Portugueses têm pouca flexibilidade de horário no trabalho, segundo estudo

Os portugueses têm pouca flexibilidade nos horários de trabalho e a maioria dos trabalhadores com rendimentos mensais mais baixos são mulheres.
As conclusões são de uma pesquisa feita pela Polar Insight em parceria com o Centro de Estudos sobre Pessoas e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa.
Uma das principais conclusões do estudo “FLEX-Flexibilidade do trabalho em Portugal” é a persistente realidade conservadora do mercado. Ou seja, 61,1% dos entrevistados afirmaram ser obrigados a trabalhar nas instalações dos empregadores, sem qualquer hipótese de trabalhar remotamente. Já 48,9% dizem ter horários fixos de entrada e de saída e 33,9% relatam ser difícil alterar, mesmo que ligeiramente, o horário de trabalho por motivos pessoais.
A isto acrescente-se o facto de a maioria dos empregadores não reconhecerem nem recompensarem os funcionários que trabalham fora do horário estipulado. Apesar de 46,8% relatarem trabalhar mais de 40 horas semanais, só 21,8% dizem ser recompensados pelas horas extra.
Mulheres continuam a receber menos do que os homens
Outro contrassenso apontado pelo estudo é o facto de as mulheres continuarem a ser quem têm qualificações mais elevadas, mas rendimentos mais baixos. Enquanto que 75,5% das pessoas com rendimentos mensais inferiores a 500 euros são mulheres, 78,9% de quem tem um rendimento mensal superior a 3.500 euros são do sexo masculino.
Apesar do panorama nacional estar longe de atingir os standards dos mercados de trabalho dos países mais desenvolvidos, o relatório aponta para que estejam a acontecer algumas mudanças macroeconómicas / tendências que estão a quebrar lentamente o status quo do mercado português. Destaque ainda para a maior confiança na economia portuguesa, um maior intercâmbio cultural – com a internacionalização das empresas nacionais e a presença de empresas internacionais no país – e para a nova geração de trabalhadores jovens que trazem uma mentalidade diferente para o mercado de trabalho, moldando, assim, novas culturas organizacionais no mundo empresarial português.
Querem flexibilidade laboral, mas não estão dispostos a fazer cedências
Apesar de alguns estudos internacionais associarem vários benefícios à flexibilidade laboral e de 97,4% dos inquiridos dizerem valorizar este aspecto, os trabalhadores não estão dispostos a abdicar de parte dos seus benefícios para usufruírem de um horário mais flexível – especialmente no que diz respeito à remuneração.
Mais do que negociar as suas condições, o relatório explica que os trabalhadores portugueses têm-se preocupado em garantir o emprego. Contudo, as mudanças já podem ser sentidas em algumas áreas, como a das Tecnologias da Informação onde a importância da valorização profissional, assim como a natureza do próprio trabalho tecnológico, estão em destaque. Nesse sentido, o estudo indica que são os programadores e developers que estão a “abrir caminho” para a adoção de práticas flexíveis.
“Já existem empresas em Portugal a democratizar a flexibilidade, mas é preciso estimular para que os seus líderes sejam embaixadores dessas novas práticas de trabalho, e parem de depender da microgestão. Ainda existe um longo caminho a ser percorrido, mas é possível acelerar este processo”, acredita Paula Gaia, chefe de projetos especiais da Polar Insight.
“Uma coisa de que podemos ter certeza é que, nos próximos dez anos, haverá mudanças sistémicas em todos os setores. Portanto, o meu conselho é que se incentive a flexibilidade hoje para antecipar o futuro”, refere em comunicado James Tattersfield, fundador e diretor-geral da Polar Insight.