Opinião

O propósito não é uma moda (do) digital

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

Quantas empresas pensaram na sua estratégia de mercado? Quantas a escreveram? Quantas validam continuamente se estão a segui-la ou se estão a distanciar-se dela?

E quantas definiram a sua missão antes de definir a sua estratégia? Tal como explica Simon Sinek, no seu conceito do Golden Circle, mais do que fazer tarefas, importa sabermos o porquê de as fazermos. Saber o propósito da existência de uma empresa (e de uma pessoa) é uma regra de ouro na gestão, seja para definir uma estratégia de negócio, uma estratégia digital, uma estratégia tecnológica, ou outra qualquer estratégia.

Sem um propósito não pode existir um rumo definido. E se uma empresa, que é constituída (ainda) por pessoas não conhece o seu rumo, pouco tem para dar às suas pessoas fazendo com que estas se percam, se desmotivem, atuem sem um sentido definido e, com o passar do tempo, começam a estar mais preocupadas em não sair do seu lugar para não se comprometerem, tal como não deixam os outros saírem do lugar onde estes estão para não serem incomodados. O foco deixa de ser inovar e a criar valor, passando a fazer tarefas para o seu “umbigo” e menos para algo superior a elas: o propósito da empresa.

Há muito a sensação de que estes conceitos do propósito, conforme Simon Sinek o apresentou na conferência TED em 2009, é uma onda aplicável a este mundo digital e, por isso, se trata de uma moda que passará. Nada mais errado para quem pense dessa forma.

O saber o seu propósito é o início de algo final que queremos e desejamos. É uma forma mais simples de definir a missão e a visão nas empresas (e também nas pessoas), tal qual por exemplo Peter Drucker (o “avô” da consultoria de gestão) definiu no seu livro “As Cinco Questões Mais Importantes que Deve Sempre Colocar à sua Organização”, que escreveu em conjunto com Jim Collins, Kotler e outros autores de renome, onde é claro que a primeira pergunta é “Qual é a nossa Missão?”. É claro que esse é o ponto de partida, a missão, que nos dias de hoje, com o enquadramento dado por Simon Sinek, é o propósito da nossa existência, enquanto organizações e pessoas.

A velocidade que o mundo digital, nesta 4.ª Revolução Industrial (a iniciarmos a 5.ª) nos trouxe e nos obriga, de forma permanente, a rever sempre os objetivos e a validar se estamos no caminho certo, só será “gerível” se, e só se, soubermos o que queremos e mantendo os princípios subjacentes ao propósito definido. A velocidade que o mundo empresarial aumentou drasticamente e ainda aumentará mais, pela fusão de uma realidade física com uma realidade digital sem os limites do mundo físico. Estamos a viver o equivalente de estarmos numa autoestrada a conduzir a 100-120km/h, dentro dos limites e regras definidas, para termos de acelerar para 140km/h para acompanhar o pelotão da frente, e depois para 160km/h, e quando nos apercebermos já vamos a 200km/h. Mas isto só é possível se soubermos para onde vamos e com quem vamos, caso contrário na primeira curva mais apertada vamos em frente…

Pode parecer estranho, e até uma conversa “mole” falar neste conceito, mas reconhece-se muito facilmente uma organização que lhe falta um propósito, ou um rumo, quando diariamente assistimos que os colaboradores estão diariamente a “apagar fogos” como bombeiros, em vez de estar a pensar e executar tarefas planeadas e definidas com tempo.

Definir uma estratégia de negócio, alinhada hoje com a criticidade de ter uma estratégia digital e suportadas com uma estratégia de sistemas de informação são hoje fatores decisivos na orientação e competitividade de qualquer organização, e até de qualquer país. Claro está, que depois há que saber, e ter competência, para a executar e garantir a resiliência de não desistir ao primeiro contratempo (na primeira curva mais apertada).

Mas … para isso, é fundamental saber o propósito que “nos aponta o Norte”! E você, sabe o propósito da sua empresa? E o do seu país?

 

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Rui Ribeiro

Rui Ribeiro

Atualmente é professor da Universidade Lusófona e consultor de Transformação Digital, tendo tido várias atividades profissionais, entre as quais Head of Consulting & Technology na Auren Portugal, diretor-geral da IPTelecom, diretor comercial da Infraestruturas de Portugal S.A., diretor de Sistemas de Informação na EP - Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. Na academia é diretor executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, e docente da ULHT. Rui Ribeiro é doutorado em Gestão... Ler Mais..

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