Entrevista/ “Para mim o SOS Pais não é um negócio. É um apoio que prestamos às famílias numa dura fase”

Joana Grácio, CEO da Tox’inn

Ocupar as crianças e deixar os pais trabalhar. Este foi mote para a criação do projeto SOS Pais em Casa, uma ideia que a própria mentora, mãe de duas crianças, também adotou. Em entrevista ao Link To Leaders, Joana Grácio, fundadora da Tox’inn, explica como montou esta operação para ajudar as famílias.

O projeto SOS Pais em Casa partiu da necessidade da fundadora da Tox’inn – também ela em teletrabalho e com duas crianças em casa – conseguir fazer a gestão entre vida familiar e profissional em tempo de pandemia. Da ideia à prática foi um ápice. Joana Grácio mobilizou a criatividade da equipa da Tox’inn, uma empresa de marketing promocional e de ativação de marca com 15 anos de atividade, e implementou um projeto didático através de videochamada de apoio às crianças, para, assim, deixar espaço livre para os pais poderem trabalhar.

O projeto foi bem recebido pelos pais e pelas crianças, como explicou a mentora da iniciativa. E, se as necessidades futuras assim o ditarem, pode transformar-se num “SOS pais fora de casa”.

O projeto SOS Pais em Casa é a prova de que a necessidade aguça o engenho? Como surgiu esta ideia?
Sem dúvida. O início da quarentena marcou também o início de uma dura jornada: o teletrabalho com dois filhos em casa. Revelou-se ser impossível realizar calls com equipa ou cliente sem ser interrompida. Esta dificuldade sabia-a partilhada com outros pais na mesma situação. Seguiram-se as pesquisas online de atividades – porém todas elas tinham o mesmo problema: exigiam a presença de um adulto.

Entrei em brainstorming com a minha equipa, debati o assunto e decidimos arriscar e testar um serviço de atividades à distância para crianças. Qual não foi o meu espanto quando na primeira atividade a minha filha mais velha, de 5 anos, fica presa ao ecrã a realizar uma atividade – hora depois ainda com a monitora jogava ao macaquinho do chinês. Dançou, pulou, pintou, desenhou – e eu consegui trabalhar.
Foi o “ah-ha!” moment. Isto tem pernas para andar. Arregaçámos mangas, desenhamos e testamos em tempo record e pusemos o SOS Pais em casa a funcionar.

Como conseguiram montar esta operação em tão pouco tempo?
Com muita dedicação e agilidade! Embrenhamo-nos de corpo e alma neste projeto muito rapidamente. Direcionamos todos os nossos esforços para este projeto – entre pesquisa de atividades, gestão de monitores, gestão de pais, comunicação e imagem, rapidamente nos organizamos – naturalmente que a quebra acentuada de trabalho na ação permitiu esta reorganização em tempo record. Dentro da nossa pool de trabalho temporário mapeámos alguns colaboradores formados em áreas relacionadas com educação, psicologia, dança, teatro – e todos eles quiseram prestar o seu contributo a este projeto. A adesão foi absolutamente incrível.

“O nosso objetivo com o SOS Pais em Casa é, acima de tudo, contribuir positivamente para o bem-estar das crianças (…)”

Qual o modelo de negócio que adoptaram para o projeto?
O nosso objetivo com o SOS Pais em Casa é, acima de tudo, contribuir positivamente para o bem-estar das crianças e, consequentemente dos pais. Permitir que exista produtividade em contexto de confinamento. Não temos ferramentas para um combate direto à COVID-19, pelo que encontrámos o nosso caminho para o fazer de forma alternativa: ajudando os pais.

As primeiras sessões são gratuitas, tendo depois planos com valores simbólicos por forma a remunerar os monitores (não tanto pelo tempo investido, mas pelos materiais utilizados). Construímos ainda planos para festas de aniversário e packs entre amigos, por forma a fomentar o contacto (pese embora muito indireto) entre as crianças, pois sabemos o quão importante a componente relacional pode ser.

Como foi a reação do mercado, no caso dos pais, à vossa proposta?
Muito positiva. No entanto tivemos muitos pais que pensaram que seria impossível esta realidade com os seus filhos – e viram-se agradavelmente surpreendidos. Ajudamos a criar algumas rotinas, a dar o kick off do dia e evitar que os pequenos passassem o dia de pijama – começaram a chover agradecimentos dos pais e passa a palavra.

