Opinião

O que fazer com os snowflakes?

José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education

As novas gerações, rotuladas como “snowflakes” pela sua sensibilidade e facilidade em ofender-se, enfrentam desafios significativos no mundo do trabalho.

Porém:

  • Não há evidência científica que comprove que os nascidos neste século e milénio sejam menos resilientes que qualquer outra geração;
  • Existe claramente a certeza, demonstrada por vários estudos, de que foram criados em ambientes de superproteção e de valorização da individualidade. Mais, os seus pais transferiram para os mesmos não as necessidades de lutar para conquistar um lugar, qualquer que seja, mas a necessidade de reclamar e de impor os seus direitos e delimitar linhas visíveis onde as empresas e as pessoas não podem entrar;
  • As empresas precisam de colaboradores capazes de lidar com a crítica, com a pressão, emocionalmente fortes e orientados para resultados coletivos e para outcomes que sejam os da própria empresa em conjugação com o melhor das suas pessoas;
  • A retenção, porque à primeira “falha” há uma rejeição do ambiente, do modelo, da orgânica empresarial, qualquer que seja, é um desafio óbvio para quem quer que seja.

A pergunta que se impõe é como se resolve isto?

E a primeira resposta honesta que se pode dar é “ninguém sabe”. Porém, julgo que o primeiro passo é reconhecer a diferença de perfis. O segundo passo é aprender a conviver com ambientes mais voláteis em termos de estabilidade de trabalho e organizar e preparar as empresas para isso mesmo. O terceiro é, claramente, perceber que o futuro está nos seus braços e não nos de quem os precede. É o ciclo da vida e é, e será, inexoravelmente assim. Seria igualmente útil não hostilizar ninguém e muito menos rotular uma geração com terminologia depreciativa como snowflake.

Nada disto, porém, resolve a questão de fundo.

E é aqui que penso que entra o papel das universidades e da formação de executivos. Muitas empresas já o perceberam e bem. Como? Procurando equilibrar conteúdos com interesse genuíno na construção humana, conseguindo ambientes de partilha que noutro lugar e noutros contextos psicológicos menos seguros são virtualmente impossíveis, sendo capaz de formar pessoas enquanto pessoas e recusando os conteúdos standard afastados das pessoas e da sua construção, dando espaço à liberdade de participação e proporcionando contextos onde possa ser usada e aceite a opinião contrária, valorizando a riqueza da complementaridade, fomentando perspetivas gregárias e preparando as pessoas para maiores níveis de exposição aos outros e às diferentes dinâmicas de liderança. Entendendo o que é cultura e cultura de grupo e como se constrói.

Uma coisa é certa. As facilidades de contexto geram pessoas cada vez mais complexas de entender e de gerir. São snowflakes? Não sei. Nem me parece que a terminologia ajude. Mas que são diferentes, são.

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José Crespo de Carvalho

José Crespo de Carvalho

Licenciado em Engenharia (Instituto Superior Técnico), MBA e PhD em Gestão (ISCTE-IUL), José Crespo de Carvalho tem formação em gestão, complementar, no INSEAD (França), no MIT (USA), na Stanford University (USA), na Cranfield University (UK), na RSM (HOL), na AIF (HOL) e no IE (SP). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático da Nova SBE (Operations... Ler Mais..

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