Entrevista/ “O mercado português ronda os 500 milhões de euros”

Sergi Bastardas, COO da The Colvin Co.

Da “terra para o vaso” é o lema que move a start-up espanhola Colvin que se dedica ao comércio de flores há pouco mais de um ano e meio. Agora está de olhos postos no mercado português, que avalia em 500 milhões de euros, e onde tem como investidor único a Busy Angels. Sergi Bastardas, um dos cofundadores, explica o projeto e os planos para Portugal.

Como é que a Colvin chegou a Portugal?
Entrámos no mercado português por três grandes motivos. Em primeiro lugar, era um passo natural na nossa estratégia pela posição geográfica. Além disso, contamos com um investidor português, a Busy Angels, que nos apoiou neste passo. Por fim, o próprio mercado português é um mercado muito promissor, o seu valor ronda os 500 milhões de euros. Sentimos que nos conseguiríamos diferenciar no mercado português devido à nossa oferta de valor acrescentado. Trazemos inovação e comodidade através da plataforma online, o que vai ao encontro das necessidades do consumidor atual. Estamos a atuar num mercado bastante fragmentado e muito focado no retalho físico.

Como é que a Busy Angels entra no projeto? Há mais investidores locais associados à Colvin?
Desde novembro de 2016, levantamos €2,7M em três rondas. A Busy Angels juntou-se a nós na última ronda, sendo um dos apoiantes da nossa entrada em Portugal. Atualmente é o nosso único investidor português.

Qual o modelo de negócio da plataforma em Espanha?
Nós vendemos flores diretamente para os consumidores, quer seja num único pedido, quer seja através de assinatura. Assim que o pedido é feito pelo cliente, compramos diretamente da fonte, o produtor, eliminando intermediários da cadeia de fornecimento e pagando aos produtores pelo produto. Para a composição dos bouquets, temos também ateliers que preparam os melhores bouquets com as flores mais frescas.

Vai ser replicado em Portugal ou sofrer adaptações ao mercado português?
O modelo de negócio será replicado em Portugal. De momento ainda não temos produtores portugueses. Planeamos juntá-los à nossa lista de fornecedores nos próximos meses. Vamos fazer parcerias.

Quais os números alcançados em Espanha? Vendas, faturação…
É política da empresa não divulgar estes números.

Quais têm sido as principais “dores de crescimento” da Colvin?
Operamos num mercado desafiante, com um produto perecível e com forte ligação emocional. Temos crescido porque criámos uma marca digital que os consumidores gostam e porque oferecemos a melhor experiência com a melhor relação preço/qualidade como os nossos principais ativos. Eu diria que os principais desafios são internacionalizar a empresa de maneira eficiente e crescer rapidamente em novos países.

O público português já está familiarizado com a possibilidade de comprar flores online?
As compras online estão a crescer muito rapidamente, verificando uma penetração de 58%, em 2018, e uma previsão de 75,8%, em 2022. Face a esta tendência, assumimo-nos como um serviço online que quer chegar aos millennials.

Uma vez que se trata de um produto rapidamente perecível, de que forma a Colvin assegura o envio em tempo útil ao cliente?
O processo de distribuição de flores comum exige vários intervenientes e, como tal, apresenta mais custos, causa mais desperdícios e demora mais tempo. Geralmente, a distribuição normal envolve produtores, importadores, exportadores, logística internacional, distribuidor local e retalhista local até que as flores cheguem às mãos do consumidor final. Este processo decorre entre 9 a 16 dias desde o momento em que a flor sai da terra até chegar às mãos do consumidor, reduzindo o período de vida da flor em vaso. Os custos são seis vezes mais do que se o consumidor adquirisse diretamente ao produtor e o desperdício verificado neste processo é 50% superior.

Analisámos este processo e identificámos várias oportunidades de otimização. A Colvin com o seu conceito “da terra para o vaso” pretende precisamente encurtar significativamente esta cadeia de distribuição onde são envolvidos apenas Colvin  entre o produtor e o consumidor final, correspondendo a um período entre 2 e 4 dias. Esta solução permite reduzir o custo em metade, quando comparado com o processo comum, e aumentar o período de vida da flor em vaso. Desta forma, quem receber as flores poderá desfrutar durante muito mais tempo da “magia das flores”.

Apresentámos um modelo de negócio disruptivo e ganhámos a confiança de investidores em rondas de investimento.

