Opinião

Pare, Escute e Olhe

Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal

Quem não se lembra de ver este sinal normalmente acompanhado de luzes vermelhas intermitentes e o som repetido: Dring, Dring, Dring… O “Pare, Escute e Olhe”, presente nas passagens de nível (julgo com e sem guarda), serve essencialmente para nos alertar que o imprevisto e a imprudência podem causar a nossa morte e de outros.

Lembrei-me deste aviso (à vida!) porque estamos no final de um ano que nos marcará para sempre e porque estamos no período de Natal que, desta vez, será felizmente mais calmo e menos consumista. Há tempos contaram-me a origem do Pai Natal. Desenganem-se os que pensam que foi uma invenção da Coca-Cola. Clarificando… o Pai Natal, como vulgarmente o vemos vestido de vermelho, gordo e com grandes barbas brancas, é fruto de um produto de marketing, é certo.

No entanto, o nome, que em inglês se diz Santa Claus, tem a sua origem num Santo: o São Nicolau. Para além do nome, o Pai Natal foi buscar ao Santo as cores das suas roupas: o São Nicolau era cardeal e, por isso, vestia-se de vermelho. O Santo também teve, de certa forma, na origem dos brinquedos que o Pai Natal distribui. Na realidade, o São Nicolau há uns séculos, preocupado com o facto de muitas raparigas na sua época serem empurradas para a prostituição por não terem posses para fazer um enxoval que lhes permitisse casar, deixava à noite (sem que ninguém soubesse) um presente junto das suas casas. Esses presentes eram compostos por pequenos enxovais que lhe permitiam encontrar noivo e constituir família.

Dada a explicação e clarificadas as diferenças e semelhanças entre Pai Natal e São Nicolau, voltemos ao título deste artigo: Pare, Escute e Olhe.

Como dizia no início, 2020 foi um ano que nos exigiu muitíssimo a nível pessoal e profissional. Tivemos que fazer face a novas e desafiantes dinâmicas familiares, conciliar tarefas e horários, partilhar espaços e emoções. Mas a nível profissional foram também imensos os desafios. Tivemos que encontrar novas formas de trabalhar (onde, como e quando), tivemos que redesenhar novos produtos e serviços, fazer face a quebras importantes de receitas, redescobrir novas formas de comunicar, agir e liderar.

Parece-me, pois, muito importante parar, escutar e olhar.

É tempo de pararmos não só para descansar e recuperar forças, mas também para fazermos um balanço do que correu bem e menos bem e de revisitarmos o que aprendemos e ensinámos uns aos outros. Este tempo de pausa, fará com que possamos entrar em 2021 mais tranquilos e com uma visão mais clara do que queremos e do que não queremos fazer. Parar é muito importante para depois retomarmos o caminho mais serenos.

Todos concordarão que 2021 será ainda um ano de enormes incertezas e muitos riscos. Por conseguinte, não podemos atirarmo-nos a ele se continuarmos extenuados, com elevados níveis de stress e com os “nervos à flor da pele”. Não é bom para ninguém: nem para nós, nem para as nossas famílias e amigos, nem para os nossos colegas e clientes. Os momentos de pausa ajudar-nos-ão também a avaliar como nos sentimos e a deixar claro qual o nosso propósito para 2021. Progredir na carreira? Aceitar um novo desafio? Tornar-me mais solidário? Reformar-me? Mudar a forma como lidero a minha equipa?

Sugiro-lhe, pois, que aproveite este tempo e… PARE!

Mas este é também um tempo para escutarmos. É importante pedir feedback às nossas equipas sobre como viveram 2020 e de que forma encaram 2021. Mais do que nunca, estar próximo e incentivar à partilha é absolutamente crítico para as lideranças. Os nossos colegas, assim como familiares e amigos, têm estado a vivenciar (tal como nós próprios) tempos únicos que devem servir para escutarmos e aprendermos uns com os outros o que correu bem e o que correu mal. Insisto que todos os estudos apontam para um aumento brutal dos níveis de ansiedade, stress, depressão e solidão. Compete-nos, como líderes, ir ao encontro do outro e perguntar como se sente, o que o preocupa, que medos o atormentam, que dúvidas tem. Não basta mostrarmo-nos disponíveis. Temos que nos pôr a caminho e ajudar os que mais precisam começando por esta forma tão simples e próxima que é a escuta.

Sugiro-lhe, pois, que aproveite este tempo e… ESCUTE!

Por último, é importante estarmos atentos ao que nos rodeia. Este é o momento para olharmos à nossa volta e vermos o que mudou na nossa empresa, nos nossos fornecedores, parceiros e clientes. Ao fazê-lo, podemos definir que estratégias queremos implementar em 2021. Nada será como dantes, pelo que é importante repensar os nossos serviços e produtos, as nossas políticas de preços, as nossas cadeias de fornecimento ou as nossas parcerias. Insistir na “mesma receita” não é garantia de sucesso em 2021.

Mas é igualmente importante, olhar para as nossas equipas e saber interpretar os sinais que nos estão a dar. Quais os níveis de motivação ou de stress? Quais os níveis de compromisso? Quais as expetativas de carreira e desenvolvimento profissional? Quais as prioridades? Quais os riscos e desafios? Mais do que nunca, não devemos dar nada por garantido sobretudo no que se refere às pessoas com quem e para quem trabalhamos. Ficámos todos expostos a situações e desafios nunca antes vividos pelo que é natural que tudo seja colocado em causa. Mas este é também tempo para olharmos para dentro de nós? Como nos sentimos? Que balanço fazemos? Que expetativas temos para 2021?

Sugiro-lhe, pois, que aproveite este tempo e… OLHE!

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Diogo Alarcão

Diogo Alarcão

Diogo Alarcão tem feito a sua carreira essencialmente na área da Gestão e Consultoria. Atualmente é Vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Foi Chairman da Marsh & McLennan Companies Portugal e CEO da Mercer Portugal. Foi Diretor da Direção de Investimento Internacional do ICEP, de 1996 a 2003. Foi assessor do Presidente da Agência Portuguesa para o Investimento de 2003 a 2006. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, concluiu posteriormente... Ler Mais..

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