E as crianças aceitam bem esta espécie de babysitter virtual?
A primeira interação não é instantânea. É preciso saber respeitar o tempo de cada criança – afinal estão a contactar com um monitor com quem nunca falaram. Se nós adultos não somos tão expansivos com desconhecidos como somos com conhecidos, porque seria diferente com as crianças?

No entanto assim que a criança interage com o/a monitor(a), conseguimos desenvolver atividades sem a presença dos pais – não precisavam tão pouco de estar na mesma divisão. Concluímos muitos projetos para que fossem uma surpresa para os pais no final da sessão, quer através de temas ou de dias especiais como no caso do Dia da Mãe, em que preparámos uma surpresa especial.

“Gostávamos de manter o projeto, mas quem sabe um dia com um SOS pais fora de casa”.

Como vai evoluir o serviço SOS Pais em Casa na fase pós-Covid? O que têm planeado para este projeto?Sabemos que não voltaremos a viver a mesma liberdade tão cedo. Acredito que possa ser prematuro pensar no SOS Pais em Casa em fase pós-COVID, porque entendemos que o contacto é importante, a brincadeira ao ar livre e com outras crianças… são estímulos que são difíceis de recriar online. Vamos preparando a adaptação, um dia de cada vez. Gostávamos de manter o projeto, mas quem sabe um dia com um “SOS pais fora de casa”. Uma combinação de apoio virtual com serviço presencial, quem sabe? Apenas o futuro poderá ditar as reais necessidades.

Na sua opinião, enquanto profissional e também como mãe, quais os principais desafios que o teletrabalho, neste cenário de filhos em casa, traz aos pais?
Simplesmente ser: ser pais, ser trabalhador, sermos nós próprios. Olhar para o computador e não conseguir trabalhar porque os pequenos precisam de nós, porque não entendem porque têm os pais em casa e, no entanto, não lhes podemos dar atenção… Não quero descurar o meu trabalho, mas também não quero descurar os meus filhos, a minha família. Fica também para trás o tempo para nós, adultos, para nós próprios, para o casal, para os amigos. Estamos mais tempo fisicamente com a nossa família e no entanto não estamos mais tempo uns com os outros. Não soa estranho isto? Parece contraditório, mas a quarentena prova precisamente o contrário.

“(…) para mim o SOS Pais não é um negócio. É um apoio que prestamos às famílias (…)”

Este projeto abre uma nova área de negócio na própria Tox’inn?
Não encaro desta forma, porque para mim o SOS Pais não é um negócio. É um apoio que prestamos às famílias numa dura fase, em que todos precisamos uns dos outros, mais do que nunca

É também uma forma de se reinventarem, sendo que o vosso core, eventos e ativação de marca, também foi afetado pela crise?
Fomos sem dúvida afetados e seremos possivelmente por muito mais tempo do que a grande parte das atividades, que entretanto retomarão. Porque precisamos de aglomerados de pessoas e ninguém sabe quando isso poderá ocorrer com segurança. Portanto, a reinvenção é a palavra de ordem, mas acima de tudo temos de ter uma consciência global de que agora, mais do que nunca, temos de pensar no próximo. Temos de descobrir formas de nos entre ajudarmos.

 “(..) teremos de readaptar o negócio, que não vê aqui o seu fim, mas verá seguramente novas formas de se manter vivo”.

Quais os projetos Tox’inn para o próximo ano? Novas áreas de negócio?
Sim, teremos algumas novas áreas em desenvolvimento que farão seguramente mais sentido em cenário pós-pandemia. Por outro lado, teremos de readaptar o negócio, que não vê aqui o seu fim, mas verá seguramente novas formas de se manter vivo.

“Sejamos empreendedores, humildes, unidos e execionalmente criativos e todos ficaremos bem”.

Com o atual cenário, que tendências se adivinham no domínio dos eventos e da ativação de marca?
Creio que será prematuro fazer conjeturas neste sentido. Se por um lado se começam a explorar os web events seguro será afirmar que não sabemos como se comportará o público, e por consequência as marcas.
Creio que todos teremos um longo e duro percurso a percorrer para trilhar o caminho certo. Seguro será dizer que a agilidade no processo de adaptação será determinante. Todavia trabalhar em eventos exige agilidade on a daily basis, pelo que nenhum de nós estará em território totalmente por explorar. Sejamos empreendedores, humildes, unidos e execionalmente criativos e todos ficaremos bem.

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