O que pensam os homens das mulheres nos negócios?

Os homens falam. Conversam sobre as mulheres, claro. Fazem-no de várias formas e chegam a níveis diversos. Não, os homens não são todos iguais e não pensam todos da mesma maneira. Desafiámos 11 profissionais de diferentes áreas a dizerem-nos o que pensam das mulheres nos negócios e as respostas foram estas.

Mas afinal o que pensam Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal, Domingos Guimarães, cofundador da Academia de Código, Gonçalo Martins Ribeiro, fundador da YData, João Sevilhano, sócio, estratégia e inovação da Way Beyond, Mário Ceitil, presidente da APG, Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A, Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital, Tiago Rodrigues, administrador executivo grupo Vale do Lobo, Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School, Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom, ou Jordi Augustí, CEO da Waynabox, sobre as Mulheres?

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, decidimos passar a palavra a 11 profissionais ligados ao mundo empresarial, académico e associativo, e desafiamo-los a responder a três questões sobre o papel das mulheres nos negócios e nos seus próprios percursos profissionais. As conclusões mostram que, na sua maioria, defendem o trabalho conjunto entre homens e mulheres. A falta de confiança das mulheres nas posições de chefia foi uma das referências mais frequentes.

1 – De que forma a mulheres estão a marcar (ou podem vir a marcar) o mundo dos negócios e da inovação?
2 – O que seria a sua vida empresarial sem a presença de mulheres no seu percurso?
3 – O que falta às mulheres portuguesas para terem uma presença mais visível e efetiva na vida empreendedora e empresarial?

Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal

Diogo Alarcão1- Embora não defenda que exista um estilo de gestão masculino e outro feminino, reconheço que homens e mulheres não abordam da mesma maneira muitos dos desafios que encaram no dia a dia nas empresas. Há estereótipos que devem ser desafiados na gestão, pois nem sempre vejo homens a decidir apenas numa lógica racional e mulheres a colocarem um lado mais emocional na tomada de decisão. O que quero dizer com isto? Quero dizer que, da mesma forma que a racionalidade, companheirismo ou o espírito de competição não são exclusivos do homem, também a proximidade, sensibilidade e capacidade de abordagens holísticas não são exclusivas das mulheres. Neste sentido, tenho alguma dificuldade em dizer que as mulheres estão a marcar o mundo dos negócios e da inovação de forma especifica em comparação com os homens. No entanto, não tenho a menor dúvida que organizações que promovam maior diversidade e equipas compostas por homens e mulheres estarão muito melhor preparadas para crescer, diversificar, transformar-se e inovar. Homens e mulheres juntos farão sempre mais e diferente, pois irão desafiar-se e questionar-se constantemente e isso é muito bom para o desenvolvimento do negócio e para a inovação.

2 – Seria muito mais pobre e monótona. As minhas colegas e as minhas clientes têm-me ajudado a ser um gestor muito mais atento e próximo. O facto de pensarem e agirem, por vezes de forma diferente, tem-me ajudado a questionar a direção e atitudes que tomo. Aconselho-me frequentemente com colegas mulheres quando tenho que tomar decisões difíceis ou quando estou com dificuldades em interpretar sinais da organização.

3 – No setor dos serviços e nos grandes centros urbanos vejo cada vez mais mulheres a assumir lugares de chefia e liderança em projetos empresariais. É verdade que ainda assistimos a uma sub-representação de mulheres nos lugares de topo das organizações, mas creio que alterar isso depende muito mais dos homens (ainda em maioria) do que das mulheres. Creio que a situação pode ser um pouco distinta no setor da indústria e em algumas zonas rurais, mas também aqui há excelentes exemplos de mulheres que se destacam pelo seu papel de liderança e inovação. No fundo, acredito que há uma enorme predisposição para mudar, mas ainda falta um caminho grande a percorrer. De acordo com o estudo da Mercer “When Women Thrive 2020”, a maior parte das empresas mundiais (81%) afirma que é importante melhorar a diversidade e inclusão (D&I), mas menos de metade, cerca de 42%, têm uma estratégia plurianual estruturada para atingir a igualdade de género; ou seja, a vontade existe, mas é preciso tomar medidas mais eficientes que assegurem resultados mais rápidos.

Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School

1- O mundo dos negócios tem tido nos últimos tempos algumas mulheres no topo das organizacões de grande projeção social. De memória cito as CEO da IBM, da PepsiCo, da General Motors, nos EUA; em Portugal, a Fundação Champalimaud e a Fundação Gulbenkian têm a presidência confiada a senhoras. Na Índia, o atual Ministro das Finanças e o anterior dos Negócios Estrangeiros são senhoras. E, em geral, todas parecem ter desempenhado o seu papel com agrado de quem teve de o avaliar. A sensibilidade feminina aos aspetos humanos e da convivência na organização, bem como variados aspectos da liderança, fizeram com que elas fossem bem-sucedidas. A autoridade que conquistaram pela sua competência e que fica patente na organização pelas suas decisões, pelas atitudes e, em geral, pelo exemplo da sua conduta parecem torná-las muito eficazes em postos de comando que alcançaram pelo seu mérito pessoal.

2 – Aprendi muito com a minha mãe, para entender o que se passa com as pessoas ao redor, observando as suas reações, atitudes e até pelo seu olhar, pela rosto: estão ansiosas, insatisfeitas, preocupadas, a sofrer? A intuicão feminina vai muito longe e com a minha mãe aprendi a entender um pouco as pessoas, a detetar e a indagar sobre problemas e ansiedades e a tentar ver que solução posso dar. Muitas vezes o que é esperado é bem pouco, por vezes apenas querem ser ouvidas com atenção e interesse. Outras vezes esperam algo de caráter material, disponibilizar algum recurso, facilitar a vida, flexibilizando o horário de trabalho, para poder levar uma pessoa da família ao médico, etc. Mas esse escutar alivia as pessoas, as suas tensões e cria um ambiente de confiança que no plano da relação humana é deveras construtivo. As organizações são, em primeiro lugar, pessoas que lá trabalham e todo o seu potencial, ainda por desenvolver, como profissionais e como pessoas.

3 – Qualquer pessoa, durante o tempo dos seus estudos vai formando uma ideia das possíveis ocupações futuras. Há quem escolha uma carreira profissional ou outra. Há também quem opte por menos brilho, mas que procura fazer “dentro do possível” o melhor papel no âmbito profissional, trabalhando com seriedade, mas sem excessos, para se dedicar a outras tarefas tidas por prioritárias. Se alguém conclui, no trato diário com a família, que o melhor investimento do seu tempo é dedicar parte importante dele aos filhos, porque não? É algo que uma mãe depressa se dá conta: do efeito fabuloso que tem nos filhos a sua presença, o que ensina, os critérios que ajuda a formar, também com as brincadeiras, os jogos, uma palavra de ânimo, etc. Muitas mães decidem dedicar-se mais a família, sem desejos de brilhar na profissão. E fazem muito bem, dentro da sua liberdade. Além disso, há ocupações mais indicadas para o homem e outras mais indicadas para a mulher. E a mulher parece realizar-se melhor nelas, com um trabalho ótimo, por exemplo, de criar um ambiente familiar onde todos os membros se sentem atraídos e disfrutam dele. Nos filhos a presença da mãe parece ajudar a crescer com segurança, num ambiente de sereno, sem sobressaltos, porque a mãe está aqui perto… Parece-me que a comunidade empresarial está demasiado marcada pelo Homem e para o Homem. Parece ter chegado o momento de a moldar ou reformatar para dar à Mulher o seu lugar nela. É necessária uma comunidade empresarial pensada pela mulher ou com a ajuda dela. Pergunto-me porque o part-time não é muito mais generalizado em todo o tipo de ocupações (médicas, enfermeiras, engenheiras, secretárias, advogadas, informáticas, etc., etc.), para que cada uma possa escolher o horário que mais se ajusta a si… Um full-time profissional para a mulher pode significar dois full-times: um profissional e outro da responsabilidade das tarefas do lar.

João Sevilhano, sócio, estratégia e inovação da Way Beyond

1- Eu sou daquelas pessoas que acredita que são inegáveis as diferenças entre homens e mulheres. Da mesma forma vejo essas distinções como essenciais e maravilhosamente complementares. A forma como eu espero que as mulheres estejam a marcar o mundo dos negócios e da inovação é estando ainda mais presentes. Escrevo “espero” porque vejo que tal já está a acontecer mas reservo-me a hipótese de ser um pouco wishful thinking da minha parte. Isto porque, sendo homem, mesmo respeitando e defendendo a igualdade e equidade entre géneros apesar das referidas diferenças, é-me muito difícil conseguir a distância suficiente dos preconceitos com que cresci e que ainda vejo fazerem sentir os seus efeitos. Se é para mim certo que as mulheres têm ocupado cada vez mais o lugar que sempre terá sido seu por direito, há milénios que sabemos que nós, homens, abusamos de posições de poder que conseguimos através da fraca legitimidade da força. Numa era em que os negócios precisam de se humanizar, as mulheres, pela sua capacidade geradora, poderão ajudar-nos todos a conseguir afastar-nos da metáfora mecânica que é limitada e limitativa.

