Opinião
Por um novo paradigma energético

No mundo atual, a energia é um fator decisivo para o desenvolvimento económico dos países, o bem-estar das pessoas e a competitividade das empresas. Tanto assim que o consumo energético não tem parado de aumentar, alimentando um modo de vida caracterizado por uma extrema voracidade em relação aos recursos naturais não renováveis.
Ora, esta matriz de utilização energética conduziu a dois dos mais graves problemas da atualidade: as alterações climáticas, que são motivadas pelo aumento da concentração de CO2 atmosférico decorrente, em boa medida, da queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo); e a dependência petrolífera da maioria dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, circunstância que, numa conjuntura de subida dos preços do crude, causa forte turbulência económica.
Portugal não foge a esta tendência internacional, apesar do extraordinário avanço na produção de energia renovável verificado nas duas últimas décadas. O nosso país ainda é muito dependente dos combustíveis fósseis, o que deixa a economia portuguesa vulnerável às oscilações do preço do petróleo. Este é, aliás, um dos fatores que mais contribui para o nosso défice externo e, consequentemente, para a degradação das condições económicas do país.
Importa, pois, acelerar a transição energética do país, a partir do muito que já foi alcançado nesta matéria. Lembro que Portugal é o quarto país da União Europeia que mais consome energia produzida por fontes renováveis (solar, eólica, hídrica, biomassa e outras). Em 2021, as energias renováveis abasteceram 59% do consumo de eletricidade do país, podendo este indicador chegar aos 80% já em 2025.
Perante a crise energética que estamos a viver, fruto da guerra na Ucrânia, Portugal tem de aumentar fortemente o recurso às energias renováveis não poluentes, tirando partido das excelentes condições naturais para o desenvolvimento da energia solar, eólica, geotérmica, de biomassa e biogás, maremotriz e hídrica. Além disso, é fundamental investir fortemente na racionalização, a todos os níveis, do uso da energia, o que pressupõe o desenvolvimento e aplicação de tecnologias que promovam a eficiência energética nas empresas, nos organismos públicos e nos lares de cada um de nós.
Mas, para concretizar tudo isto, vai ser necessária uma mudança profunda na cultura energética atual. Trata-se de uma tarefa que acomete toda a sociedade e sem a qual não será possível reduzir as emissões de gases com efeito estufa, diminuir as importações de combustíveis fósseis, aliviar a fatura de eletricidade dos consumidores e deixar o setor produtivo menos exposto às variações de preços dos produtos energéticos.
É indispensável quer uma alteração substantiva de padrões comportamentais e hábitos de consumo energético, quer um grande esforço de investigação e desenvolvimento de metodologias, políticas e tecnologias para a produção de energia renovável e para a melhoria da ecoeficiência.
De resto, a aceleração da transição energética na Europa pode ser uma boa oportunidade económica para Portugal. As energias renováveis são um fator crítico de crescimento, investimento, emprego, inovação e sustentabilidade. E o nosso país goza de uma situação geográfica e meteorológica que favorece a produção de energia renovável. Acresce que existe hoje, no tecido empresarial português e no nosso sistema científico e de inovação, massa crítica para o desenvolvimento de sistemas e tecnologias energéticas de vanguarda.
* Associação Nacional de Jovens Empresários