Opinião

Motivar é possível? Arte ou ciência?

Sandra Silva, diretora-geral da Mary Kay Portugal

Pós férias… neste momento sente-se motivado? É comum ser difícil voltar a engrenar, a ter elevados níveis de energia e entusiasmo no regresso ao trabalho. A ter auto motivação, portanto. Mas quando temos equipas já não falamos só da nossa motivação. Falamos da motivação das nossas equipas para que a organização volte a entrar numa espécie de dança, de movimento gerador de sucesso.

O tema da motivação é um tema que encanta o meio corporativo desde há várias décadas pelas implicações diretas na produtividade, criatividade, inovação e por conseguinte vantagem competitiva e sucesso das organizações. É o ingrediente secreto para o sucesso.

Reconhecê-lo nas equipas e organizações é fácil. Basta observar nas empresas, como as pessoas sorriem e intervêm nas reuniões. É essa dose de entusiasmo, de adrenalina, de vontade de fazer acontecer e avançar, independentemente das dificuldades ou desafios. Por oposição, provavelmente também já tivemos em empresas ou situações onde é espantosa a falta de drive, a facilidade com que as pessoas desistem, limitando-se e às vezes nem isso, a fazer o que sempre fizeram. Nesses casos é muito provável que os resultados da empresa já estejam a sofrer.

Identificar se existe é fácil. O que já não é, nem parece tão fácil, é consegui-lo. Se fosse não se teria escrito e teorizado tanto, chegando mesmo até um certo misticismo, onde parece que a arte de motivar é reservado a uns quantos eleitos que partilham a sua fórmula secreta em caros workshops.

Será a motivação uma arte ou ciência? Um dom reservado a uns quantos ou pelo contrário um músculo que todos temos e por isso passível de ser treinado e desenvolvido? Indo ainda um pouco mais atrás de tudo isto.. será que conseguimos motivar alguém?

A minha experiência ensinou-me que é um músculo que pode ser treinado e desenvolvido.

A palavra motivação significa motivo em ação. Uma pessoa motivada tem motivos que a impelem à ação.

Por vezes confunde-se satisfação com motivação. E espera-se e pede-se que os fatores responsáveis pela satisfação hajam como fatores de motivação. Mas isso não é possível.

Para a satisfação contribuem fatores básicos como o salário, benefícios, segurança e ambiente de trabalho. São fatores externos que fazem com que as pessoas se sintam bem e libertas para dar o seu melhor no trabalho, mas por si só não motivam. Por isso se diz, por exemplo, que o efeito de um aumento salarial dura dias. Não me entendam mal. É essencial ser bem pago, ter um bom ambiente e sentir-se seguro, mas… não é suficiente para motivar, para nos levar ao nosso máximo potencial.

Quando falamos de motivação, falamos de algo mais profundo e interno. A motivação é intrínseca e intimamente ligada às nossas  necessidades, nomeadamente em contexto organizacional, de aprender, de realização e reconhecimento. É por isso necessário ao líder estar atento e saber o que cada pessoa da equipa gosta de aprender, o que a realiza para poder garantir que está na função certa, que é exposta a projetos e desafios que a permitem crescer porque capitaliza e expande nas suas forças e claro apoiar e reconhecê-la passo a passo. O líder necessita de ser um excelente observador, de aprender a fazer as perguntas certas e claro, ser um bom ouvinte!

É um trabalho subtil e profundo. Talvez por isso muitas vezes ganhe o cunho de arte ou de misticismo de que falava no início. Mas não o é. Por vezes vemos empresas com menos recursos, com menos sofisticação nos processos e tecnologia superar concorrentes com muitos mais recursos. Como é possível? Com equipas motivadas. É o je ne sais quoi das equipas de alta performance.

Por isso embora a motivação surja do interior das pessoas e ninguém possa motivar ninguém é essencial no papel do líder tentar despertar o botão de motivação de cada pessoa.

Se ainda não está no caminho de ativar o máximo potencial das pessoas da sua equipa, talvez setembro, mês de rentrée, seja o mês perfeito para começar, ou, de fazê-lo com mais consciência e intensidade.

Bom regresso!

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Sandra Silva

Sandra Silva

Sandra Silva é a diretora-geral da Mary Kay Portugal desde 2009, ano em que entrou para a companhia. Desempenhou um papel importante e fundamental tendo sido responsável pelo turnaround da empresa em Portugal. Liderou a importante renovação da estratégia de negócio implementada em todos os departamentos. Também é membro da Plataforma Portugal Agora. Antes de chegar à Mary Kay a experiência profissional de Sandra Silva centrou-se nas áreas das Vendas e Marketing em multinacionais de grande consumo. Começou na Johnson&Johnson,... Ler Mais..

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