Opinião

Mais do que férias: porque a natureza e a biodiversidade são essenciais para os negócios

Isabel Barros, presidente do GRACE – Empresas Responsáveis*

O verão chegou e, com ele, regressa a vontade de abrandar e de usufruir do ar livre. As férias são, para muitos de nós, o momento do ano em que contactamos mais intensamente com a natureza, seja num mergulho refrescante ou numa caminhada por trilhos rodeados de árvores.

Mas este contacto renovador com a natureza recorda-nos também que ela não é apenas cenário para o nosso descanso – é um sistema vivo, essencial à vida humana e cada vez mais vulnerável.

Preservar a natureza implica reconhecer o seu valor intrínseco, mas também o seu valor para o nosso bem-estar, saúde e economia. Em Portugal, deparamo-nos diariamente com sinais de degradação ambiental: zonas costeiras em erosão, incêndios florestais devastadores e perda de habitats que reduzem a diversidade de espécies vegetais e animais. Este fenómeno de perda de biodiversidade é global, mas tem impactos locais profundos: compromete serviços essenciais como a purificação da água, a qualidade dos solos, a polinização e até a resiliência das comunidades face a fenómenos climáticos extremos.

Apesar de, à primeira vista, a natureza e a biodiversidade parecerem temas distantes do dia a dia corporativo, a realidade é que cada vez mais organizações reconhecem as suas dependências e impactos sobre os ecossistemas, seja de forma direta ou indireta. A produção agrícola e alimentar, o sector têxtil, a hotelaria e turismo, a construção, entre muitos outros, dependem de matérias-primas, água, qualidade dos solos, clima estável e serviços ecossistémicos que só sistemas naturais saudáveis conseguem garantir.

Assim, preservar a natureza e promover a biodiversidade não é apenas uma questão ética ou de sustentabilidade ambiental – é um tema estratégico de gestão de riscos e criação de valor a longo prazo.

Neste verão, ao sentirmos a serenidade que a natureza nos proporciona, é importante refletir sobre como podemos, individual e coletivamente, contribuir para a sua preservação.

Enquanto organizações, este compromisso implica compreender onde estão os principais impactos e dependências, incorporar critérios de biodiversidade nas estratégias de sustentabilidade, definir objetivos e ações concretas, integrar princípios de gestão de ecossistemas nas cadeias de valor e promover soluções baseadas na natureza. São passos exigentes, mas cada vez mais esperados por todas as partes interessadas.

Reconhecendo esta relevância, no âmbito do GRACE – Empresas Responsáveis, a biodiversidade foi identificada como um tema material. Com o CIBIO e com a NBI enquanto knowledge partners, foi constituído um cluster que está a trabalhar no desenvolvimento de ferramentas que permitam às empresas evoluir neste caminho: desde instrumentos de avaliação de impactos e dependências, até conteúdos formativos e orientações práticas que suportem uma gestão mais integrada e consciente dos recursos naturais e dos serviços ecossistémicos.

Em síntese, este verão, ao desfrutarmos da natureza, lembremo-nos de que a sua preservação é essencial não apenas para o nosso descanso, mas também para a sustentabilidade dos negócios, das comunidades e da vida como a conhecemos.

*Em representação da Sonae SGPS

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Isabel Barros

Isabel Barros

Isabel Barros, licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, e com um MBA Executivo, da EADA Business School Barcelona e da Nagoya International School Japan, é administradora executiva da MC Sonae com os pelouros de Transformation, People and Sustainability. Foi presidente da APED de 2019 a 2022 onde marcou a agenda do retalho nos temas da sustentabilidade com bandeiras como o combate ao desperdício alimentar e roteiro para a descarbonização do setor. Em igual período foi também vice-presidente da Comissão... Ler Mais..

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