Opinião
O mercado dos probióticos: crescimento, regulação e desafios

O mercado dos probióticos tem vindo a crescer a um ritmo acelerado, impulsionado pelo avanço do conhecimento sobre a Microbiota e o seu impacto na saúde humana.
A perceção da sua importância tem vindo a expandir-se para além do intestino, destacando-se também a relevância da microbiota vaginal. Em alguns países, a toma diária de probióticos para fins preventivos já é um hábito consolidado, enquanto em Portugal esta prática ainda está a ganhar terreno. Contudo, a diversidade de probióticos disponíveis no mercado tem vindo a aumentar, refletindo uma resposta às diferentes necessidades da população.
Se a relação entre intestino e saúde já era intuída desde a Antiguidade – com Hipócrates a afirmar que todas as doenças começam no intestino –, foi no início do século XX que Élie Metchnikoff identificou os benefícios do consumo de microrganismos vivos. Henri Boulard, posteriormente, isolou e registou o primeiro probiótico do mundo, Saccharomyces boulardii CNCM I-745, uma descoberta que esteve na base da criação da Biocodex em 1953. A evolução da ciência, com técnicas de sequenciação de alto rendimento e bioinformática, tem permitido compreender melhor a complexidade da Microbiota e consolidar o seu papel fundamental na saúde.
O mercado português tem acompanhado esta evolução científica, com um crescimento significativo nos últimos anos. Em 2024, foram vendidas mais de 2 milhões de unidades de probióticos em farmácias portuguesas, refletindo um crescimento anual superior a 10%. Inicialmente utilizados para reequilibrar a flora intestinal após tratamentos com antibióticos, os probióticos são hoje reconhecidos pelos seus múltiplos efeitos benéficos, que abrangem desde a saúde digestiva até à imunidade, saúde mental e prevenção de doenças metabólicas. Contudo, apesar deste crescimento e entusiasmo, o setor enfrenta desafios significativos que podem condicionar o seu desenvolvimento sustentável.
Legislar para credibilizar o setor
A regulação e a legislação são questões essenciais. As espécies probióticas podem ser encontradas em alimentos, suplementos alimentares e medicamentos, mas a regulamentação não é uniforme. No caso dos medicamentos, a eficácia tem de ser comprovada por estudos clínicos e a viabilidade dos microrganismos deve ser garantida até ao fim do prazo de validade. Já nos suplementos alimentares, essa exigência não se aplica de forma tão rigorosa, podendo existir produtos sem eficácia comprovada, o que pode comprometer a confiança dos consumidores e a credibilidade do setor.
Outro desafio crítico passa pela educação e consciencialização dos consumidores. Apesar do crescente interesse pelos probióticos, ainda persiste muita desinformação. Nem todas as estirpes têm os mesmos efeitos, e a ideia de que uma maior quantidade de estirpes ou microrganismos resulta necessariamente em maior eficácia é um mito. As estirpes competem pelo mesmo substrato, o que pode comprometer o efeito desejado. Assim, é essencial desmistificar conceitos errados e promover um conhecimento mais profundo sobre a escolha e utilização adequada dos probióticos.
O mercado dos probióticos encontra-se num momento emocionante de crescimento e inovação. Como profissional do setor, acredito que estamos apenas a começar a explorar todo o potencial da microbiota e do seu impacto na saúde humana. No entanto, para garantir um crescimento sustentável, é fundamental investir em investigação, regulamentação clara e educação do consumidor.