Opinião
Quando o exemplo não vem de cima
Desde o último congresso do CDS que não me esqueço das palavras do Sr. Prof. Adriano Moreira quando o mesmo disse sobre “a pesada herança” para as gerações seguintes “comigo a culpa não morre solteira” e mais quando afirma que “provavelmente não fizemos tudo o que estava ao nosso alcance”
Hoje, passadas já largas semanas destas frases, só as vejo como um pedido de desculpas à geração da políticos e dirigentes associativos que nos deixou e que são hoje as referências únicas e reles da nossa sociedade.
E é tudo uma questão de liderança e de exemplo. Querem ver?
Que legado esperamos nós deixar aos jovens e crianças de hoje quando:
1- Um presidente da República deixa que a nossa bandeira seja hasteada de pernas para o ar durante uma cerimónia pública. Será que foi uma forma de simbolizar o estado real do nosso país?
2- Um primeiro-ministro, supostamente engenheiro, que não sabe distinguir o IVA do IRS, arrastou consigo toda uma teia gigantesca de corrupção, mente com todos os dentes que tem na boca e mais alguns dos nossos e, ainda assim, é idolatrado por muitos;
3- Um ex-ministro, com nome de relvado, falsifica licenciaturas para talvez se achar mais importante e continua levemente a passear o seu pedantismo;
4- Um presidente de Câmara é condenado a pena de prisão por corrupção, volta e é reeleito;
5- As televisões dão mais tempo de antena a presidentes e adeptos de futebol do que a músicos, médicos, investigadores, atletas, cientistas e artistas;
6- Um presidente de um clube de futebol, bajulado pelos nossos políticos e distribuidor de bilhetes, se dirige a uma Assembleia Geral a quem presta contas com palavrões, insultos e em ordinário calão;
7- Deputados mudam moradas para receber mais uns trocos sobre viagens que não fazem, assim tipo como quando se apanhava garrafas com depósito para ir receber uns trocos nas mercearias;
8- Maníacos que pegam fogos a florestas e depois de provados os crimes saem em liberdade mas nós é que somos os culpados se não limparmos o mato;
9- Passados uns anos, outra vez, um vice-presidente recém-eleito de um mesmo partido é apanhado novamente com licenciaturas falsas (este não aprendeu mesmo nada ou não tem internet em casa);
10- Empresas poluentes que matam milhares de peixes levam repreensões escritas do tribunal mas o pescador lúdico individual é autuado pelas autoridades por pescar um peixe abaixo do calibre permitido;
11- Um presidente da Assembleia da República se está “cagando no segredo de justiça”;
12- Um presidente da Assembleia da República se indigna mais com a violência de uma claque desportiva do que a corrupção dos políticos;
13- Os condenados por corrupção continuam ao fresco e a malta é que se esfola para pagar os impostos escondidos em gasolinas e meter mais dinheiro nos bancos que eles estoiraram;
14- Um governo e um parlamento querem cuscar quem tem mais de 50 mil no banco mas não nos querem dizer quem deve milhões ao banco que é nosso;
15- E por fim, e para não ser muito mais chato, quando ainda há quem diga que levar um país a uma banca rota é, imaginem só………….. “um legado positivo”.
Sr. Professor Adriano Moreira, se era por isto que nos pedia desculpa acredite que vamos ter que ter muita clemência para o perdoar.
Mas pior ainda, é que com estes exemplos que não vêm de cima o que está para vir é bem pior e depois vai ter que ser a minha geração a pedir ainda mais desculpa por nada ter feito e se ter deixado embalar neste circo e nesta fantochada.
Mas pronto, falta pouco menos de um mês para o Mundial de Futebol e daqui a uns dias somos os maiores outra vez. Durante esse tempo não vai haver corrupção, violência, fogos ou licenciaturas para averiguar, vamos estar preocupados sim, com as unhas do Ronaldo e o que ele comeu ao pequeno-almoço, almoço e jantar. E se perdermos não faz mal porque a seguir vem o Verão e somos sempre os maiores em vitórias morais e em sair das coisas de cabeça levantada porque Homens que pedem desculpa já há poucos, ou já não há, e esses são do tempo do Sr. Professor Adriano Moreira.
Da minha parte não quero chegar ao fim e dizer que podia ter feito mais.
A memória dos passados e o futuro dos presentes merece mais do que um pedido de desculpas deixado para os últimos dias das nossas vidas.