Entrevista/ “No meio desta terrível pandemia podemos observar um avanço tecnológico enorme”

Paulo Leite Barros, CEO da Divisioncare

A crise pandémica pode ser uma oportunidade, refere o CEO da Divisioncare, uma empresa especializada na comercialização de dispositivos médicos que prevê fechar 2020 com uma faturação acima dos 10 milhões de euros. Em entrevista ao Link To Leaders, Paulo Leite Barros analisa o setor em que atua, a evolução tecnológica e o impacto da saúde na economia e na sociedade.

Criada há oito anos, a Divisioncare é uma empresa portuguesa que atua, a nível nacional, na área dos dispositivos e equipamentos médicos. Trabalha com os setores público e privado e atualmente confirma um portefólio de mais de 900 clientes ativos, lista que pretende alargar substancialmente, como referiu ao Link To Leaders o CEO da empresa, Paulo Leite Barros.

Para este profissional, o período de pandemia tem sido um desafio permanente a nível empresarial. Congratula-se com as inovações que têm surgido no mercado da saúde, assim com o facto das start-ups terem vindo acrescentar novas ideias à experiência natural das empresas mais antigas e poderem ajudar a melhorar alguns setores da saúde que estão “adormecidos”. Sem esquecer a competitividade que trazem ao mercado.

Como surgiu projeto Divisioncare? Pela mão de quem?
A Divisioncare nasce numa altura em que me encontrava em fase de transição entre empregos (informação médica) e sentir a necessidade de fazer algo mais com toda a experiência adquirida em 10 anos de indústria farmacêutica. No início, o projeto resumia-se a promoção e venda de instrumental cirúrgico para cirurgia laparoscópica, mas rapidamente foi evoluindo para um portefólio adaptado a área hospitalar e clínica.

Em oito anos de atividade da Divisioncare quais os momentos-chave da vida da empresa?
Sem dúvida dois momentos: quando senti a necessidade de contratar, pois aí é o reflexo evidente do crescimento; e quando chegamos aos 500 clientes com o “Livro de reclamações” intacto, sinónimo de um excelente trabalho antes, durante e pós-venda.

A crise pandémica foi um entrave para os vossos objetivos de crescimento ou, pelo contrário, uma oportunidade?
Sem dúvida uma oportunidade. Estamos a conseguir satisfazer maioritariamente todos os clientes com as exigências habituais e ainda conseguimos ganhar novos clientes. A Divisioncare, aliás como todos a nível mundial, espera que este vírus rapidamente tenha uma solução, mas enquanto durar, estaremos fortes para servir o nosso país, nomeadamente na área da saúde, com máximo profissionalismo.

Qual a performance financeira prevista para este ano?
Este ano esperamos fechar o ano com uma faturação acima dos 10 milhões de euros, e já estamos a preparar os próximos anos, de uma forma segura, para atingirmos em breve os 20 milhões.

No conjunto de dispositivos médicos que fornecem qual a vossa área prioritária?
Priorizamos a área hospitalar (pública e privada) e área de diagnóstico uma vez que temos um vasto portefólio de produtos que nos permite ser de forma confortável para estes clientes, praticamente o único parceiro de negócio nas áreas de descartável & consumíveis clínicos, soluções de desinfeção & esterilização, compressas, pensos & adesivos.

Qual a mais-valia dos produtos que comercializam para os clientes em termos de resultados clínicos e económicos?
Temos feito um esforço enorme para cada vez mais termos produtos inovadores, com marca própria e que acrescentem uma mais-valia ao dia a dia dos profissionais de saúde. Acreditamos que ainda podemos fazer muito mais com ajuda de todos, mas no atual momento temos, como referi no ponto anterior, um portefólio que permite ao cliente, praticamente com uma nota de encomenda, ter tudo o que necessita para a sua prática clínica, a preços extremamente competitivos e com muita qualidade.

A Divisioncare apresentou um produto que define como inovador no controle de infeções cruzadas em ambiente hospitalar. Em que consiste exatamente?
É como muito orgulho que apresentamos este produto como uma inovação, novidade, e uma ajuda enorme no controle das infeções hospitalares, que representam números tão assustadores como aqueles que nos apresentam em estudos recentes, onde nos dizem que as mortes associadas a infeções durante os internamentos são 10 vezes superiores aos óbitos por acidentes de viação.

Assim, e com o objetivo claro de ajudar os profissionais de saúde a vencer esta batalha e a reduzir este números assustadores, lançamos as primeiras cortinas antimicrobianas, com uma percentagem de prata QB para fazer o controle microbiano ao ponto de eliminar a larga maioria das bactérias presentes em ambiente hospitalar. E melhor de tudo é que o faz até seis meses após a sua colocação. São também totalmente descartáveis o que reduz significativamente os gastos dos hospitais versus as tradicionais cortinas, reduzindo também os gastos com lavagens e manutenção/desinfeção.

