Opinião

O desenvolvimento sustentável. Como operacionalizar?

Ricardo Lopes Ferro, professor associado do ISG*

Porque é que se fala tanto de sustentabilidade? Como é que a responsabilidade social das empresas permite proporcionar a sustentabilidade aos respetivos negócios? Como operacionalizá-lo?

O Desenvolvimento Sustentável (DS) é um imperativo, torna-se, pois, necessário saber a forma como as organizações podem confiar nas estratégias que adoptam face ao DS e evidenciá-lo às suas partes interessadas. Estas estratégias terão que estar alinhadas com a evolução do comportamento do consumidor, e o seu maior consumo responsável, pois as empresas vivem através do consumo dos seus produtos e serviços e terá que haver um alinhamento entre a estratégia de DS da empresa e o comportamento dos seus clientes e consumidores para que essa estratégia seja efetiva e gere o desejado DS.

É importante saber-se como chegamos a este conceito que parece ser (e deveria ser) um objetivo de todos.

Em 1972 é escrito um livro com o título “Os Limites do Crescimento” que considerando os recursos naturais limitados, modelou as consequências do crescimento rápido da população mundial, comissionado pelo Clube de Roma (1968).

Só em 1987 foi dado mais um passo importante com o Relatório Brundtland intitulado “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future). É neste documento que aparece pela primeira vez a definição de desenvolvimento sustentável:  “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”

Esta definição mantém-se nos nossos dias e com ainda mais acuidade, do que quando foi feita.

Após estes dois marcos fundamentais, foram desenvolvidas várias iniciativas e um conjunto de documentos oficiais, pela ONU, Comissão Europeia, dos quais destacaria a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), que decorreu no Rio de Janeiro, em 1992, onde foi publicado o protocolo de Quioto e a criação da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD), ocorrida em Joanesburgo, em 2002.

Estas iniciativas, a par do aumento dos custos das matérias primas, o aumento dos custos energéticos e a necessidade de gerir os resíduos, levaram a uma nova forma de gerir as empresas com um enfoque muito significativo para a eficiência na gestão de todos os recursos e dos seus impactes.

O novo comportamento das empresas foi acompanhado igualmente pela maior sensibilização dos consumidores para os temas ambientais, preservação da cultura e preservação dos ecossistemas, reforçado nestes últimos anos pela importância do emprego, bem como a importância de se ter uma estrutura acionista forte para melhor resistir aos ciclos adversos.

De uma forma resumida, pode-se dizer que passou a haver um alinhamento de interesses, entre os donos das empresas, empregados, fornecedores e clientes. Todos pretendem desenvolver a sua relação com a empresa e manter esta relação tão longa quanto possível, isto é torná-la sustentável a longo prazo, e também se concluiu que a melhor forma de o fazer é não descurando nenhuma das outras partes interessadas e as suas legítimas expetativas. A esta nova forma de gerir chamou-se “Gestão Socialmente Responsável”.

A melhor forma de garantir que é desenvolvida uma “Gestão Socialmente Responsável” é através da implementação e verificação externa do sistema/modelo implementado, como se fez no passado para as áreas da Qualidade, do Ambiente e Higiene e Segurança. Com a implementação e verificação externa independente, as empresas evidenciaram a implementação e práticas que foram valorizadas pelo mercado e pelos seus clientes. Hoje as exigências são maiores e este salto é imperativo para quem quer estar nos mercados mais exigentes, normalmente associados a um maior valor acrescentado dos produtos e serviços oferecidos.

As normas SA 8000, NP 4469:2019, a ISO 26000 ou os modelos como o Global Compact, os ODS, entre outros, são excelentes instrumentos para formalizar as práticas e torná-las consistentes com a estratégia de negócio e obter o devido reconhecimento junto do(s) mercado(s).

O ensino destes instrumentos em Instituições de Ensino Superior é determinante para a adequada formação dos gestores e quadros técnicos, bem como, naturalmente, para a melhor aplicação destes modelos nas organizações.

* Professor associado do ISG – Instituto Superior de Gestão
Engenheiro Físico e Ph.D em Economia

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