Ao fim de um ano de atividade como conseguem estar já em Portugal e Itália, para além de Espanha?Apresentámos um modelo de negócio disruptivo e ganhámos a confiança de investidores em rondas de investimento. Essa aposta no nosso trabalho deu-nos capacidade financeira e know-how local para expandir para esses territórios.

Mais algum mercado em perspetiva?
Neste momento, estamos focados em consolidar a presença em Espanha e em ter um lançamento bem sucedido em Portugal e Itália. Temos planos para, num futuro próximo, entrar em França e Reino Unido.

Qual principal fonte de financiamento da start-up?
A nossa principal fonte de financiamento tem sido o capital que levantámos junto de venture capital. Levantámos capital logo após quatro meses de operação, graças à rápida tração.

Como nasceu este projeto em Espanha e qual a equipa que esteve na origem da start-up?
A Colvin é uma start-up que pretende mudar e dinamizar o setor das flores de corte, apostando na qualidade e no design a um preço competitivo, e numa melhor experiência para o consumidor.

A ideia surgiu no verão de 2016 quando nos apercebemos de que a experiência da compra de flores permanecia a mesma há décadas. Esta falta de inovação traduzia-se em poucas ofertas online de floristas, bouquets pouco personalizados e muito caros que duravam apenas 3 a 4 dias, e uma atenção às necessidades do cliente muito reduzida. Assim, decidimos revolucionar o setor criando uma plataforma online que permite de forma fácil, rápida e intuitiva pedir flores e ligar diretamente o produtor ao utilizador.

Quem criou o projeto?
Os três cofundadores – Andrés Cester (CEO), Marc Olmedillo (CMO) e eu, Sergi Bastardas (COO), ex-colegas na ESADE (Business & Law School). Assumiamos cargos de gestão em empresas como a Amazon, Citigroup e GSK, e abandonámos os empregos para investir na Colvin. A Colvin foi oficialmente fundada em novembro de 2016 e lançada em janeiro de 2017 e, em apenas um ano, multiplicou a sua faturação por 10. Atualmente, conta com 30 colaboradores e tem o objetivo de continuar a crescer e expandir a “magia das flores” Colvin a nível internacional.

O que os torna diferentes?
A Colvin aposta na frescura, qualidade e preços acessíveis, por isso encarregamo-nos de assegurar que as flores sejam as melhores e sejam entregues nas melhores condições. A equipa seleciona as flores na origem, corta no momento em que o pedido é feito e depois são enviadas diretamente para o destino. Deste modo asseguramos que as flores chegam sempre frescas e duram mais tempo. Além disso, as flores são enviadas em botão para proteger as pétalas delicadas ao longo da viagem, permitindo que o consumidor tenha mais tempo para desfrutar delas. Ao não envolvermos intermediários no processo de distribuição, reduzimos o tempo entre o corte e a chegada ao consumidor, entregando flores muito mais duradouras e a um preço competitivo.

Além da qualidade e preço do produto, a Colvin diferencia-se também pelo design moderno dos bouquets. Tivemos em consideração que a experiência do consumidor é um fator crucial e investimos num modelo que dá assistência ao consumidor durante e após a entrega da encomenda, assegurando a sua satisfação.

Adicionalmente, oferecemos o modelo de subscrição, que permite ao consumidor receber semanal, quinzenal ou mensalmente um bouquet de flores. Estamos constantemente a trabalhar e a inovar com novos modelos de negócios para tornar mais conveniente para os apaixonados por flores comprarem e receberem flores.

Queremos ser o líder europeu no mercado de flores, que está avaliado em 30 mil milhões de euros…

Qual o tipo de produto mais procurado?
Depende da época. A magia das flores é que elas são sazonais, temos sempre novas flores a chegar e flores saindo, mas se tivesse que escolher uma, as rosas têm sido as principais escolhas desde sempre e as peónias são a nova princesa amada!

Que desafios esperam a Colvin no mercado português?
O principal desafio será construir rapidamente o reconhecimento da nossa marca e fazer com que os utilizadores portugueses vejam como a Colvin oferece um ótimo serviço.

Até onde vão os vossos sonhos de empreendedores?Queremos ser o líder europeu no mercado de flores, que está avaliado em 30 mil milhões de euros, e estamos no caminho certo, por isso esperamos que os sonhos e a realidade se alinhem.

Comentários

Artigos Relacionados