Mais de metade dos jovens portugueses portugueses teme reforma sem estabilidade financeira

Mais de metade dos Millennials e da Geração Z acredita que não vai conseguir poupar o suficiente para a reforma. Desalinhamento com chefias é muito pronunciado.

Mais de metade dos jovens portugueses receia não conseguir poupar o suficiente para garantir conforto financeiro na reforma. Entre os Millennials, este receio atinge 60%, contra 44% a nível global; na Geração Z, é de 54%, enquanto a nível global é de 41%. Estes números evidenciam uma preocupação acentuada dos jovens com o seu futuro financeiro a longo prazo, num contexto em que mais de metade dos jovens portugueses (52% dos Millennials e 54% da Geração Z) vive de salário em salário. Um número considerável diz ainda ter dificuldades em fazer face a todas as suas despesas básicas a cada mês – 41% dos Millennials e 38% da Geração Z.

Os dados fazem parte do Gen Z and Millennial Survey 2025, um estudo realizado pela Deloitte a partir de um inquérito a jovens de todo o mundo, incluindo Portugal, da Geração Z e Millennial, que analisa as mudanças nas expectativas e experiências profissionais e sociais destas gerações.

Outras preocupações destacadas pelos jovens portugueses incluem a saúde mental (25% dos Millennials e 21% da Geração Z) e a instabilidade política e conflitos geopolíticos internacionais (opção que tem vindo a registar subidas desde 2023, com 24% para os Millennials e 27% para a Geração Z). A saúde mental é um tema relevante para estas gerações: 45% da Geração Z e 50% dos Millennials em Portugal afirmam sentir-se stressados ou ansiosos a maior parte do tempo. No mesmo sentido, o futuro financeiro a longo prazo é a principal fonte de ansiedade e stress para 55% dos jovens das duas gerações.

O estudo revela ainda que 53% dos Millennials e 40% da Geração Z em Portugal decidiu não prosseguir estudos no ensino superior devido a limitações financeiras, valores superiores aos globais (32% e 31%, respetivamente). O custo elevado das propinas é a maior preocupação dos jovens portugueses quanto ao sistema do ensino superior (para 45% dos Millennials e 39% da Geração Z), seguido pela relevância dos currículos face ao mercado de trabalho e a qualidade do ensino.

Perante estas dificuldades, muitos jovens valorizam competências que podem ser desenvolvidas fora do percurso académico tradicional: 60% dos jovens portugueses da Geração Z e 45% dos Millenials dizem estar a desenvolver pelo menos uma vez por semana competências fora das suas universidades para progredir na carreira. As soft skills são as mais valorizadas pelos jovens para a progressão na carreira (87% dos Millennials e 90% da geração Z), acima das capacidades técnicas diretamente relacionadas com a profissão (77% e 81%, respetivamente).

As ambições de carreira dos jovens também estão a mudar: 27% dos portugueses da geração Z e 46% dos Millennials já não estão a trabalhar no setor ou na carreira que inicialmente pretendiam. Como principal razão para estas mudanças surge a existência de melhores condições e disponibilidade do mercado de trabalho (para 49% dos Millennials e 46% da Geração Z – números que contrastam com 33% e 32%, respetivamente, a nível global. Em segundo lugar está a possibilidade de horários mais flexíveis e de um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Saúde mental e ambiente profissional

O inquérito revela que 29% da Geração Z e 33% dos Millennials em Portugal afirmam que o seu trabalho é um fator que contribui muito para os seus sentimentos de ansiedade ou stress. A principal causa é a sensação de falta de reconhecimento ou recompensa adequada pelo trabalho que é feito (59% dos Millennials e 58% da Geração Z em Portugal). Seguem-se as horas laborais excessivas e a cultura tóxica no local de trabalho. No entanto, face a estas preocupações, apenas 44% dos Millennials e 54% da Geração Z afirmam que a sua entidade patronal leva a sério a saúde mental dos trabalhadores (face a 61% e 62% a nível global).

Em relação ao papel das chefias, há um desfasamento entre as expectativas e a realidade: para a Geração Z, as maiores discrepâncias entre o que esperam dos seus managers e o que realmente experienciam dizem respeito à prestação de orientação e apoio à equipa (70% consideram importante, mas apenas 27% referem tê-lo na prática) e à capacidade de inspirar e motivar (60% vs. 21%). Também entre os Millennials estas duas dimensões lideram o desfasamento: 72% valorizam o apoio à equipa, mas só 31% o reconhecem no dia a dia, e 68% destacam a importância de serem motivados, contra apenas 24% que sentem esse estímulo por parte dos seus gestores. Além disso, em ambos os grupos os gestores são percebidos como mais presentes nas tarefas diárias do que seria desejado, o que pode refletir microgestão em vez de liderança estratégica.

Utilização da inteligência artificial

O uso da inteligência artificial generativa está cada vez mais generalizado, com 54% da Geração Z e 48% dos Millennials em Portugal a afirmarem utilizar a GenAI no seu trabalho diário. 17% da Geração Z e 7% dos Millennials afirma já ter concluído a formação em GenAI, e um número mais elevado – 29% da Geração Z e 34% dos Millennials – planeia fazê-lo nos próximos 12 meses.

A análise de dados, estratégia e criação de conteúdos são as principais aplicações desta tecnologia, com uma grande parte dos inquiridos (66% dos Millennials e 80% da Geração Z) a referirem que esta lhes permite poupar tempo e ter um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, ou que lhes permitiu melhorar a sua produtividade (72% dos Millennials e da Geração Z). Por outro lado, surgem também preocupações: 57% dos Millennials e 61% da Geração Z admitem procurar oportunidades de trabalho que sejam menos vulneráveis à automação.

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