Opinião

O papel do marketing no C-Level

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

A relevância que o marketing deve assumir na condução dos desígnios estratégicos das empresas, sobretudo em C-level, tem sido um tema em voga.

Um estudo recente junto das 500 maiores empresas da Fortune revela que, quanto mais se entende e potencia a função marketing a um nível estratégico, mais propensão existe para o crescimento e reforço da competitividade.

Apesar disso, mantém-se algumas indefinições ou imprecisões nesta matéria. A primeira resulta da falta de perceção da contribuição efetiva do marketing para a cumprimento dos objetivos estratégicos das organizações. Em segundo lugar, a indefinição do novo papel do marketing, por força da evolução dos recursos tecnológicos, com particular destaque para a inteligência artificial. Por último, a falta de objetividade das métricas de performance oriundas da ação do marketing, em particular, do seu contributo direto no cumprimento da estratégia.

O mesmo estudo indica que 90% dos CEO’s afirmam conhecer os benefícios do marketing na concretização de objetivos, embora apenas 50% do CMO’s concorde com essa realidade. Isto não significa outra coisa que não sejam visões muito diferentes sobre as prioridades na forma como a empresa se organiza ao mais alto nível.

Creio que um dos factos que mais contribui para essa falta de sintonia está relacionado com a crescente multidisciplinaridade das funções acometidas ao marketing, ao ponto de se ver representada no organograma pelo CRO (Chief Revenue Officer), CDO (Digital), CXO (Experience) ou CCO (Customer), dando a ideia de fragmentação em toda a sua dimensão. Talvez seja por isso que entre as 500 maiores empresas, apenas 40% tenham o CMO ou mesmo o CCO dentro do C-Level, o que é um sinal preocupante.

Se conjugarmos esta realidade com o facto de apenas 10% dos CEO’s das 250 maiores companhias terem experiência anterior em marketing, então estamos perante uma realidade que oculta a visão do cliente nas organizações.

Ora, o avanço tecnológico obriga o marketing a novas responsabilidades de origem estratégica, desde logo pela necessidade explorar os benefícios de uma segmentação granular, como forma de potenciar a captação de clientes e fidelizar os atuais pela excelência da experiência de compra.

E no que respeita ao impacto analítico do marketing, nomeadamente quando se discute o orçamento (onde se corta e investe), também é forçoso que toda esta reflexão incorpore a forma como o mercado percebe a marca. Isso significa que obrigatoriamente os indicadores de performance terão de ser alterados em função desta realidade.

Neste particular, não deixa de ser curioso e meritório que algumas empresas portuguesas tenham elegido o NPS (Net Promoter Score), que não é mais do que um indicador de satisfação e recomendação da marca como uma das principais métricas para afetar benefícios aos vários departamentos. Esta prática saudável não é mais do que trazer a visão do cliente para os resultados do desempenho das equipas.

Sabemos que, com clientes mais independentes, exigentes e informados, um dos principais fatores críticos sucesso na criação de valor advém da redução do atrito da experiência de compra. Assim sendo, não há como não incorporar a visão do cliente na estratégia de qualquer empresa, porque é disso que depende o seu futuro. Infelizmente, são múltiplos os exemplos de insucesso pela ausência deste princípio, seja em pequenas organizações ou multinacionais.

O marketing operacional mudou radicalmente nos últimos 10 anos por força do avanço tecnológico, obrigando ao ajustamento de novas soluções e produtos, com novos canais de compra e nova comunicação. E uma coisa é certa: a mudança e adaptação é constante. O que deve permanecer inalterável é o foco estratégico do marketing. Porque há objetivos a atingir, concorrentes para monitorizar, mercados por explorar ou fidelizar e equipas para liderar.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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