2 – Actualmente seria muito solitária, de forma literal. Na equipa base actual da Way Beyond somos 8. Eu sou o único representante do género masculino a tempo inteiro. No meu percurso tive a sorte de ter sido liderado quase sempre por mulheres. Acredito que tal experiência me terá ajudado a fundamentar as ideias que tenho sobre este assunto. Com esta vivência aprendi também que o bom uso do poder e que a boa liderança são independentes do género. Aprendi ainda que características que são tipicamente associadas ao feminino podem ser forças extraordinárias num homem. E o contrário poderá também ser verdade. Acreditando na bissexualidade psíquica, o facto do meu percurso ter sido muito influenciado por diferentes mulheres ter-me-á ajudado a tomar contacto, a aceitar e a desenvolver as minhas facetas femininas. Além disto, eu que gosto de ser desafiado e que me mostrem ângulos e perspectivas que não consigo ver por mim próprio, vejo uma enorme vantagem ao trabalhar com mulheres. Pelas diferenças que já referi, é-me mais fácil aceder a outras formas de ver, de pensar e de sentir por estar próximo de quem é diferente de mim, de quem me complementa.

3 – Acredito que nada falta às mulheres portuguesas. Temos já muitos e bons exemplos de mulheres com lugares de destaque em pequenas e grandes empresas. Temos já muitos e bons exemplos de negócios criados e geridos por mulheres. Em relação às desigualdades e à falta de equidade ainda existentes na sociedade, onde se incluiu a vida empreendedora e empresarial, acredito são os homens quem terá de se ocupar mais em mudar o status quo. Em grande parte dos casos, tais mudanças implicarão mudar de perspectiva de forma profunda e, por vezes, saber abdicar de um poder que está instituído pela cultura há demasiado tempo. Às mulheres restará não deixarem de ser orgulhosamente mulheres; procurando não se masculinizar para se adaptarem a uma vida empresarial que ainda subsiste à custa de um arquétipo predominantemente masculino e, muitas vezes, ainda machista.

Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas

1- A valorização da diferença constitui uma das componentes fundamentais da sinergia, que é cada vez mais uma questão muito valorizada nas organizações. O mundo complexo em que vivemos coloca novos desafios que têm de ser enfrentados com quadros de referência diferentes, o que conduz a considerar a “diversidade cognitiva” como um novo asset para o sucesso das organizações. Neste contexto, a diversidade de género tem sido uma das expressões dessa “diversidade cognitiva” que mais se tem expandido nas empresas, conduzindo a que um cada vez maior número de mulheres tenha vindo progressivamente a assumir papéis de maior relevo na gestão das organizações. Em algumas funções de gestão, particularmente nos domínios da gestão de recursos humanos, as mulheres começam já a ser dominantes, e são cada vez mais frequentes nas funções de topo.

2 – No meu caso concreto, trabalhei durante muitos anos com uma mulher como diretora-geral, que exerceu uma influência muito poderosa nas minhas conceções sobre a gestão e os negócios. No entanto, os aspetos mais salientes dessa influência estão relacionados com o seu exemplo de ética, capacidade de escuta, isenção de juízo e sentido de justiça que não são obviamente nem atributos exclusivos nem sequer diferencialmente distintivos em termos de estereótipos de género. De resto, sempre tive nas minhas equipas muitas mulheres, com características diferentes umas das outras, exatamente à semelhança do que acontece com os homens.
De acrescentar, todavia, que foi justamente numa mulher que experienciei uma das atitudes mais anti-éticas na minha carreira profissional. Claro que isto não encerra nenhum juízo de valor em abstrato, mas apenas a evidência de que os comportamentos profissionais não são radicalmente diferentes entre homens e mulheres.

