Entrevista/ “Os trabalhadores procuram cada vez mais trabalhar com alguém que os compreende”

A Manpower reforçou a sua oferta e conta agora com as áreas de Business Professionals e Skilled Technical. O Link to Leaders falou com Daniela Lourenço, Brand Leader da consultora, sobre a aposta nestas duas especializações que surgem para responder à crescente procura de talento especializado.
A transformação digital e a transição verde estão a transformar as indústrias a nível mundial, impactando o futuro do trabalho, mas também o presente. “À medida que esta transformação acelera e as empresas se adaptam, há uma procura crescente de candidatos com competências especializadas, competências essas que são cada vez mais difíceis de recrutar”, explica Daniela Lourenço, Brand Leader da Manpower, que reforçou a sua oferta com duas novas especializações, nas áreas de Business Professionals e Skilled Technical.
Estas especializações abrangem funções desde vendas, marketing e recursos humanos, na área de Business Professionals, até técnicos especializados em indústria, produção e logística, no que respeita à área de Skilled Technical. E surgem como “áreas essenciais para responder à crescente procura de talento especializado”, afirma Daniela Lourenço.
O que levou a Manpower a reforçar a atividade da empresa em Portugal com duas novas áreas de especialização: Business Professionals e Skilled Technical?
A transformação digital e a transição verde estão a transformar as indústrias a nível mundial, impactando de forma decisiva o futuro do trabalho, mas também o presente. À medida que esta transformação acelera e as empresas se adaptam, há uma procura crescente de candidatos com competências especializadas, competências essas que são cada vez mais difíceis de recrutar. A escassez de talento em Portugal atinge já os 84%, segundo dados do estudo Global Talent Shortage do ManpowerGroup.
Por outro lado, sabemos que os trabalhadores procuram cada vez mais trabalhar com alguém que os compreende, que compreende as suas competências e que sabe qual poderá ser o caminho certo para eles. Num mundo cada vez mais digital, o contacto humano e o conhecimento especializado são diferenciadores para ajudar os candidatos a encontrarem as oportunidades mais ajustadas aos seus perfis, funções onde poderão realizar o seu potencial e fazer a diferença na criação de valor para as empresas.
Na Manpower partimos destes insights e percebemos a importância de sermos especializados. Acreditamos que este foco e dedicação são diferenciadores e permitem-nos conhecer, melhor que ninguém, os nossos clientes e candidatos e o que eles precisam para serem bem sucedidos. Esta especialização oferece-nos uma elevada compreensão das necessidades de competências dos nossos clientes, hoje, mas também no futuro. Do lado dos candidatos, promovemos uma grande proximidade e envolvimento no suporte à sua carreira; algo que nos permite construir amplas redes de contactos e bases de talento robustas e, por esta via, maior agilidade e qualidade nas contratações.
Por isso, através das especializações, a Manpower propõe uma solução dedicada, para poder oferecer às empresas o melhor talento, com as competências mais procuradas, ao mesmo tempo que conseguimos unir profissionais às oportunidades de carreira que melhor correspondem aos seus perfis.
“Num contexto cada vez mais complexo e em rápida evolução, marcado pela escassez de talento – que em Portugal atinge já os 84% – as empresas enfrentam grandes desafios para recrutar profissionais com competências-chave (…)”.
Em que é que consistem e quais os objetivos?
Num contexto cada vez mais complexo e em rápida evolução, marcado pela escassez de talento – que em Portugal atinge já os 84% – as empresas enfrentam grandes desafios para recrutar profissionais com competências-chave para impulsionar o seu crescimento. As especializações são a resposta da Manpower a esses desafios. Através desta oferta propomos uma solução dedicada aos perfis mais procurados, em setores e competências específicas.
Lançámos duas áreas de especialização: Business Professionals e Skilled Technical. A Manpower Business Professionals é a especialização da Manpower dedicada ao mundo White Collar. Nesta nova área estaremos focados na atração e seleção de talento qualificado para as áreas de Sales & Marketing, RH e Jurídico, Compras ou Administração. Com a Manpower Skilled Technical, oferecemos às empresas uma resposta concreta para a escassez de talento técnico qualificado nas funções de indústria e produção. Desde trabalhadores especializados e operadores CNC, a técnicos de qualidade ou a team leaders. Nesta área especializamo-nos particularmente nas funções que fazem a ponte entre os processos de fabrico e as funcionalidades digitais, cada vez mais presentes em Indústria e Logística.
De que forma estas novas áreas de especialização irão responder aos desafios do contexto atual? O que têm previsto implementar nestas duas novas áreas?
