Entrevista/ “O ecossistema empresarial açoriano tem tido a capacidade de se reinventar”
“Acredito que estão reunidas as condições para que o TERINOV venha, efetivamente, a assumir-se como um agente determinante da inovação empresarial não apenas nos Açores, mas no país”. A declaração é de Duarte Pimentel, diretor-executivo do TERINOV, que em entrevista ao Link To Leaders analisa os sete meses de atividade deste Parque de Ciência e Tecnologia da ilha Terceira e dos projetos em agenda.
O Parque de Ciência e Tecnologia da ilha Terceira ainda não completou um ano de atividade, mas já acolhe 27 projetos, responsáveis por mais de 90 postos de trabalho, e em áreas tão diversas como agroindústria, indústrias culturais e criativas ou tecnologias de informação e comunicação. Este é mais um exemplo de como o ecossistema empresarial açoriano tem tido a capacidade de se reinventar e adaptar às necessidades de um mercado global, como explicou ao Link To Leaders o diretor executivo do Parque. Duarte Pimentel acredita que estão reunidas as condições para que o TERINOV venha a assumir-se como um agente determinante da inovação empresarial Açores e do país.
Como surgiu o Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira, o TERINOV?
O TERINOV resulta de uma forte aposta do Governo dos Açores numa estratégia de criação de infraestruturas que promovam a interface entre a academia e o tecido empresarial, potenciando a inovação. Posicionando-se como uma infraestrutura hospedeira de atividades inovadoras, de base tecnológica, assente na lógica de transferência de conhecimento e tecnologia, oferecendo um ecossistema único para iniciativas empreendedoras de alto valor acrescentado e que pretende potenciar a competitividade empresarial no contexto de novas condições dos mercados, disponibilizando serviços especializados de apoio às empresas e facilitando a sua integração em redes globais de conhecimento, inovação e empreendedorismo.
“Acredito que a dinâmica e efervescência da atual vaga de empreendedorismo de base tecnológica que se vive no Açores (…) é algo de muito atrativo para os projetos e start-ups que nos procuram”.
Porquê a ilha Terceira? O que tem esta ilha de atrativo para as start-ups, para a inovação, para os investidores…?
Acredito que a dinâmica e efervescência da atual vaga de empreendedorismo de base tecnológica que se vive no Açores, especialmente na Terceira, é algo de muito atrativo para os projetos e start-ups que nos procuram. A facilidade e agilidade com que se criam sinergias entre diferentes promotores e projetos reflete esta noção. Caso disso, é a recente parceria entre a Redcatpig e a Camel101, duas start-ups da indústria dos videojogos que estão incubadas no TERINOV. Devo ainda referir que para a promoção destas dinâmicas muito tem contribuído o alinhamento estratégico regional para que a Terceira se assuma com um Digital Hub, prova disso mesmo é a iniciativa Terceira Tech Island.
Para além disto, a panóplia de mecanismos financeiros disponibilizados pelo Governo dos Açores, em particular os geridos pela SDEA, permitem que a instalação de um projeto ou de uma start-up nos Açores beneficie de um conjunto de apoios que são ímpares no país ou na Europa, o que se efetiva numa vantagem competitiva a considerar.
Como lidam com a vertente, muitas vezes conotada negativamente, da insularidade?
Desde sempre que encaramos o acesso e integração em redes nacionais e internacionais como algo essencial à concretização da nossa missão. Felizmente este esforço tem dado um conjunto de resultados muito positivos, consubstanciando-se na assinatura de diversos convénios, memorandos de entendimento e protocolos de colaboração – nomeadamente, com o NONAGON, a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, a Universidade dos Açores, o William James Center for Research, o ISPA -Instituto Universitário / Universidade de Aveiro, a Portugal Ventures, a UMass@Lowell Portugal (signatários Air Centre, CeiiA, FLAD, FRCT, INESC TEC, INL, Dtx, Saab Family Foundation, Universidade dos Açores, Universidade do Minho e University of Massachusetts Lowell) – e promovido a integração em redes como o SERN-Startup European Regions Network, Portugal Site Selection – aicep Global Parques, Rede de Incubadoras de Empresas dos Açores, Rede Nacional de Incubadoras, e TECParques entre outras, que mitigam alguns potenciais constrangimentos da nossa posição ultraperiférica.
“(…) A nossa incubadora de empresas acolhe 27 projetos, responsáveis por mais de 90 postos de trabalho (…)”
Quantos são neste momento os projetos incubados no Parque? Maioritariamente nacionais ou internacionais?
