Mais de metade dos portugueses esconde orientação sexual no local de trabalho

De acordo com as conclusões do estudo Diversity at Work 2021, realizado pelo ManpowerGroup, 51,89% dos portugueses consideram mais benéfico esconder a sua orientação sexual numa entrevista de emprego.
A primeira edição do estudo Diversity at Work do ManpowerGroup mostra como os trabalhadores ainda têm constrangimentos em abordar o tema da orientação sexual. Apenas 34% dos profissionais portugueses entrevistados e 41% do universo da comunidade LGBTQI+ sente abertura para revelar a sua orientação sexual no seu entorno laboral.
Este valor coloca Portugal a meio da tabela europeia, já que, em polos opostos, estão a Espanha – 48% dos trabalhadores espanhóis afirmam ter abertura para assumirem a sua orientação sexual em contexto laboral – e a República Checa – com 30% dos inquiridos no estudo a partilhar o seu estatuto com os seus colegas.
Em Portugal, 51,89% do total dos inquiridos, quer sejam ou não pertencentes à comunidade LGBTQI+, acreditam ser mais benéfico para o candidato esconder a orientação sexual ao longo de um processo de recrutamento. Este dado cai, porém, no que diz respeito apenas às respostas dos membros da comunidade, sendo que 41,39% têm a mesma convicção.
Portugal é o segundo país em que mais pessoas acreditam ser este o caminho benéfico para o candidato. No entanto, são os portugueses quem mais assume já ter ocultado intencionalmente a sua orientação sexual, durante entrevista de emprego, com um valor de 45,58%.
Ainda em contexto laboral, 23% dos trabalhadores nacionais afirmam já ter sido alvo de discriminação numa entrevista de emprego devido à sua orientação sexual, valor apenas ultrapassado por Espanha, onde esta realidade já foi sentida por 24,63% dos respondentes. No polo oposto está a Suíça, com 11,76% dos seus inquiridos a terem-se sentido, no passado, discriminados durante um processo de recrutamento.
Políticas LGBTQI+ e de diversidade cada vez mais valorizadas
Questionados sobre se a escolha de novas oportunidades de emprego passa também pelas políticas LGBTQI+ existentes em cada organização, 35,98% dos entrevistados portugueses assumiu que sim. Este valor, que demonstra a importância deste tema para os candidatos, assume-se como o segundo mais elevado em contexto europeu, apenas ultrapassado por Itália, onde 41,31% coloca estas políticas como prioritárias no seu processo de decisão.
Em relação às políticas existentes nas empresas nacionais, atualmente, 26,67% reconhece haver ações direcionadas às mulheres e 17,88% a pessoas com deficiência. 11,73% refere a implementação de programas destinados a profissionais com diferentes etnias e origens e 8,48% a pessoas de idade superior. No intermédio estão 12,7% dos inquiridos, que dizem existir políticas para inclusão da comunidade LGBTQI+ nas organizações onde trabalham. Por último, 20,3% dizem não existirem quaisquer políticas de diversidade nas organizações onde operam, independentemente do seu tipo.
O estudo conclui ainda que mais de metade dos entrevistados nacionais – 59,52% -, dizem já ter assistido a comportamentos não inclusivos no seu local de trabalho, tais como piadas sobre a comunidade LGBTQI+. Apesar de elevado, este valor é ultrapassado pela realidade italiana e espanhola, onde 62,57% e 63,69% dos trabalhadores, respetivamente, já assistiram a tais incidentes em contexto laboral.
Ainda de acordo com o estudo, a maioria dos inquiridos nacionais – 62,35% – consideram que um dos benefícios de assumirem a sua orientação sexual é o aumento da sua produtividade no seu local de trabalho. Este valor é mesmo o mais elevado do estudo, seguindo-se o de 57,75% dos profissionais da República Checa e de Espanha com 50,18%. Em linha, estão 79,22% de todos os inquiridos portugueses e 81,6% dos respondentes LGBTQI+ que consideram que um ambiente de trabalho diverso é mais produtivo.
A análise do ManpowerGroup confirma também que os novos modelos de trabalho impactam o grau de inclusão no local de trabalho em geral e, em particular, das pessoas LGBTQI+. Assim, quase metade dos inquiridos (47,8%) afirmam ter experimentado, em diferentes graus, uma maior inclusão dentro da empresa. Contudo, 39% a nível global e 33% em Portugal pensam que será mais difícil mostrar abertamente a sua orientação sexual ou identidade de género num ambiente remoto ou híbrido.
Os dados do estudo foram recolhidos através de quase 4800 respostas em 14 países (Áustria, República Checa, Alemanha, Grécia, Hungria, Israel, Itália, Portugal, Romênia, Eslováquia, Espanha, Suíça, Turquia e Reino Unido).