As especializações são uma resposta concreta que damos aos nossos clientes, para os ajudar a abordar à atual escassez de talento qualificado. Ao mesmo tempo permite-nos oferecer um acompanhamento diferenciado a candidatos e trabalhadores , promovendo o acesso às oportunidades profissionais mais alinhadas com o seus perfis e aspirações.
Esta especialização e o foco nos candidatos fazem a diferença no mercado. As nossas equipas dedicadas têm um conhecimento profundo dos sectores de mercado que trabalham e são altamente especializadas nas competências desses setores. O seu conhecimento do mercado e as nossas técnicas de mapeamento de talento oferecem-nos uma visibilidade clara do talento ativo e passivo a nível local, regional e nacional. Para além disso, a especialização dos nossos consultores e recrutadores e o nosso foco na experiência do candidato permitem-nos estabelecer redes de contatos e bases de dados de candidatos qualificados, pré-selecionados e disponíveis, tornando o processo de contratação mais rápido e eficiente em termos de custos.
“O nosso processo de avaliação estruturado não só testa as competências, como também mede o interesse dos candidatos no cargo e na empresa (…)”.
Estão comprometidos com uma abordagem centrada no talento?
Estamos profundamente comprometidos com uma abordagem centrada no talento. Por isso, os nossos candidatos não só possuem as qualificações necessárias, como também se alinham perfeitamente com a cultura da empresa, garantindo aos nossos clientes uma correspondência excecional para as suas necessidades de contratação. Estamos suportados na mais recente tecnologia e utilizamos assessments 360 no nosso processo de recrutamento para obter uma avaliação objetiva do candidato (hard e soft skills), bem como uma visão do desempenho futuro, contribuindo assim para revelar o potencial dos profissionais. O nosso processo de avaliação estruturado não só testa as competências, como também mede o interesse dos candidatos no cargo e na empresa, assegurando o alinhamento e a motivação sustentada.
Para os candidatos, também nos apresentamos como uma solução única. Somos especialistas nas suas competências e dominamos toda a gama de funções em crescimento mais procuradas. Por isso, somos os melhores na conexão das suas qualificações com os melhores empregos em empresas de escala local, nacional ou mundial.
A procura por talento especializado está a crescer de forma significativa. Quais os perfis mais procurados neste momento?
Dados do estudo Global Talent Shortage, do ManpowerGroup, revelam que, em Portugal, as empresas continuam a procurar ativamente perfis com as competências necessárias para promover o seu crescimento, concretizar a transformação digital e assegurar o talento que lhes permita executar essas estratégias. Neste sentido, as funções mais procuradas e difíceis de contratar correspondem a competências de Vendas e Marketing (23%), IT e Data (22%) e Recursos Humanos (21%). Seguem-se as funções de Engenharia e de Operações e Logística, referidas por 21% e 20% dos empregadores, respetivamente.
Detalhando ao nível dos perfis, vemos claramente algumas das funções e competências onde somos especializados, como sejam operadores CNC, técnicos de manutenção industrial, técnicos de qualidade ou chefes de frota, no caso das funções técnicas especializadas. Já ao nível das funções white colar, vemos também elevada procura por funções de marketing digital, técnicos de Recursos Humanos, key account managers, store managers, entre outros.
“(…) os empregadores estão a adaptar as suas estratégias para se alinharem com as preferências de candidatos e trabalhadores, e reforçarem a sua capacidade de atrair e reter talento”.
Estão as empresas portuguesas a saber apostar em competências específicas e ajustadas às exigências atuais? O que é preciso fazer?
Sim. Dados do nosso último estudo Global Talent Shortage mostram-nos isso mesmo. Face às atuais dificuldades de contratação, os empregadores estão a adaptar as suas estratégias para se alinharem com as preferências de candidatos e trabalhadores, e reforçarem a sua capacidade de atrair e reter talento.
Assim, a oferta de programas de upskilling e reskilling destaca-se como a principal prioridade dos empregadores, sendo referida por 31% dos empregadores. Esta estratégia permite às empresas construir o talento de que necessitam, mediante a capacitação e o desenvolvimento das competências de trabalhadores e candidatos. Por outro lado, os aumentos salariais, apontados por 27% das empresas, surgem também no topo das estratégias, assim como uma maior flexibilidade de horários e no local de trabalho, referidas por 18% e 16% das empresas, respetivamente. A exploração de novas bases de talento é também uma abordagem cada vez mais relevante, sendo mencionada por 18% dos empregadores.
