Entrevista/ “O nosso modelo de negócio pode ser replicado da Índia para Portugal”
O especialista em e-commerce, cofundador de um serviço online de táxi para longas distâncias na Índia, defende que todos os negócios deveriam ter uma app ou um site para crescer.
Mohit Rajpal é cofundador da My Taxi India, uma start-up que oferece viagens intra e intercidades, serviço de transfer para o aeroporto e estação ferroviária, aluguer de carros para eventos, casamentos e conferências, aluguer de carros para turistas corporativos e para agentes de viagens na Índia.
Rajpal fundou a My Taxi India com outros dois sócios em 2012, tendo lançado uma plataforma online, onde é possível verificar a disponibilidade dos mais de 12 mil táxis que circulam em cerca de 120 cidades indianas. A My Taxi India já foi convidada pelo Google para fazer parte do seu primeiro StartupBootCamp, em Bangalore.
Do seu curriculum, fazem também parte empresas ligadas ao turismo e à marcação de viagens online na Índia, como a Goibibo, Yatra e Musafir. “Todos os negócios deveriam ser acompanhados de uma app ou de um site, porque o e-commerce é a chave. Trabalho no e-commerce há mais de dez anos, sei muito bem como funciona este negócio e como o fazer crescer para o nível seguinte”, contou o especialista em e-commerce, em entrevista ao Link To Leaders, durante a Web Summit.
Em que consiste a My Taxi India? É a UBER da Índia?
A My Taxi India é um serviço de táxi para longas distâncias por todo o país, com base numa plataforma tecnológica que permite verificar, no momento, a disponibilidade de um táxi, obter a confirmação imediata com informação sobre o condutor e acompanhar o percurso em tempo real, no mapa da app. Por exemplo, se quiser ir de uma cidade para outra, é à My Taxi India que deverá recorrer. Estamos sediados na Índia e cobrimos 120 cidades do país, com mais de 12 mil táxis e estamos operacionais em mais de 10 mil estradas. Recebemos financiamento do GHV Accelerator & Nihon Kotsu, do Japão, e já levantámos 1,1 milhões de dólares (cerca de 1,04 milhões de euros) até ao momento.
Qual o vosso modelo de negócio?
Temos um modelo de afiliados que opera por todo o país. As pessoas conseguem saber, através do site, os táxis que estão disponíveis nesse momento e, mesmo, definir os itinerários que querem seguir. Mas o nosso modelo de negócio não é apenas para a Índia. Podemos lançá-lo também em Portugal, na Europa… O que se mantém igual é a nossa tecnologia, que é o aspeto-chave do nosso negócio. Para onde quer que formos, só temos de analisar o mercado e seguir a direção de que este está a necessitar.
O que pensa do e-commerce em termos de evolução futura?
O e-commerce é o futuro e a Índia já viu e fez essa mudança. Somos o segundo maior a operar em e-commerce em termos de rede de negócios. Toda a gente tem um smartphone. Acho que no e-commerce tudo gira à volta da comodidade. Por que é que se tem de sair de casa e ir buscar as coisas às lojas, quando se pode apenas mandá-las vir através de uma app? É um negócio de conveniência que tem ainda um longo caminho para percorrer, mas que está em franco crescimento na Índia.
E em Portugal?
Vejo que há muitas start-ups a virem para Portugal e o governo português tem estado a apoiar, o que é uma boa estratégia. Vejo em Lisboa que, quando as lojas fecham, tudo para e não deveria ser assim. Deveriam ter uma app que permitisse aos clientes continuarem a fazer as suas encomendas, depois da hora de expediente. Por isso, depois sentem dificuldades e não deveria ser assim. Mesmo para os táxis, deve haver sempre uma app em que eu possa agendar um serviço. Quando quero um táxi em Lisboa, tenho de vir para a rua e ver se encontro um ou telefonar, o que não deveria estar a acontecer. Todos os negócios deveriam ser acompanhados de uma app ou de um site, porque o e-commerce é a chave. Trabalho no e-commerce há mais de dez anos, sei muito bem como funciona este negócio e como o fazer crescer para o nível seguinte.
