Opinião

O retorno social da educação

Lurdes Neves, investigadora e docente no ISG*

Os rendimentos futuros das pessoas dependem do investimento na sua educação. Investigações mais recentes confirmam a existência de uma relação positiva entre a educação e os rendimentos individuais e acrescenta que, em média, num conjunto alargado de países, um ano adicional de educação corresponda a um acréscimo de rendimento individual entre 7,5% e 10% por ano.

A educação é, pois, um fator determinante para o designado capital humano e impulsionadora do desempenho individual. Os estudos económicos vão ainda mais longe ao defender que os benefícios da educação na sociedade, os chamados retornos sociais, superam o somatório dos retornos individuais: a educação pode acelerar o crescimento económico.

De facto, comparando países com taxas de crescimento diferentes, podemos constatar as variações nos níveis de educação que acompanham estas diferenças. Alguns modelos tentam ainda explicar a associação do nível médio de educação à produtividade de cada pessoa, defendendo que a presença de trabalhadores mais qualificados aumenta a produtividade de outros trabalhadores. Trata-se do designado efeito de externalidade, em que as decisões de uma pessoa sobre a sua educação têm impacto direto noutras.

As externalidades da educação não se resumem ao efeito positivo na produtividade. A educação pode ainda reduzir a probabilidade de realizar atividades que geram externalidades negativas. A educação está ainda associada a uma participação mais informada e ativa na vida cívica, à redução da criminalidade e, por norma, leva a tomar melhores decisões.

A possibilidade da educação ter um retorno social superior ao individual é de extrema relevância prática. Um dos argumentos para o financiamento da educação pelo Estado tem como origem o reconhecimento de que a educação recompensa a pessoa, mas cria também inúmeros benefícios partilhados pela sociedade e que beneficiam a sociedade. Nos últimos anos, surgiu ainda um vasto número de artigos científicos que procuram avaliar a magnitude destes retornos sociais, designadamente com o objetivo de medir a eficiência do investimento público na educação.

A educação pode ser assim um importante fator de convergência. Dada a associação positiva entre o nível de educação e o nível de rendimento, verifica-se que os países de nível de rendimento mais baixo são os que registam menores níveis de educação. Adicionalmente constata-se também que, na interação entre trabalhadores mais e menos qualificados, geram-se as grandes oportunidades de partilha de conhecimento e competências, o que acaba por representar um retorno social acrescentado.

De acordo com este argumento, a distribuição dispersa dos níveis de educação será proporcionadora de maiores externalidades.

*Presidente do Conselho Geral, investigadora e docente do ISG – Instituto Superior de Gestão.

Referências
Cui, Y., & Martins, P. S. (2021). What Drives Social Returns to Education? A Meta-Analysis. World Development, 148, 105651.
Hanushek, E., & Woessmann, L. (2020). The Economic Impacts of Learning Losses, Education Working Papers, n.º 225, OECD Publishing.


Lurdes Neves realizou o Doutoramento em Psicologia, com especialização em Psicologia da Educação. Áreas de Especialização em Psicologia da Educação, Psicologia das Organizações, Orientação Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira e Coaching Psicológico. Foi Coordenadora de Gabinetes de Apoio ao Docente em Agrupamentos de Escolas. Especialista em formação nas áreas de Liderança, Avaliação de Desempenho, Gestão de Trabalho em Equipa, Gestão de Conflitos, Formação Pedagógica Inicial e Contínua de Formadores, Diagnóstico, Conceção, Avaliação e Gestão da Formação, Motivação, Liderança de Equipas e Coaching  com públicos diversificados do setor público e privado. Consultora especializada em Agrupamentos de Escola, Gestão de Recursos Humanos, Projetos de Liderança Educativa, seleção e recrutamento para o desenvolvimento da liderança estratégica, implementação do projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, coaching educativo e diferenciação pedagógica em sala de aula.
Foi investigadora no Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Autora de escalas de perceção de liderança e motivação no trabalho adaptadas a Portugal e de diversas comunicações e publicações nacionais e internacionais na área da liderança, coaching, mudança organizacional, educação e formação profissional.

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