Um estudo do ManpowerGroup revela que até 2027 81% das empresas deve usar Inteligência Artificial. Quais são as principais consequências desta realidade para os colaboradores?
A crescente adoção da IA e a rápida transformação digital não será sem impactos no Mundo do Trabalho. O Fórum Económico Mundial estima que, até 2030, 92 milhões de empregos poderão ser deslocados devido à automação, enquanto 170 milhões de novos postos poderão surgir, destacando assim a urgência da requalificação profissional.
Estamos, atualmente, a observar três tipos de impactos ao nível das funções: funções em risco de serem automatizadas – e que são principalmente aquelas que envolvem tarefas repetitivas e de baixo valor acrescentado, como por exemplo trabalhos administrativos repetitivos; novas funções que surgem, como, por exemplo, especialistas em IA e Machine Learning, e funções que são aumentadas pela IA, melhorando a eficiência, a tomada de decisões e a produtividade. A IA pode aumentar diversas funções em diferentes indústrias, pelo que o âmbito das funções aumentadas é muito vasto. No entanto alguns exemplos são os analistas de dados ou os software developers.
No entanto, do lado da oferta de talento, não vemos a mesma evolução: a falta de talento qualificado é apontada por 29% dos empregadores como um dos principais desafios na adoção da IA, segundo dados do Global Insights Whitepaper do ManpowerGroup.
Assim, e para garantir uma implementação bem-sucedida, os líderes empresariais devem compreender o potencial destas tecnologias, e nomeadamente a forma como a IA e a Gen- IA podem aumentar e automatizar o trabalho. Isto inclui estimar a capacidade total que estas tecnologias podem libertar e o seu impacto na composição das funções e nos requisitos de competências. Com base nessa análise é fundamental que se invista na formação de pessoas, capacitando-as para trabalharem de forma diferente, em conjunto com as máquinas, ou para poderem evoluir para novas funções.
Pelo seu lado, os trabalhadores devem preparar-se proactivamente para as transformações no mundo do trabalho impulsionadas pela IA, assegurando a sua relevância e competitividade num ambiente em constante mudança. Assim, devem desenvolver as competências que serão mais procuradas na era de IA, como, por exemplo, competências que complementem ou que sejam difíceis de executar pela IA. Neste âmbito, a participação em programas de reskilling e upskilling será fundamental. Devem igualmente fortalecer as suas soft skills e apostar na aprendizagem ao longo da vida, para se manterem relevantes e resilientes face às mudanças tecnológicas.
“(…) sete em cada dez organizações já adotaram novas tecnologias, como IA, Realidade Virtual (RV) e Machine Learning (ML) nos seus processos de recrutamento”.
De que forma está a IA a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos?
Efetivamente a ia está a transformar o mundo do trabalho e, ao nível dos processos de recrutamento, oferece-nos oportunidades significativas para uma seleção de talento mais rápida e eficaz. Segundo o Immersive Tech Report, da Experis, sete em cada dez organizações já adotaram novas tecnologias, como IA, Realidade Virtual (RV) e Machine Learning (ML) nos seus processos de recrutamento, ou planeiam fazê-lo nos próximos três anos.
São várias as vantagens que estas novas tecnologias trazem ao recrutamento. Em primeiro lugar, as tecnologias de IA aumentam a eficiência dos processos através da automatização das fases iniciais, permitindo às organizações obter mais rapidamente perfis de candidatos ajustados às suas necessidades. Desta forma reduz-se o tempo e o esforço que os recrutadores têm de despender na seleção de perfis, permitindo-lhes concentrarem-se noutros aspetos críticos do processo de contratação, onde o contacto humano é fundamental.
A IA permite igualmente reduzir o enviesamento e a subjetividade nos processos de recrutamento, funcionando com base em critérios objetivos, e eliminando fatores como idade, género ou etnia. A este nível é, no entanto, fundamental, que a os algoritmos de IA sejam desenvolvidos de forma ética e inclusiva, sendo este um dos principais fatores de preocupação identificados pelas empresas, apesar do entusiasmo que mostram relativamente à IA.
Também a utilização de assistentes virtuais e chatbots está a observar uma grande evolução, permitindo uma comunicação imediata com os candidatos, respondendo a dúvidas e fornecendo feedback instantâneo. Isto é algo que não só melhora a experiência do candidato como também alimenta as empresas com informações relevantes sobre os perfis, permitindo otimizar futuras interações.
Finalmente, através da análise preditiva potenciada pela IA é possível ir mais longe e identificar as futuras necessidades de talento associadas à estratégia das empresas. Desta forma as organizações podem preparar, de forma antecipada, uma resposta a essas necessidades, tanto por via do recrutamento, como por iniciativas de upskilling ou reskilling.
