Opinião
“O código de barras continua a ser uma ferramenta essencial para as cadeias de valor e para os consumidores”
“O código de barras, 51 anos após a primeira leitura, continua a ser fulcral para a eficiência, rastreabilidade e sustentabilidade das cadeias de valor”, afirma João de Castro Guimarães, diretor executivo da GS1 Portugal.
Responsável pela introdução do código de barras em Portugal, em 1985, a GS1 Portugal é uma organização fundada por produtores e distribuidores que mantém foco nas necessidades do mercado e no que a tecnologia pode trazer de vantajoso para os diferentes players. Por isso, João de Castro Guimarães reconhece que a codificação bidimensional, com recurso a inovação e digitalização, oferece novas perspectivas e que o surgimento do QR Codes e do GS1 DataMatrix representam um elevado potencial de agregação de informação.
Em entrevista ao Link to Leaders, o diretor executivo GS1 da Portugal lembra ainda que “a transição para uma adoção mais ampla deste tipo de codificação, depende da capacidade dos operadores económicos para adaptarem os seus sistemas e soluções à leitura destes códigos”.
50 anos depois do seu aparecimento, o código de barras continua a ser uma ferramenta importante para as cadeias de distribuição e para os consumidores? O que mudou?
O código de barras, 51 anos após a primeira leitura, continua a ser fulcral para a eficiência, rastreabilidade e sustentabilidade das cadeias de valor. A utilização dos códigos de barras permite a leitura rápida e precisa de dados, uma mais eficiente gestão de stocks, a redução de custos operacionais, a transparência e monitorização das cadeias de valor, a eficiência dos processos. A monitorização e controlo em tempo real das cadeias de valor permite a diminuição de erro e proporciona uma melhor experiência ao cliente, ao evitar erros na identificação de produtos e uma maior velocidade e eficiência nas transações. O resultado cumulativo de todas estas variáveis é o aumento da produtividade, da competitividade e o desempenho mais sustentável das empresas.
Desde a generalização da utilização do código de barras unidimensional, atualmente presente a nível global em múltiplas categorias, as cadeias de valor alongaram-se e complexificaram-se. Passou a ser necessário agregar um volume mais elevado de dados mais complexos. O desenvolvimento tecnológico permitiu-nos acompanhar esta necessidade e dar-lhe resposta com a codificação bidimensional que oferece soluções que têm garantido a disponibilização de mais e melhor informação sobre os produtos. Perspetivamos com entusiasmo as oportunidades que a codificação bidimensional oferece no futuro.
“(…) O surgimento dos códigos 2D, de que são exemplos os QR Codes e o GS1 DataMatrix, representam um elevado potencial de agregação de informação.
Como a GS1 Portugal perspetiva a transição para a codificação bidimensional, os chamados QR Codes com standardsGS1, nos vários setores de atividade?
Perspetivamos a transição para a codificação bidimensional com expetativa e empenho. No que depender da GS1 Portugal, seremos, tanto quanto possível, um facilitador dessa transição, confiantes nos benefícios inerentes, relacionados com a agregação de dados.
Mais de 50 anos depois, com a evolução tecnológica e a crescente exigência dos consumidores, nomeadamente a nível de sustentabilidade, o código de barras continua a ser uma ferramenta essencial para as cadeias de valor e para os consumidores. No entanto, a codificação bidimensional, com recurso a inovação e digitalização, oferece novas perspetivas. O surgimento dos códigos 2D, de que são exemplos os QR Codes e o GS1 DataMatrix, representam um elevado potencial de agregação de informação. Já em ampla utilização no setor da saúde, estão a ser realizados testes no setor do retalho, e apresentam um grande potencial para outros setores.
A transição para uma adoção mais ampla deste tipo de codificação, depende da capacidade dos operadores económicos para adaptarem os seus sistemas e soluções à leitura destes códigos. Apesar do elevadíssimo potencial de agregação de informação, nas cadeias de valor, este potencial só se torna tangível se os sistemas forem interoperáveis e a informação mutuamente acessível a todos os operadores ao longo das cadeias. Esse é um processo que carece de investimento significativo e de alinhamento entre operadores, mas que, não obstante os desafios, está em curso, já com resultados assinaláveis.
Como tem sido a adesão dos fabricantes e dos retalhistas portugueses a esta nova realidade?
Temos verificado por parte dos fabricantes e retalhistas portugueses e por parte dos fabricantes e retalhistas internacionais a operar no mercado nacional um grande interesse neste processo, com progressos registados no sentido da adesão.
A nível global, a propósito do 50.º aniversário da primeira leitura do código de barras, assinalado em junho de 2024, 22 empresas de retalho e bens de consumo de âmbito internacional declararam conjuntamente o seu apoio à transição para codificação bidimensional. Esta iniciativa é suportada por um programa mundial promovido pela GS1, de que a GS1 Portugal faz parte, no sentido de disponibilizar ao tecido empresarial todas as ferramentas necessárias a essa transição.
