Opinião
O que fazer com os snowflakes?

As novas gerações, rotuladas como “snowflakes” pela sua sensibilidade e facilidade em ofender-se, enfrentam desafios significativos no mundo do trabalho.
Porém:
- Não há evidência científica que comprove que os nascidos neste século e milénio sejam menos resilientes que qualquer outra geração;
- Existe claramente a certeza, demonstrada por vários estudos, de que foram criados em ambientes de superproteção e de valorização da individualidade. Mais, os seus pais transferiram para os mesmos não as necessidades de lutar para conquistar um lugar, qualquer que seja, mas a necessidade de reclamar e de impor os seus direitos e delimitar linhas visíveis onde as empresas e as pessoas não podem entrar;
- As empresas precisam de colaboradores capazes de lidar com a crítica, com a pressão, emocionalmente fortes e orientados para resultados coletivos e para outcomes que sejam os da própria empresa em conjugação com o melhor das suas pessoas;
- A retenção, porque à primeira “falha” há uma rejeição do ambiente, do modelo, da orgânica empresarial, qualquer que seja, é um desafio óbvio para quem quer que seja.
A pergunta que se impõe é como se resolve isto?
E a primeira resposta honesta que se pode dar é “ninguém sabe”. Porém, julgo que o primeiro passo é reconhecer a diferença de perfis. O segundo passo é aprender a conviver com ambientes mais voláteis em termos de estabilidade de trabalho e organizar e preparar as empresas para isso mesmo. O terceiro é, claramente, perceber que o futuro está nos seus braços e não nos de quem os precede. É o ciclo da vida e é, e será, inexoravelmente assim. Seria igualmente útil não hostilizar ninguém e muito menos rotular uma geração com terminologia depreciativa como snowflake.
Nada disto, porém, resolve a questão de fundo.
E é aqui que penso que entra o papel das universidades e da formação de executivos. Muitas empresas já o perceberam e bem. Como? Procurando equilibrar conteúdos com interesse genuíno na construção humana, conseguindo ambientes de partilha que noutro lugar e noutros contextos psicológicos menos seguros são virtualmente impossíveis, sendo capaz de formar pessoas enquanto pessoas e recusando os conteúdos standard afastados das pessoas e da sua construção, dando espaço à liberdade de participação e proporcionando contextos onde possa ser usada e aceite a opinião contrária, valorizando a riqueza da complementaridade, fomentando perspetivas gregárias e preparando as pessoas para maiores níveis de exposição aos outros e às diferentes dinâmicas de liderança. Entendendo o que é cultura e cultura de grupo e como se constrói.
Uma coisa é certa. As facilidades de contexto geram pessoas cada vez mais complexas de entender e de gerir. São snowflakes? Não sei. Nem me parece que a terminologia ajude. Mas que são diferentes, são.