Os bancos digitais europeus querem conquistar os EUA

Alguns bancos digitais europeus estão de olho no mercado norte-americano e a pôr em prática estratégias aguerridas para vingar naquele território. A expansão para os EUA é uma etapa para qualquer um que se queira tornar verdadeiramente global.

Os maiores neobanks da Europa – Revolut, Monzo e N26 – estão cada vez mais atentos às potencialidades do  mercado norte-americano e a direcionar a sua oferta para o segmento dos “sub-bancos” americanos (bancos de pequena dimensão) – um mercado que segundo a Forbes vale milhares de milhões de dólares. Estão a focar a sua atividade essencialmente no target que está insatisfeito com a oferta do sistema bancário tradicional e a apostar em algumas das lacunas existentes no mercado norte-americano como, por exemplo, o facto das contas correntes e dos cartões gratuitos não serem comuns, ao contrário do que acontece na Europa.

Esta análise de mercado, referenciada pela Sifted, aponta ainda para o facto desta e outras lacunas terem sido identificadas pelos bancos digitais europeus que preparam as suas ofertas de serviços gratuitos através das suas aplicações multiuso. Não obstante a abordagem, por mais inovadora que seja, os neobanks europeus terão que enfrentar além dos bancos tradicionais dominantes, os “mobile-banks” americanos já existentes como Current, Dave, Aspiration ou Chime (este último já conta com 5 milhões de utilizadores). A própria Apple está atenta a esta tendência e lançou o cartão de crédito Goldman. O que pensam então fazer a Revolut, a Monzo e a N26? A Sifted deixa algumas pistas sobre as estratégias que estes bancos digitais adoptaram para entrar no mercado norte-americano.

Revolut está a preparar o terreno
A  Revolut – que chegou recentemente a Portugal – ainda não lançou as suas contas nos EUA, mas planeia fazê-lo nos próximos meses depois do sucesso que está a conquistar na Europa. A Revolut identificou dois grupos-alvo “centrais”. Primeiro, os emigrantes que não podem aceder facilmente linhas de crédito e, segundo, os estudantes dos EUA no estrangeiro. A Revolut quer oferecer aos pais destes alunos uma forma mais fácil de transferir dinheiro para as contas dos filhos através da aplicação.

A start-up financeira tem como objetivo chegar aos 10 milhões de utilizadores na América do Norte. Usa como benchmark o exemplo da Venmo, a aplicação de transferência monetária do PayPal, que já tem 40 milhões de utilizadores desde que foi lançada há sete anos.

Nos EUA, onde já tem uma equipa de 50 pessoas, a Revolut pretende também disponibilizar micro-empréstimos, seguindo o exemplo da Monzo no Reino Unido. Para enfrentar os bancos incumbentes e operadores de cartões de créditos, o neobank também pretende desenvolver um programa de bonificações.

O alemão N26
O unicórnio alemão é até ao momento o único neobank europeu a ser totalmente lançado nos EUA, como tal está à frente dos congéneres europeus em número de downloads. Com uma equipa de 70 pessoas, banco está direcionado, principalmente, para a demografia rural que não teve uma boa experiência com o crédito. Para atrair os utilizadores norte-americanos, o N26 permite levantamentos gratuitos em ATM (os bancos americanos habitualmente cobram aos clientes pela utilização de ATM de outros bancos) e a disponibilização antecipada de salários. O neobanco americano Chime apresenta vantagens semelhantes, mas obriga a depósitos mensais de 1000 dólares (905 euros). O N26 também terá um programa de bonificações ainda por definir.

Os EUA representam uma parte muito significativa da estratégia de globalização desta start-up, que acredita ter criado um “ângulo” mais forte nos EUA do que nos países europeus. É de salientar que o N26 não pretende introduzir a curto prazo as contas Premium pagas, porque apesar destas representarem 30 a 35% dos utilizadores europeus, nos EUA a procura deste tipo de serviço parece mais reduzida.

Monzo começa com parcerias
O neobank Monzo está na fase inicial da sua atividade e tem menos de 1.000 clientes detentores de cartões físicos. A empresa não revela os planos para o lançamento total, assim como a estratégia a adoptar para captar clientes num mercado tão competitivo como o norte-americano. No entanto, a lista de espera nos EUA já chega aos 20 mil potenciais utilizadores.

Para consolidar a sua equipa nos EUA, o Monzo apostou em nomes locais fortes como Erin Coppin para Compliance Chief (anteriormente foi executiva na Airbnb e no gigante de criptomoeda Coinbase). Todavia a start-up ainda não iniciou o processo formal de atividade bancária. Para já, vai continuar a funcionar através do  banco parceiro nos EUA, o Sutton.

Genericamente, os neobanks europeus enfrentam uma batalha nos EUA, a começar pela diferença cultural face às fintech europeias. Por exemplo, os americanos confiam mais nos cartões de crédito, viajam menos para o estrangeiro (reduzindo o apelo que as taxas de câmbio baratas podem ter) e, finalmente, os millennials americanos não estão tão interessados em ferramentas de gestão financeira como os europeus.

Os neobanks também têm outra limitação. Por não terem uma filial física, os bancos não podem verificar os clientes sem um número de segurança social nos EUA, excluindo assim os estudantes estrangeiros e emigrantes desempregados.

Outro aspeto a ter em conta é o vasto desconhecimento dos americanos sobre bancos digitais. Porém quem conhece parece bem familiarizado com o conceito. Existem exemplos que mostram que os EUA estão abertos a novas empresas de tecnologia, como é o caso do TransferWise que está disponível nos EUA desde o lançamento em 2011. Esta empresa da Estónia mostrou no relatório anual que os EUA representaram 25% da sua receita total entre março de 2018 e 2019. Embora o crédito seja a operação dominante em termos de valores totais de transação, os dados sugerem que os cartões de débito e os serviços bancários móveis estão a tornar-se mais populares nos EUA.

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