesmo é gozar os filhos deles de uma maneira que infelizmente muitos de nós, por estarmos envolvidos em tanta coisa quando eles eram pequenos, não os conseguimos gozar.

Para que aceitem que sim, que os deseducamos um bocadinho, mas que tentamos sempre não pôr em risco os princípios básicos que lhes querem transmitir. Para que não se zanguem connosco por não cumprimos as 5 mil e uma regras que têm e que nos passam de forma compenetrada… para no segundo seguinte nos esquecermos de metade e, sobretudo, quando nos esquecemos (acontece sempre!) de pôr uma qualquer coisa no saco quando regressam a casa, nos atrasamos a dar o remédio que tinha mesmo de ser aquela hora ou não ajudamos a fazer o TPC que estava atrasado.

A nossa memória já não é a mesma… e estar a gozar os netos torna-a ainda mais frágil!

E se preciso for lembrá-los que os criámos a eles, com sucesso porque são hoje quem são, e que nos podem confiar os filhos sem receios e com a certeza de que tudo faremos para que para eles regressem saudáveis, felizes e com vontade de voltar a casa dos Avós.

É mesmo bom ter netos!!!!

Comentários
Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia é Founder e CEO da Experienced Management e regente da disciplina de Marketing in The New Era (licenciatura em Business Management) na CLSBE. Coordena, ainda, três programas de Executive Education - PGV - Programa de Gestão de Vendas, EI - Estratégias de Internacionalização e CE – Comunicação Estratégica, e é responsável pelo desenvolvimento de atividades da Executive Education da CATÓLICA-LISBON no Brasil e na Ásia. Licenciada em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade Católica Portuguesa,... Ler Mais..

Artigos Relacionados