3 – Julgo que o que faltará a “algumas mulheres portuguesas” será talvez uma falta de confiança em si próprias, muitas vezes devido ao facto de se deixarem permeabilizar elas próprias pela vigência de certos estereótipos em relação ao seu próprio género. É assim como uma espécie de “profecia auto-realizada”.
No entanto, julgo que todos estes fenómenos estão em franca e rápida evolução e que muito brevemente as mulheres passarão a ocupar cada vez mais lugares cimeiros na hierarquia social, tanto nas organizações como na política. A estatística também vai ajudando claro, havendo, como é sabido, uma desproporção estatística entre o número de homens e mulheres. Por estas várias razões, e pelo aprofundamento da valorização das lógicas e das práticas de diversidade, é expectável virmos a assistir progressivamente a uma maior diluição dos estereótipos de género, valorizando-se cada vez mais o caráter distintivo, criativo e diferenciador dos contributos das pessoas, seja o seu género masculino, feminino ou essa versão pós moderna do “outro”.

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

1 –  Já estão a marcar e desde há muito tempo. A assertividade, perspicácia, brio e empenho são características que muito aprecio no domínio profissional e fazendo uma rápida visita de memória às muitas empresas com quem trabalhei, verifico que se destaca um denominador feminino. Não é o género que faz a distinção entre mérito, capacidade de trabalho e inteligência. Mas o contributo feminino tem-se destacado na abertura de espírito, na forma de gerir organizações, visão holística da realidade e foco na capacidade de decisão, emprestando às empresas e instituições uma nova frescura, mais sã, mais pragmática, menos redonda e mais credível.

2 – Não seria, porque há um encanto natural que só se encontra no feminino! A minha dificuldade em responder a esta questão é total porque desde que criei a minha empresa trabalhei sobretudo com mulheres, enquanto consultoras ou formadoras. Felizmente, dos milhares de formandos e alunos que conheci ao longo do tempo, destacam-se muitas mulheres com quem muito aprendi e com quem mantenho relações de amizade e respeito. O mesmo acontece com a grande maioria das pessoas com quem trabalhei nas Universidades por onde passei: um mundo de mulheres dedicadas, dinâmicas, competentes e sempre com vontade de fazer mais e melhor. Aliás, os projetos para os quais escrevo (Link to Leaders e Executiva) são geridos por mulheres fantásticas, com um enorme espírito empreendedor e uma alegria contagiante. Finalmente, e em tudo o que me empurra para tentar fazer melhor, revejo na minha filha Catarina o espelho de tudo o que acabei de descrever.

3 – Falta persistir nesse caminho, da mesma forma ou de forma mais intensa, sem a necessidade de exclusão do masculino. O caminho faz-se caminhando, não contra outros, mas sendo fiel a uma rota: a da seriedade, sabedoria, arte, ética, persistência e coerência. Oxalá esse caminho seja mais feminino. Mas nele, nada deve ter género!

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital

1- Curiosamente, a título pessoal, desde os meus primeiros desafios profissionais na publicidade e passando depois aos media e no percurso académico sempre trabalhei e estive rodeado de um bom número de mulheres em cargos de chefia e de liderança. Não deixo de notar, contudo, que o traço mais marcadamente vincado de um líder vem do seu caráter, da sua vivência e das suas crenças. Homem ou mulher, caímos não raras vezes nos simplificadores de “os homens são mais assim” e “as mulheres mais assim”. Este preâmbulo serve apenas para sublinhar a minha resposta. Não creio que alguém por ser mulher ou ser homem seja diferente no seu impacto na sociedade. É o seu todo. Os negócios e a inovação serão, como foram até aqui, marcados por homens e mulheres. E vão continuar a sê-lo. Cair no facilitismo de expressões como “as mulheres por serem mães trazem…” ou “os homens por serem mais competitivos trazem…” induz, dia após a dia, por osmose, a um pensamento cultural que sairá enviesado na observação e interpretação do outro. E o outro, os nossos colegas, amigos muitos deles, devem ser olhados sem baias. Irão marcar positivamente mais, tanto quanto conseguirmos interpretar os sinais de como os apoiar e dar os recursos para que, quem tem mérito, possa não esbarrar em muros e seguir disparado para marcar a vida da empresa, da sociedade e a sua.