Este projeto esteve um ano em estudo, e está há um ano e meio no ativo e os resultados não podiam estar a ser melhores: estamos já presentes em muitos hospitais e esperamos estar até ao fim de 2020 em 80% dos  hospitais (públicos e privados) de Portugal Continental e Ilhas.

Quais os vossos principais fornecedores?
Trabalhamos maioritariamente com fornecedores europeus.

“Infelizmente ainda não existem fabricantes dos nossos dispositivos em Portugal (…)”

Portugal é produtor dos dispositivos que comercializam?
Infelizmente ainda não existem fabricantes dos nossos dispositivos em Portugal, mas estamos atentos e sempre disponíveis para que quando existirem possamos ser parceiros e contribuir para o seu crescimento e para o crescimento do país.

Em termos de inovação, quais os países que estão a dar cartas na vossa área de atividade?
Penso que a China ainda está alguns anos à frente da Europa, mas já há algumas empresas nesta área que estão no bom caminho para daqui a uns anos serem concorrentes diretos do mercado asiático, seja na qualidade, seja no preço.

“(…) Podem ajudar  [as start-ups] a melhorar alguns setores da saúde que estão “adormecidos” com produtos inovadores (…)”.

Considerando as características e espírito inovador das start-ups, o que é que estas podem fazer pelo setor da saúde, concretamente aquele em que se inserem?
Acima de tudo podem acrescentar duas coisas importantes à experiência natural das empresas mais antigas: novas ideias e em parceria, podem ajudar a melhorar alguns setores da saúde que estão “adormecidos” com produtos inovadores, e claro podem trazer cada mais competitividade o que per si é um ganho claro para quem “compra”.

As inovações na área de healht tech têm sido uma constante nos últimos tempos. Como é que a Divisioncare está a acompanhar esta corrente de inovação?
Estamos sempre muito atentos aos mercados emergentes e esta área não é exceção. Temos um departamento de novos produtos e parceiros que acompanha todas as movimentações de potenciais produtos e parcerias que um dia possam vir a fazer parte do nosso portefólio.

“No meio desta terrível pandemia podemos já observar um avanço tecnológico enorme, por exemplo nas ferramentas digitais (…)”.

A questão da pandemia trouxe à tona o peso do setor da saúde na sociedade e na economia. Que tendências se anteveem para este mercado, em termos de inovação, aplicação de IA, etc…?
Acho que nesta altura temos todos de olhar para este vírus não só como algo terrível que abalou estrondosamente economias e sociedades, mas também como uma enorme oportunidade de parar e perceber que o que aconteceu em pleno século XXI vai com certeza voltar a acontecer e temos que estar mais e melhor preparados. Temos hipótese (e já estamos a fazer) de estudar este vírus e de colocar toda a sociedade científica a trabalhar e inovar para prevenir o impacto tão forte do próximo.

No meio desta terrível pandemia podemos já observar um avanço tecnológico enorme, por exemplo nas ferramentas digitais que oferecem soluções para lidar, com a restrição de mobilidade de médicos e pacientes, com a limitação para realizar exames e consultas de rotina e, ainda, com dúvidas sobre a melhor hora para ir ao médico ou ao hospital para tratar de algum sintoma não relacionado com a Covid-19.

Só por isto podemos claramente perceber que estamos e estaremos, como seres humanos, sempre disponíveis para lutar, unidos, contra “qualquer” vírus que nos tente derrotar.

Quais os planos da empresa para próximo ano? A internacionalização está na agenda?
Por agora pensamos apenas no mercado português e no muito que ainda temos para lhe dar.Temos apenas oito anos e antes de ir para “fora” temos, e queremos, que nos afirmar “cá dentro”. No nosso business plan está também incluído o plano gradual e sustentado de crescimento. Queremos ser uma empresa de referência nacional, seja em produtos, seja pela nossa fantástica equipa e em todo o seu contributo e ajuda ao cliente

Temos uma ambição enorme e uma força de vontade gigante e sabemos que se continuarmos neste caminho, seguindo estas diretrizes, e nem sempre tem sido fácil, vamos conseguir atingir todas as metas a que nos propomos e vamos claramente marcar a diferença seja profissional, seja pessoal junto daqueles que nos elegem para parceiros.

Respostas rápidas:
Maior risco:
 Perdermos o nosso “ norte” /objetivo=falhar
Maior erro: Algumas parcerias que poderiam ter sido danosas
Maior conquista: os 12 elementos que constituem a Divisioncare
Maior lição: se o nosso trabalho for bem feito, o resto acontece naturalmente!

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