A análise aprofundada que a IA permite fazer na seleção dos candidatos está, assim, a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam o talento. No entanto, é importante reforçar que, apesar dos seus benefícios, as tecnologias de IA não vêm substituir os recrutadores – devem, sim, reforçar a sua função.
Quais podem ser os principais argumentos para incentivar a implementação de ia numa empresa?
Os benefícios abragem desde melhorias operacionais até à promoção da inovação em produtos e serviços. A implementação da IA nas organizações é, por isso, um passo fundamental para as empresas se posicionarem para crescer num futuro cada vez mais digital.
A IA permite aumentar a eficiência e produtividade das equipas ao facilitar a automação de tarefas repetitivas e libertar os colaboradores para se concentrarem em atividades mais estratégicas, onde as soft skills como a criatividade ou o espírito crítico podem acrescentar valor ao output da IA e da automatização. De facto, e de acordo com o McKinsey Global Institute, a IA generativa poderia permitir um crescimento da produtividade do trabalho de 0,1 a 0,6% ao ano até 2040, dependendo da taxa de adoção da tecnologia e da redistribuição do tempo do trabalhador para outras atividades. Ao mesmo tempo, a adoção da IA permite também reduzir custos operacionais, promovendo a otimização de processos internos e uma melhor alocação de recursos para áreas mais estratégicas.
Outros benefícios da IA nas organizações prendem-se com a melhoria nos processos de decisão, ao reforçar a capacidade que temos de tratar e analisar grandes volumes de dados em tempo real e proporcionar insights relevantes. Este facto suporta também a capacidade de inovação das organizações promovendo o desenvolvimento de produtos ou serviços com base em insights baseados em dados dos clientes e do mercado.
Finalmente, a IA pode também ter um papel relevante em muitas organizações, ao nível da personalização e melhoria da experiência do cliente, nomeadamente através do recurso a chatbots alimentados por machine learning aplicado aos seus perfis e comportamentos.
” Nos próximos anos a gestão de talento será marcada por tendências que refletem a transformação das organizações (…). Uma dessas grandes tendências será a importância crescente das questões de saúde mental.
Quais são as grandes tendências e desafios que antevê para a gestão de pessoas nos próximos anos?
Nos próximos anos a gestão de talento será marcada por tendências que refletem a transformação das organizações, impulsionada pelas rápidas mudanças tecnológicas, pela renovação geracional e cultural e pela transformação social.
Uma dessas grandes tendências será a importância crescente das questões de saúde mental. Os ambientes de trabalho psicologicamente seguros e os programas de apoio, como terapia e dias de saúde mental, serão cada vez mais valorizados, sobretudo quando 49% dos trabalhadores afirmam sofrer stress diário no trabalho, segundo dados do Global Talent Barometer do ManpowerGroup. A realidade mostra-nos que, apesar deste foco crescente, muitos trabalhadores ainda não utilizam ou desconhecem os recursos disponíveis de apoio psicológico, pelo que esta deverá tornar-se uma preocupação central dos líderes de talento, incentivando o uso e sensibilizando e formando colaboradores e lideranças para normalizar conversas sobre bem-estar.
Por outro lado, e apesar de alguns movimentos de regresso ao escritório, vemos como os colaboradores continuam a valorizar a flexibilidade e não estão dispostos a abdicar dela. Assim, é expectável que os modelos híbridos continuem a dominar o mundo do trabalho, conjugando flexibilidade com reforço no alinhamento das equipas e na cultura organizacional, e servindo como pilares na retenção e no envolvimento do talento.
Também a IA continuará a destacar-se no mundo do trabalho. Esta tecnologia vem impulsionar a produtividade e a eficiência, mas traz também importantes desafios ao nível da capacitação do talento, da ética e dos mecanismos de governação dentro das organizações. Neste contexto, as áreas de Recursos Humanos terão um papel fundamental a desempenhar, investindo na capacitação das equipas, por forma a dotá-las das hard e soft skills que lhes permitam a retirar o máximo proveito dos benefícios da IA.
Finalmente, todas estas transformações vêm reforçar a importância de uma liderança ágil e empática para assegurar a coesão das equipas, a sua capacitação e um suporte efetivo em períodos de incerteza como o atual. São estes líderes que conseguem gerir de forma eficaz a mudança, apoiando a saúde mental dos seus colaboradores, favorecendo a inovação e promovendo uma maior resiliência da organização como um todo.