Em Portugal, o Programa de Parceiros Tecnológicos, recentemente lançado, é também sinal do nosso compromisso com o apoio da comunidade empresarial portuguesa nessa transição para a codificação bidimensional.
Já há casos de sucesso da sua utilização no mundo?
O caso emblemático de sucesso é o setor da saúde, a nível mundial. A quantidade de informação a agregar num espaço exíguo de embalagem, de blister ou mesmo no material de um dispositivo médico; as condições rigorosas de higiene a que as superfícies em que a codificação é aposta são sujeitas; as limitações à impressão, em termos de substâncias e processos suscetíveis de utilização fazem da codificação bidimensional um requisito de rastreabilidade, segurança e eficiência. Os benefícios em segurança do doente e eficiência dos processos estão muito bem reportados e conduziram à elaboração de testes piloto no setor do retalho.
“(…) a codificação bidimensional é ajustável a espaços exíguos e características de impressão diferenciadas (…)”.
Quais as grandes diferenças entre este tipo de QR Codes e os códigos de barras tradicionais?
A diferença mais relevante é a quantidade e complexidade de informação suscetível de ser agregada que é, num código bidimensional, exponencialmente superior ao que a codificação unidimensional permite. Para além disso, a codificação bidimensional é ajustável a espaços exíguos e características de impressão diferenciadas (impressão não gráfica, por exemplo, por decalque) sem comprometer o volume e complexidade da informação que agrega.
O que será preciso fazer para que a adoção dos QR Codes com as normas GS1 ocorra até ao final de 2027?
Para uma transição bem sucedida de codificação bidimensional com normas GS1 será necessária uma transição tecnológica acelerada das cadeias de valor, com recurso a soluções e sistemas que permitam a leitura interoperável deste tipo de codificação.
Quais os desafios que se colocam às empresas que acelerarem a transição para a codificação bidimensional?
Para além do investimento significativo, há desafios processuais muito relevantes que se aplicam, não apenas a um operador, mas a toda a sua cadeia de valor. Se considerarmos a diferente tipologia de parceiros de negócio que cada cadeia de valor agrega, bem se percebe que é, necessariamente, um processo de transição sensível, sob pena de causar disrupção das cadeias de valor, com impacto económico e de abastecimento de mercado muito relevantes.
Qual o papel da GS1 Portugal nesta transição? Que iniciativas têm previstas?
A GS1 Portugal é a entidade facilitadora de todo esse processo. Para além de garantirmos a emissão da codificação, disponibilizamos todo o apoio necessário à comunidade empresarial, no sentido da transição ou adoção desta codificação. Dispomos de equipas especializadas, a nossa equipa de apoio ao associado, e de um programa de Parceiros Tecnológicos que oferece uma plataforma de opções de ativação das soluções tecnológicas necessárias à efetiva adoção da codificação bidimensional que emitimos. Além disso, em grupos de trabalho internos e provas de conceito temos analisado e testado algumas das soluções adotadas pelos nossos associados e parceiros, com recurso a codificação bidimensional.
Quantos associados contam atualmente a GS1?
Atualmente, contamos com perto de 9500 associados. Segundo dados publicados no nosso Relatório de Atividades de 2023, 39% eram fabricantes, 27% eram grossistas, 12% eram fornecedores e produtores de matérias-primas. Setorialmente, o setor dos bens de consumo e, neste, as categorias de alimentação e bebidas, eram os melhor representados, correspondendo a 37% da nossa comunidade de associados.
“(…) consideramos muito vantajosa a transição do setor do retalho para codificação bidimensional”.
Há algum setor de atividade que considere que teria uma vantagem particularmente interessante em aderir à transição para a codificação bidimensional?
Pelo conhecimento aprofundado que temos do setor, mas também pelas suas especificidades, em volume e rapidez de transações, consideramos muito vantajosa a transição do setor do retalho para codificação bidimensional. No entanto, e para além disso, acompanhamos atentamente todos os desenvolvimentos inerentes ao Passaporte Digital de Produto e aos setores mais diretamente impactados.
A convite do Instituto Português da Qualidade, integramos a Comissão Técnica do Passaporte Digital do Produto, que representa 17 entidades nacionais junto do Comité Europeu de Normalização. Neste contexto, a GS1 Portugal foi convidada a exercer a presidência e secretariado da Comissão. Acompanhamos com muito interesse as preocupações que o Passaporte Digital de Produto suscita nos setores representados e estamos certos de que a codificação bidimensional consubstancia resposta para algumas dessas preocupações.
De que forma as novas tecnologias como a IA está a revolucionar o setor do retalho em Portugal?
Tecnologias como a IA, a robótica, machine learning estão a revolucionar o setor do retalho sobretudo em termos de eficiência operacional, permitindo a agregação de dados e a gestão dessa informação com impacto na otimização dos recursos disponíveis.