2 – Naturalmente diferente. Tal como seria sem homens. Não foi o género que me trouxe qualquer influência. Tem sido o caráter, as crenças, a maneira de abordar as equipas e o trabalho. Cada pessoa traz uma magia especial, sua e única. Retive de muitas pessoas, e não necessariamente hierarquicamente acima, excelentes aprendizagens; aprendi muito também com pessoas mais júniores, como aprendi com séniores e chefias. A título de curiosidade e no meu atual desafio, a equipa de direção já foi praticamente toda composta por homens e hoje é maioritariamente por mulheres. O projeto prossegue. Continuamos a crescer. As diferenças e o valor adicional que cada um traz, de novo, não são marcados pelo género a meu ver.

3 – Nada. Creio que há uma circunstância que tem sido verdadeiramente e vincadamente reiterada, que é mais cultural, da sociedade, enraizada em séculos (milénios!) de espécie humana e que hoje temos maior consciência da mesma e que na evolução para uma sociedade contemporânea mais afastada do conceito de comunidade familiar obrigou hoje a uma visão diferente. A matriarca da família, o ancião, a tribo, as relações próximas de entes ligados por um mesmo apelido desfizeram-se. Hoje vemos com naturalidade que pais e filhos estejam distantes. Infelizmente, creio até, há uma certa validação do “ir para fora” e uma crítica ao estar “perto”. O indivíduo passou a ser visto de forma comum e natural estar mais só. O Estado dá o suporte, onde antes estava a família. O mercado, aberto e livre e cheio de caminhos, visto como o espaço natural de evolução, onde cada um se deve aventurar sem olhar para trás. Pior? Melhor? Certamente diferente. A revolução em curso acelera este enquadramento. Todos nos estamos a adaptar e um dos sinais é sem dúvida o reforço da consciencialização da igualdade entre género que ainda tarda. Por isso creio que não falta nada às mulheres. Falta-nos a nós todos, enquanto sociedade, trabalhar e prosseguir este caminho de maior igualdade.

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

1 –  As mulheres têm modelos de raciocínio diferentes dos dos homens, razão pela qual acrescem Valor através da introdução de novas perspetivas e sensibilidades. Este diálogo homem-mulher permite por isso criar diversidade e vantagens competitivas no mercado empresarial.

2 – Bem, há muitos anos que lidero e sou liderado por mulheres na minha vida empresarial, razão pela qual reconheço uma complementaridade de modelos de gestão e um enriquecimento pessoal e nas relações humanas, que estou certo que não alcançaria se as minhas experiências profissionais fossem exclusivamente com relacionamento profissional com homens.
A análise do detalhe deste meu ecossistema empresarial com mulheres, tem-me permitido tomar decisões muito mais sustentadas e com maior potencial de sucesso.

3 – Tempo! Os conceitos familiares tradicionais pesam mais na gestão do dia a dia nas mulheres. Este é um factor que dificulta uma presença mais equilibrada em posições de decisão empresarial. É, por isso, fundamental garantir que o valor acrescentado que as mulheres trazem às empresas, seja incentivado com modelos equilibrados na relação partilhada das famílias e com as empresas.

Tiago Rodrigues, administrador executivo grupo Vale do Lobo

1 – Atualmente, ainda com uma expressão possivelmente inferior à desejável, mas seguramente superior à do passado e eventualmente inferior à de um futuro não muito longínquo. Tenho tido o privilégio de conhecer e conviver com mulheres fantásticas ao longo da minha vida, desde as minhas avós, a minha mãe, a minha esposa e a minha filha, para além de várias outras entre familiares, amigas ou colegas de estudo ou de trabalho. O papel inigualável, insubstituível e maravilhoso que as mulheres têm no mundo deve ser celebrado não apenas num dia específico do ano, mas em cada um dos dias do ano.

2 – Com certeza menos rica do ponto de vista das experiências e da aprendizagem (ao nível dos soft e hard skills). Tive, felizmente, várias chefes mulheres na minha vida, que foram tão ou mais importantes e com quem aprendi tanto ou mais do que com os chefes homens que tive. Conheci, felizmente, mulheres tão ou mais inteligentes, capazes e sofisticadas do que homens. Conheci, também (feliz, porque aprendi muito com isso, e infelizmente, porque não é fácil!) algumas mulheres incompetentes, irresponsáveis, desonestas, hipócritas e emocionalmente instáveis, assim como alguns homens com quem me cruzei. Respeito e prezo exatamente da mesma forma a minha Mãe ou as minhas falecidas Avós, domésticas toda uma vida, dedicadas à família, como a minha esposa, mulher com uma inteligência brilhante, doutorada em Estatística, e com uma generosidade ilimitada (pelo menos eu ainda não vi esse limite em quase 20 anos de casamento), ou Margaret Thatcher, grande estadista.

