Entrevista/ “O ecossistema empreendedor do Porto apresenta uma vitalidade notável”

Joana Linhas, vice-presidente da Porto Tech Hub

“O Porto destaca-se como um polo atrativo para empreendedores e investidores”, assegura  a vice-presidente do Porto Tech Hub. Joana Linhas lembra que a “interação entre empresas, instituições académicas e centros de pesquisa promove a troca de conhecimentos que impulsiona o desenvolvimento tecnológico e económico na região Norte de Portugal.

A Porto Tech Hub foi criada em 2015 com o objetivo de ser uma entidade impulsionadora do Porto como centro tecnológico e de inovação de excelência, tanto a nível nacional como internacional. Nove depois, a Associação conta com uma comunidade de 40 empresas associadas, tem promovido eventos e formações, um compromisso de dinamização do ecossistema tecnológico do Norte do país que assumiu para que as empresas abracem a transformação digital e para que, globalmente, haja uma maior literacia digital. Joana Linhas, vice-presidente do Porto Tech Hub, destaca que “a convergência entre a procura por inovação, o investimento em talento e as iniciativas governamentais podem posicionar Portugal de forma competitiva no cenário global da inovação tecnológica”.

Quais os projetos da Porto Tech Hub para este ano, no sentido de dinamizar o ecossistema tecnológico do Norte do país?
Pretendemos continuar a ter um impacto positivo na criação do ambiente necessário para o crescimento das empresas e profissionais do setor na região, ao promovermos, claro, a formação de profissionais, mas também o networking e a partilha de conhecimento e o apoio às organizações a vários níveis. Ao longo dos anos temos realizado diversas iniciativas como a Porto Tech Hub Conference, um evento que tem vindo a juntar milhares de profissionais e empresas da comunidade TI do Porto e que este ano espera mais uma edição. A isto, junta-se em 2024 mais uma edição do curso SWitCH Dev, focado na formação de Software Developers e que já permitiu a entrada de mais de 300 profissionais no mundo tecnológico e, claro, a segunda edição do curso SWitCH QA, que está neste momento a receber candidaturas.

É através destas iniciativas que fortalecemos a nossa missão de continuar a expandir o ecossistema tecnológico da cidade, bem como promovemos a criação e empregabilidade de talento altamente qualificado.

Como referiu estão a preparar a 2.ª edição do SWitCH QA. Qual o foco e objetivo desta pós-graduação?
O SWitCH QA é a mais recente pós-graduação desenvolvida pela Porto Tech Hub em parceria com o Instituto Superior de Engenharia do Porto. Visa abrir portas para as pessoas interessadas em ingressar numa das carreiras mais promissoras do futuro: a de Quality Assurance Testers. O objetivo é capacitar estes profissionais com competências essenciais nesta área, proporcionando-lhes formação especializada e preparação para inovar em um setor tecnológico em constante evolução.

A procura por Quality Assurance Testers é significativa no cenário tecnológico atual, onde é fundamental assegurar a qualidade dos produtos e software tecnológicos. No entanto, muitos desses profissionais ainda carecem de formação específica e conhecimento aprofundado acerca das exigências reais do mercado. Esta lacuna é evidente em Portugal, onde a abordagem aos testes no setor tecnológico ainda depende em grande parte de análises manuais, apresentando maior propensão a erros humanos. O SWitCH QA procura melhorar este cenário, promovendo a adoção de métodos mais avançados e automatizados.

Com vista a alcançar esta meta, ao longo do curso a turma aprende as bases da programação e realiza um projeto no final em cada módulo. O programa proporciona ainda, de forma global, conhecimento acerca da área da programação e como podem os alunos fazer testes mais completos e automatizados, face aos que são realizados atualmente no mercado.

Que mais-valias pode aportar para quem frequenta o curso?
A pós-graduação oferece diversas mais-valias para os participantes do curso. Primeiramente, atende à crescente procura global por profissionais qualificados no setor de Tecnologias da Informação, especialmente no contexto atual em que Portugal se destaca como o terceiro país que mais pretende contratar neste setor no primeiro trimestre de 2024, de acordo com o Experis Tech Talent Outlook.

Ao frequentar o curso, os alunos têm a oportunidade de adquirir competências essenciais de programação e participar em disciplinas como Desenvolvimento de Software e Testes, concluindo projetos no final de cada módulo, o que proporciona uma formação abrangente na área, permitindo que os participantes se tornem Quality Assurance Testers qualificados, preparados para enfrentar os desafios de um setor em constante evolução.

Além disso, o curso não impõe restrições quanto à formação académica ou à experiência profissional anterior dos candidatos, exigindo apenas uma licenciatura completa. Esta abertura democratiza o acesso à formação, possibilitando a transição de carreira para aqueles que desejam ingressar no setor tecnológico. O formato pós-laboral do curso torna-o acessível para profissionais que já estejam a trabalhar, facilitando a requalificação de pessoas que procuram atualizar as suas competências.