Neste momento, sete meses após a entrada da primeira empresa, a nossa incubadora de empresas acolhe 27 projetos, responsáveis por mais de 90 postos de trabalho, alinhados com as principais áreas estratégicas e de atuação do Parque. Isto é a Agroindústria, as Indústrias Culturais e Criativas e as Tecnologias de Informação e Comunicação. É de ressalvar, no entanto, que as nossas áreas de atuação não se esgotam aqui, estendendo-se também a áreas como a das energias renováveis ou da economia circular, onde temos também projetos instalados. Para já, a maioria dos projetos são nacionais, em particular regionais, o que muito nos orgulha, visto que a totalidade dos projetos instalados assume um posicionamento no mercado global exportando os seus serviços e produtos. No entanto, contamos já com três projetos de promotores estrangeiros.
Quais os projetos incubados que têm contribuído mais para dinamizar o nome TERINOV?
Temos a sorte de acolher e apoiar projetos diversificados o que nos traz uma dinâmica bastante interessante. Claro está que existem projetos que dado o seu grau de maturidade alcançam uma maior projeção como é o caso da Redcatpig, da Nine Media Company, da Ideastation ou do Air Centre.
Existem, no entanto, outros projetos muitíssimo dinâmicos que vão desde a utilização da dança para promoção de um estilo de vida ativo e saudável, passando pela produção agrícola em substratos alternativos e otimização de processos de cultivo, a aplicação de metodologias e ferramentas de gamificação de base tecnológica na consciencialização da sustentabilidade ambiental e da conservação dos oceanos, no desenvolvimento de plataformas de open knowledge acessível a toda a sociedade, no design de interiores com fibras sustentáveis assente nos princípios da economia circular, até ao desenvolvimento de sistemas integrados de IoT e Remote Sensing para a melhoria de vida das populações em zonas urbanas
“(..) somos muito proativos na procura e captação de projetos com o potencial e a capacidade para aproveitarem o que o ecossistema açoriano de inovação tem para oferecer”.
Em termos de captação de projetos/start-ups, para onde estão viradas as vossas atenções? Mercado nacional ou mundial?
Adotamos uma abordagem de “new kid on the block” pelo que somos muito proativos na procura e captação de projetos com o potencial e a capacidade para aproveitarem o que o ecossistema açoriano de inovação tem para oferecer. A nossa atenção está virada para o mercado global, é esse o nosso “block” e é também aí onde os nossos instalados se posicionam.
De que forma a vossa integração na rede SERN (Startup Europe Regions Network) contribui para que ganhem escala internacional?
A integração na SERN tem-nos permitido consolidar o nosso posicionamento enquanto player do panorama europeu, através do acesso privilegiado a um conjunto de parceiros estratégicos e acima de tudo da promoção junto de altas instâncias da Comissão Europeia.
“O TERINOV ainda está numa fase inicial do seu percurso, pelo que muito do nosso potencial ainda está por explorar (…)
Um dos vossos objetivos passa pela promoção do aumento da “competitividade das empresas locais e regionais, através do desenvolvimento e difusão de uma cultura de inovação e de criatividade”. Como está o cumprimento dessa missão?
O TERINOV ainda está numa fase inicial do seu percurso, pelo que muito do nosso potencial ainda está por explorar, em particular no que diz respeito à dimensão de I&D do Parque. No entanto, penso que a capacidade em atrair e acolher um ecossistema de 27 empresas e três entidades não empresariais (entre as quais estão unidades de investigação e o Air Centre) vem corroborar que os primeiros passos no cumprimento da nossa missão estão dados.
“(..) este ecossistema ressente-se, ainda, da falta de investimento externo, investimento não apenas financeiro, mas também no capital humano”.
O que gostariam efetivamente de mudar no ecossistema empresarial açoriano?
Penso que o ecossistema empresarial açoriano tem tido, principalmente nos últimos anos, a capacidade de se reinventar e adaptar às necessidades de um mercado global. Para isso muito tem contribuído o facto da grande maioria de uma nova geração de empreendedores e empresários açorianos, ter formação superior e experiência de trabalho no estrangeiro o que lhes dá “Mundo” e capacidade de encarar tanto as oportunidades como desafios de uma forma mais capaz do que gerações anteriores. No entanto, este ecossistema ressente-se, ainda, da falta de investimento externo, investimento não apenas financeiro, mas também no capital humano.
