O que defendem os líderes na Era da inteligência artificial

O Casino do Estoril recebeu mais uma edição do Lisbon Leadership Summit, um encontro que juntou líderes nacionais e internacionais em torno da temática da liderança. Sob o lema “Are We Going Together?”, a edição deste ano debateu questões relacionadas com a humanização, a diversidade e a globalização.

Oradores nacionais e internacionais participaram neste encontro, que decorreu no dia 1 de outubro, sobre os novos desafios da liderança, num mundo em forte mudança tecnológica e com novos paradigmas sociais.

Um mundo onde a inteligência artificial (IA), a data science e os algoritmos começam a dominar o dia a dia, o fator humano e as ligações empáticas parecem ser cada vez mais importantes e essenciais para o desenvolvimento da liderança. Foi esta a grande conclusão da manhã de debate no Casino de Estoril, que começou com a intervenção do filósofo Haridimos Tsoukas.

No painel intitulado “O belo mal e o desejo transcendental: IA e espiritualismo”, Haridimos alertou para o início de uma Era onde a liderança é feita por IA e frisou: “Eu não sou um robot, sou um ser humano”. Durante o seu  discurso, o filósofo afirmou que a IA não tem empatia e as relações humanas não são mecânicas. “A capacidade de ler o outro não só pelas palavras, mas pela postura e comportamento é vital para formas de liderança mais próximas”, lembrou.

“Precisamos de desenvolver o que já temos: competências humanas e únicas de compreensão, adaptação, empatia e transcendência”, revelou Tsoukas que acredita que as particularidades que nos tornam humanos serão insubstituíveis pela inteligência artificial. “A IA é parte da nossa vida, mas não percebe os inputs que processa e os outputs que gera”, justificou.

Também Alexandre Fonseca, CEO da Altice, referiu durante o encontro que “o fator humano é o critério chave da liderança” e que um líder deve ser próximo, criar laços e envolver os colaboradores. “A liderança constrói-se”, sublinhou.

O líder da Altice falou ainda da necessidade de humanizar a gestão e do facto de a felicidade ser um objetivo de uma liderança de sucesso. O estereótipo do líder empresarial distante da equipa, autocrático, mudou nos últimos tempos para uma relação de proximidade com as equipas, defendeu. Neste sentido, Alexandre Fonseca referiu que “a proximidade com as equipas é importante para que estas se sintam parte da empresa e do projeto que levam a cabo, e que lhes permite acreditar que um dia poderão estar nesses cargos de liderança”.

Os novos paradigmas de liderança passam por liderar os outros não de forma autocrática, mas pelo exemplo. A proximidade, a partilha de conhecimento, as competências de comunicação – para fora e para dentro da organização – são atributos importantes para a nova geração de líderes, defendeu Alexandre Fonseca no Leadership Summit Portugal 2019.

O CEO da Altice acrescentou que num mundo onde a IA assume um papel importante para a automatização de diversas tarefas, a inteligência emocional torna-se cada vez mais importante para a humanização da experiência de trabalho. Na sua ótica, o papel do líder deve passar por coordenar a equipa e encontrar as melhores formas de trabalharem em conjunto para alcançar o melhor para a empresa.

Alexandre Fonseca terminou a sua apresentação com uma máxima de Jack Welsh sobre liderança como forma de resumir a sua perspetiva sobre o tema: “Before you are a leader, success is all about growing yourself. When you become a leader, success is all about growing others” (“Antes de ser líder, o sucesso tem tudo a ver com o seu crescimento pessoal. Quando você se torna um líder, o sucesso tem tudo a ver com o crescimento dos outros”, tradução livre).

Já para Chris Lowney, seminarista jesuíta e antigo diretor-geral da JP Morgan, o líder do futuro terá de “desenvolver competências, profundamente espirituais” para manter as pessoas nas organizações.

Para Lowney, a inteligência artificial pode “ajudar-nos a melhorar a performance, através de dados”, mas nunca poderá substituir o papel “transcendente” de uma liderança espiritual. “Ser solidário, partilhar uma missão comum, promover o respeito mútuo e motivar, são fatores que não se conseguem pesar, são valores profundamente espirituais”, realçou.

Comentários

Artigos Relacionados