Outra mais-valia significativa é a possibilidade dos alunos realizarem um estágio remunerado numa das empresas parceiras da Porto Tech Hub após a conclusão do curso. Isto oferece aos participantes uma oportunidade de aplicarem os conhecimentos adquiridos e integrarem-se no mercado de trabalho. O SWitCH QA não visa apenas preencher a lacuna de profissionais qualificados no campo de Quality Assurance Testers, mas também oferecer uma formação abrangente, acessível e prática que prepara os participantes para as oportunidades e desafios do setor tecnológico em Portugal e global.

“(…) é encorajador notar que muitas empresas de tecnologia já adotaram ferramentas e práticas digitais (…)”.

A iliteracia digital e tecnológica das empresas nacionais ainda é uma realidade?
Ainda persiste em algumas empresas nacionais, refletindo-se na sua adoção e integração limitada de ferramentas digitais. Embora a digitalização das empresas em Portugal possa estar mais avançada em certos setores, ainda se observa uma disparidade, especialmente em organizações que não pertencem ao campo tecnológico. No entanto, é encorajador notar que muitas empresas de tecnologia já adotaram ferramentas e práticas digitais, indicando uma maior consciencialização e prontidão para abraçar a transformação digital.

De acordo com o Índice de Intensidade Digital de 2022 da Comissão Europeia, 36% das empresas portuguesas com 10 ou mais funcionários apresentaram um Índice de Intensidade Digital classificado como “alto” ou “muito alto”. Embora essa seja uma proporção positiva, evidencia que uma significativa parcela ainda possui níveis “baixos” ou “muito baixos” de conhecimentos no Digital. Ao ficar na 9.ª posição do ranking da UE27 nesta métrica, Portugal demonstra um progresso, mas também se destaca a necessidade contínua de esforços para elevar a literacia digital, principalmente em empresas de menor dimensão. O desafio persiste, mas a consciencialização e os indicadores de evolução são passos significativos rumo a uma maior digitalização do tecido empresarial português.

Qual a dimensão da comunidade Porto Tech Hub?
Atualmente, a Porto Tech Hub conta com um total de 40 empresas associadas. Este marco foi conquistado no fim de 2023 com a adesão ao projeto de sete novas organizações com sede no Norte do país, fortalecendo o ecossistema empreendedor e inovador da Invicta e validando a sua posição enquanto local de excelência para empresas nacionais e internacionais se estabelecerem. Esta realização destaca o papel crucial da Porto Tech Hub como uma organização que impulsiona o crescimento e reconhecimento do panorama empreendedor. Temo-nos empenhado em criar iniciativas para aproximar as empresas tecnológicas, valorizar o talento, promover a inovação e fomentar o debate de ideias.

A expansão da Associação também impulsiona a consolidação dos laços entre as empresas dentro do ecossistema, encorajando a troca de experiências e práticas internas entre as organizações. Este aspeto é benéfico para as empresas associadas e aquelas já estabelecidas na região, enquanto oferece vantagens para organizações internacionais que planeiam entrar neste mercado. Além disso, reforça ainda a ligação entre o talento disponível e as empresas, resultando num impacto positivo na empregabilidade.

“(…) Porto destaca-se como um polo atrativo para empreendedores e investidores”.

Como está o ecossistema empreendedor do Porto?
O ecossistema empreendedor do Porto apresenta uma vitalidade notável, evidenciada pelo seu crescimento contínuo e pela presença de start-ups na região. Com mais de 600 start-ups e quase 500 rondas de investimento, o Porto destaca-se como um polo atrativo para empreendedores e investidores. O ecossistema tem trazido não apenas empreendedores locais, mas também start-ups de outros países que optam por estabelecer-se na cidade, contribuindo para a diversificação e para a dinâmica do cenário empreendedor portuense.

Em parceria com a Câmara Municipal do Porto, temos apoiado empresas emergentes a estabelecer-se na cidade, criando um ambiente propício ao crescimento das start-ups. O cenário empreendedor do Porto está, assim, ativamente a moldar a narrativa do sucesso das start-ups na região.

Qual o papel dos diferentes players (empresas, academia, centros de investigação…) na inovação tecnologia que tem nascido a Norte?
O ecossistema de inovação tecnológica envolve diversos players e o Norte de Portugal tem visto uma crescente colaboração entre empresas, instituições académicas e centros de pesquisa para impulsionar o desenvolvimento tecnológico. As empresas têm um papel central na inovação ao desenvolverem e implementarem tecnologias para melhorar produtos, serviços e processos.

Já as instituições académicas desempenham um papel vital na pesquisa avançada, além de contribuírem para a formação de profissionais qualificados, preparando a mão de obra para responder à procura da indústria tecnológica. Os centros de pesquisa, muitas vezes ligados a instituições académicas, têm a responsabilidade de conduzir pesquisas aplicadas, desenvolvimento tecnológico e facilitar a transferência de conhecimento para a indústria. Também as start-ups são frequentemente motores de inovação disruptiva ao introduzirem novas ideias e soluções no mercado. As incubadoras e aceleradoras desempenham um papel fundamental ao oferecer apoio estratégico e financeiro para o crescimento dessas start-ups.