Com que tipo de infraestruturas podem conta as start-ups que se instalem no vosso parque de ciência, tecnológico e empresarial? O que pode uma start-up do continente, por exemplo, esperar do TERINOV?
Acreditamos que as principais vantagens da instalação no TERINOV prendem-se com o acesso privilegiado a um conjunto de ativos diferenciadores, como é o caso de investidores e mecanismos de financiamento regionais, unidades de investigação e investigadores, ou mentores especializados. Ao que acresce a integração num ecossistema empresarial de base tecnológica altamente dinâmico, onde se respira inovação, e onde, de forma natural e espontânea, surgem sinergias que potenciam o desenvolvimento de novas ideias, serviços e produtos com elevado valor acrescentado.
A dinâmica deste ecossistema é, em muito, alimentada por um conjunto de protocolos de colaboração que o TERINOV estabeleceu ao longo de 2019 com redes e parceiros estratégicos do panorama nacional e internacional de ciência, tecnologia e inovação mais especificamente na Europa e Estados Unidos. Em particular para a dimensão empresarial do Parque, o acesso e integração num programa de incubação ajustado à medida das necessidades de cada um dos nossos instalados, onde estão assegurados, entre outros, o apoio na preparação e delineamento do plano de negócios, na preparação de candidaturas a financiamento, gestão operacional, assessoria de imprensa, comunicação e marketing é outra das vantagens de estar instalado no TERINOV.
Para além disso as condições e valências da própria infraestrutura física, como é o caso do Laboratório de Vídeo e Imagem e do FabLab (Laboratório de Prototipagem) permitem-nos oferecer aos nossos instalados equipamentos e serviços partilhados que se traduzem numa redução significativa das necessidades de investimento inicial de cada empresa.
Quais os setores de atividade que mais vos procuram?
Os programas de cowork, pré-incubação, incubação e desenvolvimento empresarial que disponibilizamos são abrangentes. No entanto, como referido anteriormente, espera-se um alinhamento entre os projetos acolhidos e as áreas de atuação estratégicas do TERINOV, ou seja, a Agroindústria, as Indústrias Culturais e Criativas e as Tecnologias de Informação e Comunicação.
Qual a ligação do TERINOV com a Universidade dos Açores? Que que forma planeiam potenciar as valências de um e outr em prol da inovação, da investigação e desenvolvimento tecnológico?
A ligação com a Universidade dos Açores surge naturalmente, uma vez que é a única instituição académica de ensino superior na região, assumindo-se como o polo de conhecimento por excelência nos Açores. Muito em breve, ainda durante o primeiro trimestre deste ano, será assinado um convénio que formaliza esta parceira que tem vindo a acontecer de forma espontânea e sinérgica desde o início da operação do TERINOV.
A Universidade dos Açores é um dos principais parceiros do TERINOV na procura da efetivação de processos de transferência de conhecimento e tecnologia na região. Neste momento, o TERINOV e a Universidade dos Açores já participam conjuntamente na submissão de candidaturas a projetos de I&D de âmbito europeu.
Tem sido difícil assumir o papel de “agente determinante da inovação empresarial nos Açores através da valorização dos recursos humanos, da transferência de tecnologia e conhecimento e da formação”, como preconizam na vossa apresentação institucional?
Temos uma filosofia de continuidade, pelo que a procura pela melhor forma de assumir esse papel resulta das nossas aprendizagens, em particular através do feedback dos nossos instalados e parceiros, e da implementação de processos de melhoria continua.
Ainda assim, fazendo uma retrospetiva destes primeiros sete meses de operação, e do número e qualidade dos projetos apoiados, acredito que estão reunidas as condições para que o TERINOV venha, efetivamente, a assumir-se como um agente determinante da inovação empresarial não apenas nos Açores, mas no país.
“Mais do que sermos “grandes” temos a ambição de marcar uma forte posição como um centro de inovação tecnológica de excelência (…)”
Ainda vamos ouvir falar do TERINOV como um “dos grandes” centros inovação tecnológico do mundo? As vossas ambições passam por aí?
Mais do que sermos “grandes” temos a ambição de marcar uma forte posição como um centro de inovação tecnológica de excelência, e que efetivamente possamos trazer vantagens competitivas aos nossos utilizados e parceiros pois essa é a razão da nossa existência. Neste sentido, estamos totalmente empenhados em trabalhar, com a responsabilidade que nos é devida, na promoção e credibilidade deste projeto perante os diferentes stakeholders.