3 – Às mulheres, nada, têm tudo! Se falta alguma coisa não é seguramente às mulheres, mas sim à sociedade em geral e à cultura empresarial em particular.

 

E qual a visão de fundadores de projetos jovens, que estão a conquistar o seu espaço no mercado? Sentem-se ameaçados pela concorrência feminina no caminho que estão a trilhar? Eis o ponto de vista de três fundadores de start-ups. 

 

Domingos Guimarães, cofundador da Academia de Código

1- De que forma a mulheres estão a marcar (ou podem vir a marcar) o mundo dos negócios e da inovação?
As mulheres já marcam há muitos anos o mundo dos negócios e da inovação. Infelizmente, uma sociedade predominantemente machista, tem impedido que tenham mais oportunidades. Parece que começa a haver vontade de mudar as coisas, espero que isso aconteça com força e urgência. A igualdade de género é imperativa. Em todas as empresas em que sou gestor ou participo é inimaginável algum tipo de discriminação, não percebo como pode acontecer noutros lugares, mas a verdade é que existe, basta olhar para os números nos salários e nas administrações.

2 – Sente-se ameaçado pelas mulheres na sua vida profissional?
Sinto-me motivado a apoiar cada vez mais o talento feminino a ter mais oportunidades. Não me sinto ameaçado por nada, exceto pela ignorância.

3 – O que falta às mulheres portuguesas para terem uma presença mais visível e efetiva na vida empreendedora e empresarial?
Falta uma sociedade mais justa, sem discriminações. Temos todos que trabalhar muito mais, para correr atrás do atraso que levamos na igualdade de género.

Gonçalo Martins Ribeiro, fundador da YData

Gonçalo Martins 1 – De que forma a mulheres estão a marcar (ou podem vir a marcar) o mundo dos negócios e da inovação?
Creio que finalmente se está a perceber as vantagens da diversidade de género, multiculturalidade e multidisciplinaridade nos negócios e inovação em geral. Muitas grandes empresas que estão a colocar mulheres em cargos decisores estão a recolher os frutos e servem de exemplo para as restantes.

2 – Sente-se ameaçado pelas mulheres na sua vida profissional?
Mais abençoado do que ameaçado porque não sei o que faria sem a minha sócia. Complementamo-nos na forma de pensar e isso é inestimável. Quanto aos homens que se sentem ameaçados por mulheres, deveriam reconsiderar as suas opções pois a competência profissional não tem género.

3- O que falta às mulheres portuguesas para terem uma presença mais visível e efetiva na vida empreendedora e empresarial?
Está provado que, de forma generalista, numa entrevista de emprego os homens tendem a vender-se acima da sua capacidade enquanto que as mulheres fazem o oposto. Existe logo aqui um desfasamento grande da realidade. Mais, Portugal é um país culturalmente conservador. Felizmente, existem dados que indicam que cada vez mais homens estão a tirar partido das licenças de paternidade e que existe uma tendência com vista a um equilíbrio, mas é um caminho longo a percorrer. Em suma, a faltar algo às mulheres portuguesas, seria confiança, mas será algo para se trabalhar na educação das futuras gerações.

Jordi Augustí, CEO da Waynabox

1 – De que forma a mulheres estão a marcar (ou podem vir a marcar) o mundo dos negócios e da inovação?
Elas tornam esses ambientes melhores. Uma equipa com mais sensibilidade tem melhores resultados e adapta-se melhor às mudanças, através da diversificação de pontos de vista. Em qualquer campo, como os mencionados em inovação, empreendedorismo ou negócios, isso também é verdade. Se queremos obter melhores resultados, temos que favorecer a entrada de mulheres.

2 – Sente-se ameaçado pelas mulheres na sua vida profissional?
Longe de sentir-me ameaçado, ter mulheres no ambiente de trabalho é uma oportunidade para aprender e perceber outros pontos de vista.

3 – O que falta às mulheres portuguesas para terem uma presença mais visível e efetiva na vida empreendedora e empresarial?
Há muitas coisas que poderiam ser melhoradas a partir da educação, mas o mais importante é eliminar as desigualdades. Salário igual, conciliação familiar, licença maternidade e paternidade igual e intransferível. Se removermos as barreiras, elas naturalmente chegarão já que a capacidade existe.

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