Desta forma, a colaboração entre estes players é essencial para criar um ecossistema de inovação robusto. A interação entre empresas, instituições académicas e centros de pesquisa promove a troca de conhecimentos que impulsiona o desenvolvimento tecnológico e económico na região Norte de Portugal.

“As empresas que adotam a digitalização podem melhorar significativamente a sua eficiência operacional (…)”.

A evolução digital pode levar uma empresa ao sucesso?
A evolução digital desempenha um papel crucial no sucesso empresarial contemporâneo visto que oferece uma variedade de benefícios que impactam diretamente a eficiência, a inovação e a competitividade. As empresas que adotam a digitalização podem melhorar significativamente a sua eficiência operacional, ao reduzir custos e aumentando a produtividade. Além disso, a digitalização possibilita a inovação de produtos e serviços, proporciona uma experiência aprimorada ao cliente e facilita o acesso a mercados globais, que promove a adaptação a um ambiente de negócios dinâmico. No entanto, o sucesso não é garantido exclusivamente pela evolução digital, também a liderança eficaz, uma estratégia de negócios sólida e a capacidade de enfrentar desafios específicos do setor são fundamentais para sustentar o crescimento e a competitividade a longo prazo. Portanto, a incorporação da evolução digital deve ser parte de uma abordagem mais abrangente para alcançar metas empresariais duradouras.

Que perspetivas vê para Portugal no domínio da inovação tecnológica e da produção de talentos?
As perspetivas são bastante promissoras. Observa-se uma crescente importância atribuída à inovação, com um aumento significativo nos investimentos por parte das empresas neste setor. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) também surge como um impulsionador potencial, ao proporcionar recursos adicionais para iniciativas inovadoras. O cenário atual não se limita a esforços isolados ou a start-ups: as empresas estão também a priorizar ativamente a inovação como parte essencial da sua estratégia.

Além disso, a formação de novos talentos e o reforço de competências são elementos cruciais para sustentar esta evolução, especialmente em áreas emergentes que estão agora em crescimento. O investimento na capacitação das equipas para compreender e aplicar, por exemplo, a digitalização e a inteligência artificial generativa é fundamental. Isso permitirá que as empresas explorem de forma eficaz o potencial destas inovações nas suas áreas de negócio, antecipando e adaptando-se às mudanças que estas tecnologias podem trazer para os seus setores específicos. A convergência entre a procura por inovação, o investimento em talento e as iniciativas governamentais podem posicionar Portugal de forma competitiva no cenário global da inovação tecnológica.

Desde a sua criação quais as principais “vitórias” que a Porto Tech Hub se orgulha de ter alcançado?
Até ao momento, na Porto Tech Hub temos conquistado várias realizações notáveis, das quais se destaca o facto de a Porto Tech Hub Conference de 2023 ter esgotado com mais 1200 profissionais presentes, que é uma realização significativa. Este marco demostra o reconhecimento e a procura crescente por eventos que promovem a partilha de conhecimentos e experiências no âmbito tecnológico. O sucesso da conferência não apenas solidifica a posição da Porto Tech Hub como uma referência na comunidade tecnológica, mas também indica a relevância e o interesse contínuo por iniciativas promovidas pela organização.

Além disso, a formação bem-sucedida de mais de 300 profissionais, através do programa SWitCH Dev, é também uma conquista notável. Este programa, voltado para a formação de software developers, demonstra o nosso compromisso bem-sucedido em preparar profissionais qualificados para o mercado tecnológico. Esta conquista reflete não apenas a eficácia do programa, mas também o impacto positivo da entrada desses profissionais no setor de tecnologia.

Estas conquistas reforçam a importância e o impacto positivo da Porto Tech Hub na formação de profissionais de tecnologia e na promoção de eventos que contribuem para o desenvolvimento e partilha de conhecimento no setor.

“Uma prioridade fundamental é continuar a impulsionar o crescimento das empresas tecnológicas locais, promovendo uma comunidade vibrante e inovadora”.

Quais as metas a que a Porto Tech Hub quer alcançar em 2024?
Estabelecemos metas ambiciosas para 2024, que visam fortalecer ainda mais o ecossistema tecnológico na região. Uma prioridade fundamental é continuar a impulsionar o crescimento das empresas tecnológicas locais, promovendo uma comunidade vibrante e inovadora. Para atingir isto, planeamos aumentar a oferta de cursos de qualificação e reconversão profissional, incorporando novas áreas de formação que estejam alinhadas com as exigências do setor tecnológico.

Além disso, temos como objetivo atrair mais empresas de áreas de negócio diversificadas para colaborar e enriquecer a comunidade. A aposta na colaboração entre associadas procura criar sinergias valiosas ao promover a troca de conhecimento e experiência entre diferentes setores. Também planeamos manter e expandir as parcerias dentro do ecossistema, de forma a potenciar tanto o talento local quanto as empresas tecnológicas através de colaborações estratégicas. Estas iniciativas refletem o nosso compromisso para promover o crescimento sustentável, a inovação e o desenvolvimento contínuo do setor tecnológico na região do Porto.

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