Quais são os segredos do e-commerce que pode partilhar?
Depende do produto que estamos a vender. Devemos ter um produto fantástico e muito fácil de usar. O preço é um fator a ter em conta. Se o produto é bom, o preço sobe. Isto, se conseguir revolucionar o serviço, comunicá-lo. Podemos ter um produto fantástico e com bom preço, mas, se não o comunicarmos, os outros não vão saber que existe nem como o usar. É aí que surge a estratégia de marketing que devemos seguir. Quer seguir o caminho de criar marcas ou não? Se não quer, deverá apostar mais em parcerias. É preciso fazer espalhar a palavra sobre o seu produto. É isso que se deve fazer e que temos estado a fazer na Índia.
É fácil criar uma start-up depois de identificar uma oportunidade?
Não nos levantamos um dia e pensamos se queremos ser ou não empreendedores. Se tiver uma boa ideia, deverá falar com cerca de 100 pessoas e pedir-lhes a sua opinião sincera. Se as opiniões que lhe derem, forem realmente sinceras, estará a aumentar as probabilidades de a start-up ser bem-sucedida. Não é só pensar se é uma boa ideia. É preciso pensar também como fazer dinheiro com ela e no dinheiro que terá de investir em marketing, para a levar a bom porto. Só então deverá avançar.
Como descreve os empreendedores da Índia?
Na Índia, encontramos um empreendedor a cada segundo. É uma loucura. Em cada 100 que abrem, 90 fecham e só 10 sobrevivem. Ser empreendedor é como andar numa montanha russa. É preciso estar muito confiante com o que se vai lançar, ter muito foco, porque vai andar num carrossel de emoções, de altos e baixos, falar com imensos investidores sobre a sua start-up, até conseguir que um invista. Mas deve ser sempre muito confiante do caminho que está a percorrer. Um empreendedor deve ser detentor da sua empresa, ansiar que a sua empresa venha a valer um milhão e manter-se sempre focado.
Investiria em start-ups em Portugal?
Portugal é um nicho de mercado. A Índia tem um potencial de crescimento imenso. O ecossistema português está no seu início, onde a Índia estava há 7 anos. Acho que há aqui muitas oportunidades e que as pessoas devem vir e arriscar. A minha única preocupação é a população, que é muito pequena. Quando lançamos um negócio, temos de pensar em escalá-lo e isso falta aqui.
Onde pensa que mais se falha nos negócios?
Ninguém quer falhar, mas há certas situações em que temos de o aceitar. Há exemplos na Índia, como os das mercearias que têm vindo a fechar. Tenho muito respeito por estas pessoas que, em vez de estarem a tentar trazer investimento para continuar o negócio, tomaram a decisão mais difícil, em vez de reformular os seus projetos. Quando se abre uma loja, não o fazemos com a ideia de que vamos falhar. Às vezes, acontece. Às vezes, sabemos que existe um mercado, mas não temos dinheiro suficiente para investir e, por isso, pensamos em fechar. Às vezes, temos uma enorme concorrência e não conseguimos sobreviver, por causa do dinheiro que temos disponível e fechamos. São coisas que só sabemos quando acontecem.
A My Taxi India foi o pitch vencedor do evento da RISE de 2016, em Hong Kong, tendo sido selecionada entre cerca de 1000 realizados, depois de três eliminatórias. Em que é que este reconhecimento se traduziu ao nível da empresa?
Sim, depois do evento da RISE, ganhámos muita visibilidade junto dos investidores e estamos mais confiantes de que estamos a fazer tudo da forma certa. Afinal, fomos escolhidos de entre muitas centenas de start-ups!
O investimento de capital de risco estrangeiro em qualquer start-up indiana passou recentemente a não exigir aprovação prévia do Reserve Bank of India. O que pensa desta medida?
Penso que é uma boa medida para o ecossistema e um bom incentivo para os investidores estrangeiros. A Índia é, neste momento, “o” mercado, por toda a sua massa populacional. Toda a população de Lisboa não corresponde a mais de dois bairros de Deli. A população é a chave para escalar o negócio e o investidor sabe que, ao investir, ali verá o crescimento acontecer.